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O Brasil tem energia verde e sustentável, falta a respectiva política industrial

Por Paulo Feldmann (*) | 14/11/2023 09:30

Enquanto boa parte dos países desenvolvidos gera sua energia elétrica com base em formas altamente poluidoras, como carvão e petróleo, o Brasil é reconhecido mundialmente, e há muito tempo, como um importante produtor de energia baseado na água, graças às nossas exuberantes bacias hidrográficas.

Mais recentemente passamos a nos destacar também no uso de outras formas renováveis de geração, como a solar e a dos ventos (eólica), de tal forma que hoje mais de 75% da geração de energia elétrica no País é feita através de fontes renováveis.

No entanto, a maior parte dos equipamentos utilizados na geração dessas novas formas de energia poderia perfeitamente ser aqui fabricada, mas é comprada no exterior. Não temos o direito de perder a imensa oportunidade que está à nossa frente de agora reindustrializarmos o País com uma abordagem verde e sustentável e passar a fabricar esses equipamentos localmente.

A energia solar precisa de painéis fotovoltaicos. Infelizmente, 95% desses equipamentos hoje utilizados no Brasil são importados da China. No caso da energia eólica, a situação é parecida: as torres e pás, equipamentos fundamentais para sua geração, em sua maior parte são compradas no exterior.

É muito bom ser autossuficiente em energia solar e eólica, porque mesmo se chover pouco e nossos reservatórios se esvaziarem, não precisaremos nos preocupar, como em anos recentes. No entanto, energia que vem do sol e dos ventos precisa ser armazenada, pois nem sempre há vento e à noite não há sol. E isto não é tão simples quanto armazenar água nos reservatórios das hidrelétricas. Vamos precisar de baterias, e a nossa indústria mais uma vez é incipiente, o que vai nos levar a importar também as baterias.

O exemplo dos carros elétricos talvez seja o mais emblemático para mostrar a importância do planejamento. A China é o maior produtor mundial de carros elétricos, apesar de que lá boa parte da energia elétrica é gerada com recursos altamente poluentes, principalmente o carvão.

O Brasil também poderia ser um fabricante de carros elétricos, pois além da energia elétrica não ser obtida por meios poluentes, temos a terceira maior reserva mundial de lítio, a matéria-prima básica para fabricação das baterias desses veículos e seu componente mais importante. No entanto, como nunca tivemos uma política industrial voltada a fabricar esse tipo de veículo, e sempre achamos que o mercado iria resolver tudo, ficamos sem nada.

Todos agora falam que o futuro será do hidrogênio verde, e o Brasil é o país com maiores condições de liderar essa geração. A extração do hidrogênio hoje é feita principalmente usando formas poluentes como carvão e petróleo, mas já existe tecnologia para que essa geração seja feita através de energias renováveis, principalmente a água. São os eletrolisadores de hidrogênio verde. Mas nosso destino provavelmente será o de importar também esses equipamentos.

Segundo o Banco Mundial, nos últimos 30 anos fomos o campeão mundial de desindustrialização. A manufatura caiu de 22% para apenas 9% de participação no PIB. Esse fato tem várias explicações, mas uma das mais importantes é que nunca planejamos o futuro do País, e há mais de 35 anos não temos uma política industrial.

Precisamos corrigir esse problema planejando detalhadamente como vamos focar o nosso maior patrimônio que são nossos recursos naturais, mas sem ficar dependentes das tecnologias e importações necessárias para produzir e usar as fontes de energia renovável.

Em resumo, o fato é que as mudanças climáticas trouxeram novas formas de geração de energia bem menos poluentes, e o Brasil já é um dos líderes nessa geração – o que é ótimo. No entanto, temos que aproveitar este fato para desenvolvermos localmente a indústria dos equipamentos usados nessa geração, de modo a também sermos líderes nessa fabricação. Chegou a hora de invertermos o jogo e voltarmos a ser um importante país industrial. É uma oportunidade incrível e seria um erro gravíssimo não aproveitá-la agora.

(*) Paulo Feldmann é professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP.

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