O Brasil em bolhas: indícios para compreender o País na era das redes
Coisas esquisitas andam acontecendo. Dizem, à boca pequena, ser a culpada a Inteligência Artificial (IA). A IA pôs fim à antiga lógica dos partidos políticos e fidelizou as pessoas em bolhas. O tempo dos sindicatos ficou para trás.
O resultado da entrada na vida política deste novo parceiro, a tecnologia, foi um desastre político com consequências para a floresta, para os índios e para a vida humana. A covid, os ianomamis e o Inpe provam.
Quem é e o que pode fazer a IA?
Decidi desafiá-la. Sem fuzil, entrei no combate munida de percepções sobre os grupos humanos. Na mistura, acrescentei delicadezas teóricas, teológicas e banais.
Descrever é o primeiro passo para conhecer o Outro. Comparar, o segundo. Compreender o sentido das coisas e propor questões, o terceiro passo.
Bula para leitura de um Brasil em bolhas
Por hábito dividi o Brasil em três Grandes Bolhas. O motivo dessa divisão é simples: o apreço pelo número três. Chamei cada parte de Grande Bolha. Elas se subdividem em outras milhares de sub-bolhas, consoantes e dissonantes entre si, na aparência. Na raiz, as microbolhas têm parentesco com a Grande Bolha.
Para economizar palavras e não cansar o leitor, descrevi apenas as Grandes Bolhas. Lembrem-se: na origem, a IA usa as estatísticas e os sentimentos estetizados para sistematizar dados, manipular emocionalmente as pessoas e ganhar dinheiro. Um dia, espero, servirá para o bem-estar do cidadão.
Hipótese:
As Grandes Bolhas se organizam em torno da renda, objetos de consumo, modelos de escolaridade, níveis de arrogância, padrões estéticos, graus de vaidade, formas de conceber o trabalho, a paz, tipos de comida, maneira de apresentá-las, graus de apreço à liberdade, índice de alegria, apego à ciência, respeito ao contrato social, ao livre-arbítrio, à natureza da ira, do amor ou do ódio, apreço por fantasmas, por cachorros, entre outras tantas variáveis.
As Grandes Bolhas se subdividem em microbolhas, nas quais outros ingredientes são acrescidos, como gênero, cor, afinidades culturais (músicas, filmes, times de futebol, entre outras) e tipos de contratos de trabalho (legítimos e ilegítimos, típicos e atípicos). Não há espaço para incluir todas as variáveis. Só a IA consegue.
As Grandes Bolhas, mais que os partidos, oferecem indícios para compreender o Brasil. O objetivo deste “jogo” é descrever e buscar o sentido das variáveis agrupadas e manipuladas pela IA.
Apesar de fragmentárias, existe sentido dentro das bolhas. Aqui vai um rabisco do desenho.
A Grande Bolha 1
Características: os recém-nascidos da Grande Bolha 1, antes de falar, apreciam com o olhar, na prateleira do quarto, o livro O Pequeno Príncipe, de Saint Exupéry. Vestem indiferentemente a cor azul, a cor-de-rosa, o branco, o amarelo, o verde. Os adultos apreciam o linho, com algumas referências indígenas. Toques nacionais.
As opções de gênero e religiosa são de escolha do rebento, por meio do exercício da razão, na idade apropriada. Defendem o transporte público, mas usam carro, sem que o carro seja objeto de desejo. Nos finais de semana, exercitam as pernas, usam bicicletas. Os livros têm destaque como objeto de consumo. São adquiridos e lidos.
Mantêm a capacidade crítica em relação às redes sociais e, ao mesmo tempo, são conscientes dos avanços e importância da tecnologia. Olham o Brasil de cima, do avião. Evitam roteiros turísticos e a multidão. Nas conversas, demonstram ser cidadãos do mundo. Na decoração, apreciam um estilo clean. São discretos.
