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Como se manter psicologicamente estável nas atuais circunstâncias

Luciana Raymundo (*) | 20/06/2020 12:14

Com o início da propagação da Covid-19 em nosso país, diversas empresas foram obrigadas a passar por uma reestruturação, tanto no sentido econômico como na forma de trabalho. Devido à crise financeira muitas foram obrigadas a fazer demissões e para segurança dos colaboradores muitas aderiram ao sistema de home office.

E como ficam as emoções dos colaboradores nessa nova modalidade de trabalho?

Dentro desse contexto, a saúde emocional é expressa pela capacidade de controlar e administrar as variações do comportamento que atuam sobre nossas atividades cotidianas. Por um lado, alguns profissionais estão vendo neste contexto uma oportunidade de estar no convívio da família, acompanhar a rotina de seus filhos, vivenciar o que antes não era possível devido ao tempo que passavam em seus trabalhos. Eles entendem que não ter que pegar condução para ir ao trabalho, não sair para almoço e voltar, está proporcionado a eles mais tempo e qualidade de vida. Eles fazem parte do grupo de pessoas que têm facilidade de adaptação a mudança. Ou seja, ao novo local de trabalho, a novos ruídos externos - interfone tocando, criança chorando, cachorro latindo, pessoas falando alto, entre outros. O ambiente doméstico não tira a concentração e não atrapalham o ritmo de serviço dessas pessoas. A disciplina em relação aos horários delas também não está sendo afetada uma vez que conseguem atender às demandas dentro do horário de expediente. Em relação ao fato de continuarem no quadro funcional da empresa, vêem como positivo pois entendem que são necessários e fazem parte neste momento de uma reestruturação de rotinas, sabendo que ao produzir de forma suficiente estão contribuindo da melhor forma. Enfim, têm um olhar positivo deste novo momento.

Mas nem todos estão tendo reações benéficas ao home office. Estudos recentes mostram que para alguns profissionais essa nova modalidade de trabalho está impactando em suas emoções. Nesse caso, surgem sentimentos que acarretam a falta de motivação no trabalho e nos relacionamentos, ou seja, a sensação de vazio existencial, tristeza e falta de perspectiva de vida, gerando, com isso tudo, sentimentos apáticos e de adiamento de atividades diárias. Se pararmos para pensar, nem todos dispõem de local adequado para trabalhar de forma reservada, longe de interrupções e movimentações externas.

Muitos tiveram que montar o local de trabalho em ambientes de uso comum a todos da residência. Essa mudança pode trazer dificuldade em administrar tempo e manter a concentração - o que é altamente prejudicial à execução de suas tarefas (que hoje são maiores por conta da redução no quadro de funcionários). Isso leva muitos a trabalhar até tarde para conseguir dar conta das demandas, causando cansaço mental e provocando um sentimento de frustração por não estarem em dando conta do que lhes é solicitado. Outro sentimento atrelado a essa frustração é o medo de ser o próximo a ser demitido, temendo pode ser substituído a qualquer momento. Esses profissionais, podem também estar sofrendo pela falta da rotina anterior de acordar, tomar banho, escolher uma roupa, pegar uma condução para ir para trabalho. Isso além da falta do convívio com os colegas, das reuniões diárias e até mesmo do cafezinho com a equipe - atividades que faziam parte de sua rotina diária e eram vividas de forma automática sem dar nenhuma importância ou valor a elas. Com a nova realidade isso não é mais possível. Além do sentimento de falta, esses profissionais convivem com a incerteza de de quando sua rotina voltará ao normal, se voltar.  Esses sentimentos ocorrem por que nem sempre nossas emoções estão preparadas para grandes mudanças em curto espaço de tempo.

A frustração, o medo, a insegurança e a incerteza são sentimentos que somados podem abalar as emoções desses profissionais gerando crises de ansiedade, de angústia e até desencadeando uma depressão.

Podemos questionar o porquê dos diferentes comportamentos de profissionais vivenciando a mesma experiência. Segundo Aaron Back (pai da Terapia Cognitiva Comportamental), não é a situação em si que determina o que a pessoa sente, mas como ela interpreta uma situação (Beck, 1964, Ellis, 1962).

E o que fazer para ajudar esses profissionais que estão se sentindo ansiosos, angustiados e com dificuldades de se adaptar a este novo modelo de trabalho?Bem, primeiramente, dentro do possível, é necessário fazer o planejamento de tudo que envolve o home office. Desde o lugar, horários, metas, projetos etc. Devemos sim seguir regras, algumas talvez não estejam explícitas no ambiente doméstico, porém são comuns na empresa e é necessário sejam cumpridas também em casa - o horário de trabalho é uma delas. Além disso, é muito benéfico que se faça pausas ao longo do dia, pequenos intervalos, assim como nas empresas - um momento para um chá ou café para repor as energias é uma boa opção.

Caso o quadro de desequilíbrio emocional e ansiedade perdure, um dos caminhos é a busca de ajuda profissional para que se faça uma avaliação dos sentimentos que estão causando angústia e dor. É primordial para a pessoa, além de identificar os problemas relacionados à sua saúde emocional, também gerenciar suas atitudes para possíveis soluções diante dessas sensações que ela sente, mas muitas vezes não consegue nomear. Neste momento, a terapia vem de encontro para poder ajudar que tenhamos atitudes que nos auxiliem e nos norteiem para encontrar as prováveis soluções que, no momento, estão confusas.

Associar a terapia à prática de exercícios, mesmo uma caminhada regular (caso seja possível) é também muito recomendável. O exercício físico ajuda o corpo a liberar serotonina e endorfina que ajudam a reduzir estresse e ansiedade. Nessa nova rotina, busque algo que lhe traga prazer: ler, ouvir música, tirar um tempo só (isso ajuda a acalmar as emoções), cozinhar. Muitos profissionais estão descobrindo habilidades na cozinha e fazendo desse hobby um verdadeiro laboratório para aliviar a pressão do dia-a-dia. Se organizando da melhor forma e buscando ajuda se necessário, o processo de mudança pode ser enfrentado de forma mais tranquila e com menos alterações emocionais.

(*) Luciana Raymundo é psicóloga clínica e organizacional com pós-graduação em gestão de pessoas.

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