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O extermínio dos índios na história do nosso País

Por Yuri Arraes (*) | 25/10/2012 08:12

Recentemente me deparei com uma notícia intitulada: “Índios anunciam suicídio coletivo no MS”. Sem pensar duas vezes abri para analisar o conteúdo: uma carta assinada pelos líderes da aldeia Guarani-Kaiowá anuncia o suicídio coletivo de 170 pessoas (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) em razão de uma decisão recente da Justiça Federal.

De acordo com a carta, os habitantes da aldeia serão expulsos da margem do rio Hovy no município de Naviraí em Mato Grosso do Sul. Senti-me aterrorizado e decepcionado, porém, o pior de tudo é que essas não são as primeiras mortes sem sentido dos verdadeiros brasileiros e essa não é a primeira decisão judicial com o intuito de eliminar os povos indígenas.

Desde 1500, ano em que os doze mil colonizadores europeus chegaram à região que hoje é denominada Brasil, os índios têm sido vítimas do capitalismo. O território que antes pertencia aos cinco milhões de indígenas e era a fonte de sua subsistência passou a ser explorado de maneira nem um pouco razoável pela coroa portuguesa. Seria simples se acabasse por aí, afinal, os nativos não precisavam de riqueza, apenas de um pouco de terra para habitar, caçar, colher e cultuar seus deuses, talvez até pudessem partilhar do paraíso com aqueles que haviam chegado da Europa. Mas para os seres civilizados isso não bastava, eles precisavam de mais.

Os doze mil colonizadores ampliaram seu território, trouxeram a religião, importaram escravos, multiplicaram-se, esgotaram as riquezas da terra e hoje são cento e noventa milhões de habitantes de um país independente. No entanto, nesse mesmo período, os índios foram exterminados, perderam suas terras e hoje são obrigados a habitar locais que ninguém mais precisa, dos quais não se extrai renda, e a viver de maneira desumana (temos como exemplo os Guarani-Kaiowá, que se alimentam apenas uma vez por dia).

Eu hei de lembrá-los que recentemente, no Amazonas, mil índios foram levados Atalaia do Norte por candidatos a cargos eletivos municipais para que pudessem votar nessas eleições, porém, após serem derrotados nas urnas, os aspirantes a representantes do poder povo desapareceram da cidade, deixando os eleitores em condições precárias, fazendo com que duas crianças morressem de diarreia e ainda deixando outras trinta e três internadas em um hospital.

São fatos assim que nos fazem questionar se o verdadeiro povo brasileiro realmente tem poder e se há alguém realmente capaz de representá-lo.

Atualmente a população indígena é formada por aproximadamente quinhentos mil índios. Conclui-se, portanto, que em cinco séculos acabamos com 90% da nossa história e que eliminamos a nossa própria cultura para que poucos ociosos habitem terras que não os pertencem e se mantenham ricos. Que país é esse em que se humilham e matam pessoas em nome de uma campanha política? Que justiça é essa que faz com que 170 pessoas clamem pela própria extinção? Pessoas assim não sabem o que é a Constituição, pois nunca usufruíram de nenhum direito. Os índios perderam tudo, inclusive aquilo que dizem ser a última coisa a se perder: a esperança. E eu não consigo sentir nada ao pensar nisso além de vergonha de ser brasileiro.


(*)Yuri Arraes é acadêmico de Direito.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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