Gás boliviano
A ideia do Brasil para dar aproveitamento racional do gás boliviano, imensa riqueza do país vizinho e amigo, vem de muito longe, desde o Acordo Robore, assinado pelas autoridades brasileiras e bolivianas – com a presença, na ocasião, do saudoso governador Fernando Corrêa da Costa, de Mato Grosso uno –, no início da década de 50 do século passado. Anos se passaram e o propósito se concretizou na década de 90 na presidência de Fernando Henrique Cardoso.
Daí, todos já conhecem como as tratativas ocorreram e ocorrem. O importante é que tanto o Brasil quanto a Bolívia têm obtido vantagens econômicas e sociais em decorrência do uso do gás. Porém, há um senão: o aproveitamento das riquezas decorrentes da matéria energética original não tem sido praticado de forma que todos os brasileiros dela se aproveitem. Especificamente, o Mato Grosso do Sul, um dos principais estado do Centro-Oeste.
Como isso ocorre?. Dar-lhes-ei apenas um exemplo: o gasoduto que atravessa as terras sul-mato-grossenses, desde o Pantanal de Corumbá, até as barrancas do Rio Paraná, percorrem quase 600 km, praticamente sem que vantagens diretas seus habitantes tenham dele aproveitamento, excetuando parcos tributos do ICMS ao governo do Estado e do aproveitamento existente na usina termelétrica William Arjona de Campo Grande (atualmente paralisada sub judice em disputa com Petrobrás), e das MS Gás, para fornecimento de gás veicular, residencial e comercial na Capital, que representa menos de 10% do total do gás natural fornecido pela Bolívia.
Na verdade, benefícios expressivos que possam premiar toda a população do Estado, não há. Por isso é nosso dever lutar pela implantação de uma unidade separadora em nosso território para aproveitamento racional de seus mais de 100 subprodutos que correm pelo gasoduto. Tal aproveitamento poderá gerar para Mato Grosso do Sul riquezas adicionais como a criação até de polos petroquímicos, além do GLP (gás de cozinha) a custo econômico menor para a população.
Quantas vantagens econômicas e sociais o Estado ganhará com o aumento de emprego e renda, elevando inclusive a participação per capita no ranking nacional. Acrescento um detalhe também importantíssimo: poucos sabem de onde vem o gás de cozinha que se utiliza no Estado. Esclareço: do sul da Argentina. De lá, em navios petroleiros, até o Porto de Santos; por gasoduto até Paulínia (SP); daí para Campo Grande ou para Goiânia, em caminhões tanque para serem envazados em botijões. Percorre mais de 4mil km, gerando elevado custo para o consumidor, bem como perigo em seu transporte nas rodovias.
Empolguei-me pela ideia do aproveitamento do gás em nosso Estado e para o Centro-Oeste, após ouvir a voz patriota do esclarecido empresário sul-mato-grossense, senhor Ueze Zahran, que também conhece essa realidade e que a levou aos então presidentes, cada um a seu tempo de mandato, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos aprovaram o projeto que, surpreendentemente, continua numa das gavetas da presidência da Petrobras, paralisado, esquecido.
É uma questão importante, razão porque a levei à Tribuna do Senado, na sincera expectativa de que ela possa, enfim, ser analisada pela senhora Presidente Dilma Rousseff e, em seguida, pela Petrobras, para concretiza-la. Espero que esse sonho se concretize para o bem de Mato Grosso do Sul e do País.
(*)Ruben Figueiró é senador do PSDB pelo Mato Grosso do Sul
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