Com mototaxistas apagados por aplicativos, tem quem resista de domingo a domingo
A categoria que já atingiu a marca de 600 profissionais, hoje, tem 200 rodando por Campo Grande
“Tem que trocar o almoço pela janta”. Celso Escalante, de 69 anos, mostra como está difícil se manter na profissão de mototaxista, trabalhando das 5h às 19h, de domingo a domingo. "Pelo jeito que está, os mototáxis vão acabar”, sentencia.
RESUMO
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Em Campo Grande, a profissão de mototaxista, outrora essencial, está em declínio devido à concorrência dos aplicativos de transporte. Mototaxistas como Celso Escalante (69 anos) e Demendes Oliveira (50 anos) lutam para sobreviver, combinando o trabalho tradicional com aplicativos ou outras atividades, como motorista de caminhão, para compensar a queda drástica na renda. A redução no número de profissionais, de 600 para 200 em anos recentes, reflete a situação precária da categoria, agravada por taxas e impostos, enquanto os aplicativos operam com menor regulamentação. A resistência dos mototaxistas mais antigos se deve à falta de alternativas e ao vínculo profissional de longa data com a atividade.
Há pelo menos 5 anos era impossível andar nas ruas de Campo Grande e não ver mototaxistas levando passageiros, ou parados, só esperando a próxima chamada. Hoje, os que sobraram são vistos sentados, com chamadas espaçadas.
Eles eram considerados os salvadores para compromissos de última hora, ágeis e com preço mais em conta. A profissão ainda existe, mas, aos poucos, tem sido extinta pelos aplicativos de moto.
Para se adaptar à realidade, Celso, que está há 25 anos na profissão, optou por migrar para um dos aplicativos de viagem. “Já foi bom, agora os aplicativos tomaram conta. Quando não dá para vencer o concorrente, junte-se a ele, e estou fazendo para complementar. Mas pelo jeito que está, os mototáxis vão acabar”, destaca. Das 5h às 9h começa pelo aplicativo, depois passa a trabalhar como mototáxi até às 19h.
Também reconhece a situação da profissão e sonha um dia em deixar de lado. “Eu tento a sorte, jogo para quando rolar um dinheiro eu cair fora”, diz aos risos.
Demendes Oliveira, de 50 anos, tem enfrentado o mesmo sentimento e já considera a profissão como um freelancer. Ele atua há 10 anos.
“Essa profissão está saindo como bico, porque se for usufruir só do mototáxi não tem condição mais. Uma corrida nossa que é 20, no aplicativo é 9 reais. Não é compatível com a realidade”, pontua.
Ele também faz diária como motorista de caminhão, conseguindo tirar R$ 230 por dia. Como mototaxista, Demendes diz que a média é de R$ 120, mas “tem que ser bem trabalhado mesmo para tirar isso”, ressalta. Além disso, também precisa pagar internet no ponto e comprar a própria água e gelo. Há 5 anos, Demendes diz que tirava R$ 200 por dia de lucro.
Ele acredita que ser motorista de aplicativo acaba ganhando pouco e a manutenção é mais cara. “Vai receber menos, o aplicativo roda mais, e mototaxista recebe menos corrida. Virei motorista de caminhão depois que vieram os aplicativos, faz 2 anos. É complicado. Não está fácil, aí veio o aplicativo, é tudo sem despesa, não paga imposto, pega em qualquer lugar”, lamenta.
Tudo mudou - A categoria que já atingiu a marca de 600 profissionais, hoje, tem 200 sendo resistência na Capital, redução de 66,6%.
O presidente do Sindmototáxi (Sindicato dos mototaxistas) de Campo Grande, Caburé Boa Ventura, reconhece como “decadente” a atual situação da profissão.
“Campo Grande foi pioneira na regulamentação do taxímetro, agora, a profissão é uma decadência, o poder público abandonou o transporte. De 2020 para cá foi caindo com os aplicativos, aí acabou de destruir o restinho que faltava. Hoje a categoria está esquecida, precisa ser vista, ajudou a construir o transporte dessa cidade e hoje está abandonada”, lamenta.
O serviço de mototáxi foi regulamentado em Campo Grande, em 1997, por André Puccinelli, prefeito da época. Já em 2017, o motocímetro foi regulamentado, sendo a primeira capital a normalizar.
Ainda de acordo com ele, os mototaxistas precisam pagar R$ 720 por ano em Taxa de Ocupação de Solo e R$ 27 por mês de ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza), o que equivale a R$ 324 por ano. Além disso, o quilômetro rodado está custando R$ 1,25.
“São mil reais por ano. Chega um transporte que não paga nada, gente com moto em mau estado de conservação, serviço sem fiscalização, sem documento em dia. Isso destrói o serviço regulamentado, foi o que aconteceu com os mototáxis e com os táxis também”, destaca.
Questionado sobre o porque ainda tem gente que insiste na profissão, Caburé acredita ser pessoas que tem anos na profissão.
“São as resistências, porque não tem uma outra coisa, é profissional nisso, tem gente que está 20 anos, 26 anos na prática, mas a renda não dá nem para se manter. São pessoas que estão lutando para sobreviver”, finaliza.
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