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Intolerância social

Alan Pereira (*) | 30/09/2020 12:51

Os efeitos da pandemia na sociedade estão sendo avaliados em várias frentes, porém, com a imprevisibilidade de quando tudo isso vai acabar fica impossível saber o saldo final desse momento crítico para a comunidade mundial. No Brasil, são quase 140 mil mortes, milhões de infectados e outros milhões que vivem na angústia de saber se será o próximo e que, se isso acontecer, quais as consequências que o vírus trará. Todo esse cenário tem aflorado o destempero do ser humano que está protagonizando cenas lamentáveis de desrespeito ao próximo, preconceito, discriminação e intolerância social.

Logo no início da retomada no Rio de Janeiro, um casal afrontou um fiscal da prefeitura que os retirou de um bar para evitar aglomeração, dizendo que eram engenheiros, portanto, melhor do que ele. Um desembargador em Santos, irritado com guardas municipais que iriam autuá-lo por não estar usando máscara, os humilhou, engrenando no famoso “sabe com quem está falando”.

No último final de semana, uma mulher foi atingida por garrafas d’água pelo simples fato de estar de biquíni num carro conversível, voltando da praia. Revoltada com a agressão gratuita, desceu e partiu para as vias de fato. Outro episódio ocorreu em restaurante de alto nível na área nobre de São Paulo por divergência de horário. Motivos que não justificam o despertar dos instintos mais raivosos de cada um.

Outro fato que demonstra os efeitos da pandemia é o aumento da violência contra as mulheres nesse período. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), os feminicídios cresceram 22,2% entre março e abril.

A venda de antidepressivos e estabilizantes de humor comprova o impacto da pandemia no fator emocional e psicológico. Segundo dados do Conselho Federal de Farmácia, cresceu 14% de janeiro a julho deste ano. O número de unidades vendidas saltou de 56,3 milhões no mesmo período do ano passado para 64,1 milhões nos sete primeiros meses de 2020.

De acordo com especialistas, esse cenário de isolamento também representa um risco para suicídios que vem aumentando nos últimos anos. Estudo da Fiocruz, mostrou que 51% dos casos no Brasil acontecem dentro de casa.

Enfim, somado a todo esse cenário, os brasileiros ainda vivem a polarização iniciada em 2018 e ainda fomentada por aqueles que deviam dar exemplo de diálogo e cidadania. A sociedade está dividida entre o melhor e o pior. Quem pensa diferente e não concorda com você é, automaticamente, pior e se torna inimigo. Maior expressão de intolerância não há.


(*) Alan Pereira é jornalista e empresário

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