Acompanham a política nacional e, principalmente, a internacional. Sem ilusões e com distanciamento, compreendem os limites da soberania dos Estados Nacionais e a precariedade, inevitável, dos organismos internacionais.
Tem apego à razão, à liberdade e à democracia. Inserem na vida cotidiana o hábito da prudência, convivem com o contraditório, reconhecem as diferenças entre o público e o privado e consideram animadoras as conjugações entre eles.
Com relação à concepção de tempo, passado e presente têm importância. Quanto ao futuro, prevalece a consciência bruta de que seremos pó. Sem ilusões.
Mantém apreço pelo humanismo, pela literatura russa, pelo teatro inglês e pelo livro recém-lançado na pauta dos debates atuais. Apreciam e frequentam concertos. Fazem uso apropriado da língua portuguesa e com ela exercem a superioridade na cadência e no tom. Mesmo descontraídos, evitam as palavras grosseiras. Controlam os gestos e a distância entre as pessoas. Fazem uso político do silêncio. Negociações, só na sobremesa ou até mesmo no café. Elegância acima de tudo.
A Grande Bolha 1 é mais apegada à cultura e à ciência do que ao dinheiro, embora reconheçam as utilidades do vil metal. Cultura é objeto de silenciosa e arrogante discriminação social, semelhante à nobreza de sangue (diferentemente do dinheiro, a cultura é quase intransponível quando se pretende igualar as pessoas). Igualdade é estilo, não realidade; bondade, romantismo açucarado, liberdade para quem pode.
São atentos à questão ambiental, às desigualdades sociais e respeitam a vida humana, animal e vegetal. O Estado é defendido de forma parcimoniosa. A marca do grupo não é dada pela renda, mas por um genuíno apreço inconteste pela democracia nos quadros das tradições do Ocidente: separação de poderes.
Ateísmo e a razão estão no cerne do “Eu” da Grande Bolha 1.
Existem defeitos nesta bolha, como em todas as outras. Uma arrogância escondida no despojamento estético, maior capacidade em competir do que em fazer junto, colaborar. A grife desta bolha é uma ironia finíssima. O prazer incontido em vencer o Outro na discussão, seja mãe, amigo ou colega (de preferência).
A arrogância da razão, do conhecimento, envolve provas estatísticas, defesa da ciência e uso primoroso da retórica argumentativa. Desprezam a vastidão da tragédia contida numa modesta margem de erro. Vencer na discussão é o melhor dos manjares.
Entre os privilégios normalizados pela Bolha 1 destacam-se os hospitais, os médicos e os remédios, os pequenos prazeres com custo inalcançável para a maioria da população. Os planos de saúde, em suas subdivisões, nos permitem conhecer as microbolhas da Grande Bolha 1. Desigualdades expressas em um imenso catálogo de instituições, médicos, fisioterapeutas credenciados ou não credenciados.
Quem está fora desta bolha, sofre na fila do SUS. Nem sempre o abandono da razão por parte da humanidade, em favor do obscurantismo, se dá por burrice. Às vezes, a raiva começa pelos planos de saúde ou nas filas, do SUS, do INSS, pelo preço de uma bolsa, de um vinho, de um restaurante inacessível…
Embora arrogantes, os habitantes da Bolha 1 sustentam acesa a chama do livre-arbítrio. Assumem responsabilidade pelos atos praticados. Mantêm na cabeceira da cama o livro de Hannah Arendt, em língua estrangeira.
Apesar das dificuldades, da vaidade, às vezes reconhecem as burrices praticadas ao longo da vida, tão próprias do ser humano. Sabem separar coisa de gente. Teoricamente atribuem maior valor às gentes, defendendo políticas sociais, de vacinação, alimentação e habitação.
Nesta bolha, merecem destaque os físicos. São os que veem melhor e se vestem pior. Podem recusar o banho em nome da reflexão. Representam um ponto fora da curva em matéria de gosto. Mas ninguém da Bolha é capaz de propor um princípio como eles, de nome Incerteza.
