Escrever literatura? No Brasil?

Ser escritor no Brasil é o maior balaio de gato que alguém pode ter para sua vida. E falar sobre isso, sobre o mercado, os leitores, a crítica, isso daí é dar murro em ponta de faca, e não uma faca daqueles de cabo de plástico, que quebra fácil, mas daquelas com a lâmina dura, em aço-carbono, que a gente só consegue comprar quando tem promoção de selo no supermercado.

E aí vocês vão me perguntar o porquê. Oras! É simples. Ser escritor de literatura, no Brasil, é lutar contra quase toda a formação cultural de um país, que prefere dar crédito pro pessoal comprar a dar o ensino de letramento crítico. Ser escritor é querer romper com algo que está feito, e não conseguir por nenhum outro meio.

Um bom escritor começa pensando: eu discordo disso. Depois vem a outra ideia: como enfrentar esse problema, dentro da minha capacidade? Então, basicamente, ser escritor é, primeiro, ser alguém interessado em entender e questionar o que existe.

Segundo, ser escritor é trabalhar sem pensar no dinheiro. Ser escritor de literatura não gera renda. Tem uns aí que têm dinheiro, mas eles são a ponta do iceberg, e quanto a isso, não me pergunte detalhes. Se eu soubesse, seria um deles. Só adianto uma coisa: não é culpa do editor (e nem do agente literário). Se o caso é poesia piora. Quem lê poesia contemporânea, além de outros escritores de poesia contemporânea? Tem uns aventureiros, e é a eles que eu faço minhas interjeições de silêncio e homenagem:

Terceiro, tem a questão da crítica literária. Uma parte dela é feita por pessoas que não gostam muito de livros difíceis, e a outra é feita por pessoas que só gostam de livros difíceis.

Então, ser escritor é lidar com pessoas que não se importam com o seu esforço.

Claro que há uns bravos, que entendem que a crítica literária pra quem não conhece literatura é apara de papel antes de ser; eles valorizam escritores que fazem algo difícil de se fazer: uma escrita que fale coisas relevantes, com uma linguagem mais ou menos tranquila. Esses bravos também são poucos, mas de vez em quando a gente tem sorte de esbarrar com eles.

Aqui vão minhas reticências de homenagem a eles:

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Assim, vocês me perguntam, por que ser escritor no Brasil hoje? Aí eu respondo: porque no fundo, ser escritor significa acreditar tanto em algo, que você faz de tudo pra isso ser acessado pelos outros. Ser um escritor no Brasil é isso: buscar maneiras de responder suas dúvidas, pelas palavras (porque no fundo, você não conseguiu fazer isso de outra forma). O resto é sorte ou marketing.

(*) Lucas Grosso é formado em Letras pela PUC-SP e tem Mestrado em Literatura pela mesma instituição.