Mudança climática requer mudança de paradigmas
A humanidade está perdendo a batalha contra as mudanças climáticas. E de lavada! É necessário reorganizar a forma como o problema é abordado: a crise climática não pode ser vista apenas como uma oportunidade comercial para gerar novos negócios, pois pessoas estão morrendo devido aos eventos climáticos extremos, e esta situação tende somente a se agravar.
No aspecto educacional, é necessário construir novas capacidade nos indivíduos, comunidades e instituições, para que possam realizar, de forma efetiva, as mudanças necessárias para reverter a crise climática. O fato das metas definidas no Acordo de Paris não terem sido atendidas indica que princípios sustentáveis ainda não estão suficientemente entranhados na consciência coletiva da sociedade de modo a direcionar decisões e comportamentos das nações.
Estudantes devem continuar sendo capacitados em dimensões técnica e científica, mas também devem desenvolver capacidades sociais, morais e espirituais, para que possam tomar as melhores decisões rumo à um padrão saudável e sustentável. Aspectos éticos e morais auxiliarão a garantir que princípios não sejam subjugados pelo lucro.
Os conceitos de progresso e desenvolvimento também precisam ser redefinidos. Quais são os parâmetros analisados para julgar se uma pessoa, nação ou empresa alcançou sucesso? Enquanto esta questão for respondida priorizando posses ao invés de relacionamentos, ou aquisição ao invés de responsabilidade, um mundo sustentável continuará fora de alcance. O planeta, as pessoas e os animais vêm sofrendo de forma tremenda por conta de uma visão materialista que enxerga os indivíduos apenas como uma unidade econômica egoísta, competindo para acumular quantidades cada vez maiores de recursos materiais. O princípio da moderação deverá obter uma expressão maior em nível mundial para reverter este quadro.
Cabe às escolas e universidades reformularem o ensino para que os novos profissionais desenvolvam as capacidades necessárias para lidar com a mudança climática de forma efetiva. Esta crise global é, de fato, impactante e merece uma resposta à altura dos professores de todo o mundo. Citando Bahá’u’lláh (1817-1892), “a Terra é um só país, e os seres humanos seus cidadãos”. As escolas e universidades devem trazer esta visão de comunidade global, de cidadania mundial, para que os futuros profissionais tomem decisões sustentáveis ao estarem conscientes de que temos apenas um planeta e uma única habitação.
Uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas relacionadas à ação contra a mudança global do clima (ODS 13) é “melhorar a educação, aumentar a conscientização e a capacidade humana e institucional sobre mitigação, adaptação, redução de impacto e alerta precoce da mudança do clima”. Como indicador de que esta meta está sendo alcançada, são analisados o “grau em que a (i) a educação para a cidadania global e (ii) a educação para o desenvolvimento sustentável são integradas nas (a) políticas nacionais de educação; (b) currículos escolares; (c) formação de professores; e (d) avaliação de estudantes”. Esta é uma ação ao alcance de todos os professores, como uma contribuição essencial contra a mudança climática.
(*) Rafael Amaral Shayani é professor do Departamento de Engenharia Elétrica, da Universidade de Brasília. Doutor em Engenharia Elétrica pela UnB.