“Werner Heisenberg propõe seu princípio da incerteza, mostrando ser impossível medir com precisão, simultaneamente, a posição e a velocidade de uma partícula.” (Mauricio Tuffani)
Quanta beleza na incerteza. Eles pontificam e abrem caminho para a dúvida.
O obscurantismo atual foi plantado com a razão. Um desejo colossal de prescrever realismos para todos e em todos os momentos (mesmo os inúteis). A frase que mais repetem é: “Sendo realista…”.
Não se deve desumanizar os obscurantistas organizados. Se a planta brotou, tinha terra embaixo, a mesma terra onde brotou a razão.
Afinal, citando Francisco Goya, “O sono da razão (também) produz monstros”.
A Grande Bolha 2
Características: amam a fartura, seja de comida, carros ou objetos. Gostam de churrasco. São gulosos. Procuram presentear os filhos com o que faltou, e desejaram muito. Prevalece na memória dos pais, avós e bisavós, tataravós experiências de falta. Falta de dinheiro, vida dura e peregrinações pelos estados brasileiros. Identificam com precisão as virtudes do dinheiro, na vida cotidiana, na política e na aposentadoria.
Com relação ao tempo, os habitantes da Bolha 2 percebem o tempo na longa e curta duração. Presente prazeroso para si. Futuro certo (financeiramente) para os filhos. Têm dificuldade com a língua inglesa e procuram oferecer aos filhos instrumentos para superar o desafio. Respeitam a estabilidade dos empregos públicos e valorizam o trabalho dos professores primários, secundários e universitários, responsáveis por abrir as portas para o futuro dos filhos. Convivem com a preguiça, sem irritação.
São religiosos à moda brasileira. Respeitam diferentes cultos. Gostam das festas, principalmente de São João. Devotos, acendem velas para diversos santos. Não esquecem de agradecer as graças obtidas por pedidos difusos. Conversadores, riem de si mesmos, brincam de desestabilizar as autoridades por meio do riso lúdico. Manipulam com humor bem proporcionado as relações, evitando a animosidade ou a inveja. A política está no sangue, e o palavrão, entre os homens, também.
Incorporam mudanças com facilidade. A combinação entre computador, terra e produção é desafio vencido sem receio. Gente calada, autoritária na raiz, sabe da importância em ter amigos no poder, garantia para o futuro. Desconfiados, mantêm reservas financeiras. Um pouco no colchão, um pouco no banco. Reconhecem os perigos da vida e sabem que os erros fazem parte dela.
Perdoam.
Corajosos, enfrentam, no dia a dia, metamorfoses trocando o cotidiano do campo pelo da cidade e o da cidade pelo campo. Gostam de terra, do cheiro de boi e de plantação. A Bíblia é para o padre ler na missa. São cismados. Só de olhar, confiam ou desconfiam de uma determinada pessoa. A sensibilidade fala alto. Deixam rastros de riqueza. Saboreiam o luxo e a luxuria.
Afinal, tanto trabalho merece prêmio, admiração. São pé na estrada. Gostam de carro com vocação rural, mesmo na cidade. Comparecem a lançamentos de livros acompanhados de suas senhoras, mas não têm tempo para a leitura. Transitam com habilidade do negócio para a política e da política para o negócio. Os homens, na maioria, são mulher-dependentes.
O Estado é incorporado no imaginário de forma mais positiva do que negativa, embora prefiram evitar os impostos, do ponto de vista pessoal. Negociam. Aceitam o contraditório como uma estética necessária à vida política. Mas são cabeça-dura, difíceis de mudar as ideias. Quando o tema é ajudar em casa, discutir questões de gênero, avançar na pauta de costumes, tendem para o machismo.
