Clichês: Existe uma razão para existirem
Os clichês, muitas vezes tratados com desdém, são frases, ideias ou comportamentos que se repetem tanto ao ponto de se tornarem banais. Quando ouvimos algo como “no fim tudo dá certo” ou “tempo é dinheiro”, tendemos a revirar os olhos, como se estivéssemos diante de uma sabedoria desgastada, quase sem valor. Mas por que esses clichês continuam existindo? Porque, em sua essência, eles carregam verdades universais, resumos simples de algo complexo, que se aplicam a vidas diferentes e épocas distintas.
O Clichê Como Verdade Simples
A principal razão para um clichê existir é a repetição de sua verdade. Por exemplo: “é errando que se aprende”. À primeira vista, pode parecer óbvio e batido. No entanto, quantas vezes resistimos a aprender com nossos erros, negamos as falhas ou nos prendemos a expectativas irreais? O clichê serve como um lembrete direto de algo que, por mais simples que pareça, ainda precisamos ouvir.
A repetição que transforma uma frase em clichê também indica que ela foi verdadeira para muitas pessoas, em muitos contextos. Algo que se torna tão disseminado só sobrevive porque, de alguma forma, funciona. Ou seja, o clichê nasce da experiência compartilhada e se mantém pela relevância.
Quando o Clichê Irrita
O que faz um clichê parecer “chato” é a falta de profundidade ou contextualização. Ouvir alguém dizer “tempo cura tudo” em um momento de luto ou sofrimento pode parecer insensível. A frase, sozinha, não oferece consolo. No entanto, se olharmos além, a verdade que ela carrega pode ser reconfortante: a vida é movimento, o que hoje pesa pode, com o tempo, perder a força.
Muitas vezes, rejeitamos os clichês porque queremos algo novo, algo mais criativo. O mundo moderno valoriza a originalidade, mas às vezes a simplicidade de um clichê é o que precisamos para enxergar o óbvio em meio ao caos.
A Beleza da Sabedoria Popular
Clichês são o que poderíamos chamar de “sabedoria popular”. Eles sobrevivem ao tempo porque são fáceis de entender, transmitem mensagens profundas com poucas palavras e criam conexões com nossas realidades. Expressões como “de grão em grão, a galinha enche o papo” ou “quem não arrisca, não petisca” podem parecer banais, mas resumem princípios importantes de persistência e coragem.
Além disso, os clichês trazem uma certa humildade. Ao abraçá-los, reconhecemos que não somos tão diferentes assim de quem veio antes. Nossos problemas, medos e sonhos ecoam os das gerações passadas.
Clichês: Usar com Consciência
A chave está em usar os clichês com consciência e cuidado. Dizer “tudo passa” pode não ser útil para quem sofre, mas em um momento de reflexão, essa frase pode ser um lembrete importante. Clichês, quando usados com sabedoria, funcionam como guias para navegar os desafios da vida.
Por fim, os clichês existem porque expressam o que permanece verdade ao longo do tempo. Se eles se repetem tanto, talvez seja porque precisamos ouvi-los tantas vezes quanto forem necessárias para, de fato, entendê-los. Afinal, como diz um velho (e sábio) clichê: “às vezes, menos é mais”.
(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.
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