Paternalismo, hierarquia e autoritarismo preponderam em detrimento da liberdade. Liberdade “pra” que e “pra” quem? A liberalização dos costumes é aceita para o filho e para a mulher do Outro. Lealdade ocupa a maior parte do espaço mental. Liberdade fica no fim da fila.
Acostumados ao tempo lento, resquícios coloniais, sabem esperar, ouvir, fazer política, tanto no pequeno município como na capital do Brasil. A lealdade com os amigos é marca. Dão valor à palavra, aos compromissos assumidos, ao fio do bigode. Convivem e participam de governos democráticos, autoritários e, se necessário, de ditaduras. Mudam de posição, sem dor.
Na Grande Bolha 2, prevalecem os afetos e vestígios de religiosidade católica. A razão vem depois. Sobrevivem marcas de origem, da filosofia moral baseada em vícios e virtudes, à moda brasileira, implantada desde o período colonial pelos missionários. Os limites entre vício e virtude são confusos, circunstanciados, assim como entre o público e o privado. Tudo muda de lugar dependendo da personagem, do poder, do dinheiro e do momento histórico.
Sabem separar o que é coisa e o que é gente. Entendem a fome e reconhecem a vida como um valor maior. Aprovam auxílios como Bolsa Família, Saúde para Todos e um Estado focado em políticas sociais com cores municipalistas.
O Brasil profundo reteve pedaços de uma percepção de mundo de raiz humanista. Santo Tomás de Aquino ilumina uma razão circunstanciada. Há justificativa para quase tudo, garantindo para muita gente um bom lugar na eternidade. A culpa é repleta de atenuantes.
A Graça permite a todos, rico ou pobres, ser objeto dela, independentemente de sucesso financeiro ou qualquer outro. A educação é valorizada mais nos papos do que nas verbas. Na Bolha 2, o voto é pessoal, de pessoa para pessoa. São mutantes na política. A acomodação, não o conflito, é meta. Estimulados, podem favorecer a temperança. A fraternidade existe, com variações conjunturais.
No coração do Brasil profundo, o sangue corre nas veias municipais.
Lembrete de um sábio brasileiro:
“Toda coerência é, no mínimo, suspeita.” (Nelson Rodrigues)
A Grande Bolha 3
Características: defendem a família, o trabalho e as armas. Sentem arrepios diante de desocupados, marginais e encostados. Consideram o Estado como inimigo número um. Os participantes da Bolha 3 defendem a narrativa do self made man. Estes ideais têm história. Nas imigrações e nas guerras, Primeira e Segunda.
Defendem a iniciativa privada como sentimento ancestral. Nas origens, carregam vivências de abandono e perseguição linguística e de apropriação pelo Estado de suas propriedades (Segunda Guerra). Permanece no inconsciente, por gerações, uma sensação de desamparo, de falta de liderança, de uma outra cultura, menos preta, menos índia e mais europeia, com corais e orquestras.
São arredios às relações humanas, fora da família. Sentem um profundo bem-estar ao imaginar total independência: “Fiz tudo sozinho. Não devo nada a ninguém. Construí meu patrimônio sozinho, eduquei meus filhos em escolas particulares, com muito esforço, criei o meu negócio enfrentando o fisco e as leis trabalhistas. O Estado só serve para atrapalhar”.
Apreciam a substituição da palavra empresário pela palavra empreendedor. O sonho é ser patrão de si mesmo. Sentem-se protegidos por uma autoridade, um líder político-religioso. Desconfiam de toda a humanidade. Tem dificuldade em tecer vínculos fora da família. Gostam de viver na sua própria bolha.
Em termos de valor, as coisas precedem às gentes.
Expressam coragem para investir/arriscar a poupança. São criativos nos negócios e na incorporação de novas tecnologias. Os habitantes da Bolha 3 caminham sem boia para a velhice, criticando a previdência social, pública, em favor dos planos de previdência privados. Evitam pensar na doença, no desemprego e nas dificuldades das famílias para cuidar dos idosos. Supõem generosidade obrigatória dos filhos e netos. São incansáveis na manipulação da culpa.
Exímios trapezistas, trabalham sem rede de proteção. Depreciam o papel do Estado como árbitro das relações de trabalho, seu maior inimigo. Preferem os autônomos: cada um por si e Deus por todos. Em matéria de religião, são marcados pela Reforma Protestante. Existe materialização da Graça por meio do trabalho, da disciplina e do sucesso financeiro.
A acumulação surge com chancela de Deus. Gostam de carros possantes e caros. Apreciam livros encadernados em bibliotecas e a distribuição de Bíblias na rede escolar. Irritam-se com o ócio, com a preguiça e com os programas sociais.
Os habitantes da Bolha 3 valorizam as fronteiras. Evitam contatos, misturas, trocas químicas ou de ideias. Ao abrir a janela, ao ver o vizinho, percebem o perigo, da rua e do transeunte desconhecido. A medida certa, para os contatos humanos fora da família, é: bom dia, boa tarde ou boa noite. Fórmula certa para evitar problemas. Os “amigos” são vistos com aspas.
Concebem a humanidade toda como um grupo formado por interesseiros. Não se pode relaxar na Bolha 3. Não se deve esquecer o fato de o colega de trabalho ser um competidor nato. Do ponto de vista arquitetônico, adoram muros, portas e portões consecutivos. Enquanto um fecha, o outro não abre. Pensam: alguns portões deveriam abrir apenas para uns e não para todos.
O habitante da Bolha 3 tem grandes chances de vencer na vida.
Considerando sempre estar cercado de inimigos, a arma é necessária para a defesa. No momento de descanso, é indispensável ser sócio de um clube de tiro para descarregar a tensão. A ansiedade é inevitável, assim como os ansiolíticos.
Com relação ao riso, ao uso de palavras grosseiras e metáforas do baixo corporal, a Bolha 3 é preparada para, por meio da tecnologia, atuar nas redes, avivando a animosidade, a ira e a inveja.
Receita certa para agregar as dores contidas no viver em uma sociedade profundamente desigual. Desmontam a arrogância, desafiam a ciência e brincam com a razão, colorindo a política com motosserras, cachorros e fantasmas. Aprimoram a fórmula do riso lúdico para desestabilizar o inimigo, o estrangeiro, o Outro. Aproveitam a velha fórmula do obsceno, da pornografia e do maldizer para inferiorizar o “inimigo”, desmontar lideranças inimigas. O riso de escárnio aglutina seguidores facilitado a comunicação das redes.
São os melhores comunicadores, na cenografia, na linguagem e na produção de fake news.
Bolha ou partido?
Qual o problema de se organizar em bolhas, e não em partidos políticos?
Partido é uma parte de um todo. Cada parte tem consciência da existência de outras partes. Cada fração tem um líder treinado para conversar com as outras partes. O diálogo pode ser fácil ou difícil. Mas há com quem falar, negociar. Já as bolhas vivem da tensão interna. São feitas de fragmentos.
Bolhas não possuem líder, mas sim comunicadores. Eles produzem e reproduzem uma determinada identidade em um círculo fechado. Diferentes identidades se separam umas das outras. Para evitar interferências entre si, elas compram mísseis, se armam. As formas de relação e comunicação utilizadas entre as bolhas são as milícias, as guerras ou privação, na bolha dos inimigos, do essencial para a sobrevivência humana.
No vazio da linguagem política, envelhecida, comunicadores proliferam reafirmando identidades (gatos, cachorros, música, beleza, viagens, filósofos). Sem agentes para negociar, prevalece o conflito, onde o único negociador, o mais poderoso, é o potencial bélico.
Falar com quem?
Uma bolha não escuta, nem vê a outra.
Bolhas explodem.
(*) Janice Theodoro da Silva é professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.