O legado de Oswaldo Cruz
No dia 05 de agosto completou 150 anos do nascimento do médico Oswaldo Gonçalves Cruz, que faleceu aos 44 anos no dia 11 de fevereiro de 1917. Apesar de uma trajetória tão breve, ele foi responsável por mudanças significativas no enfrentamento de várias doenças infecciosas e tropicais no Brasil. Dr. Oswaldo Cruz era bacteriologista, epidemiologista, sanitarista e cientista. Aos 15 anos ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e durante sua graduação definiu sua predileção pela área de microbiologia, publicando artigos na área e defendendo seu doutorado. Alguns anos depois o Dr. Oswaldo Cruz viajou ao Instituto Pasteur com o objetivo de aprofundar seus estudos em microbiologia, além de imunologia e soroterapia.
Um importante momento da sua vida foi quando participou dos estudos da mortandade de ratos em Santos, SP, associados a peste bubônica, e propôs a produção brasileira do soro, com a fundação do Instituto Soroterápico Federal, na Fazenda Manguinhos (RJ) sob a sua direção técnica. A seguir assumiu o cargo de Diretor do Instituto e a seguir Diretor-Geral de Saúde Pública (DGSP). Sempre promoveu a pesquisa e a formação de recursos humanos durante sua gestão.
Apesar de sua competência e empenho, enfrentou resistência na implementação de medidas sanitárias, tanto pela população como pela classe médica. Como no combate à febre amarela, quando percebeu que a doença não era transmitida por contato entre os pacientes, mas pelo mosquito Aedes aegypt e iniciou os protocolos de eliminação dos focos de mosquitos. Comandou o extermínio dos ratos, cujas pulgas transmitiam a peste bubônica, diminuindo a incidência da doença.
Adotou o isolamento de pacientes acometidos por doenças infecciosas e a notificação compulsória dos casos positivos de várias doenças, medidas que são adotadas até os dias atuais. Sua figura também é fortemente associada ao combate a varíola, promovendo a obrigatoriedade da vacinação em massa da população, o que gerou o primeiro evento antivacinas do Brasil, conhecida como Revolta da Vacina. Apesar da suspensão desta obrigatoriedade, a população entendeu a importância de se vacinar no novo surto em 1904.
Dr. Oswaldo Cruz foi importante no estabelecimento de protocolos sanitários considerando regras internacionais, realizando expedições aos portos marítimos e fluviais do país, e reestruturando os órgãos de saúde e higiene do Brasil. Sua atuação foi reconhecida internacionalmente e o Instituto Soroterápico Federal passou a receber o seu nome, chamando-se de Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Sua atuação também foi fundamental no combate a malária durante a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré e a febre amarela no Pará, porém a partir desta data passou a se dedicar apenas ao instituto. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, e ajudou a fundar a Academia Brasileira de Ciências. Por motivos de saúde abandonou suas atividades no instituto, dois anos antes do seu falecimento.
O legado do Dr. Oswaldo Cruz se reflete até os dias de hoje, como a produção nacional de soro antipestoso e vacinas, sendo coordenada pelo IOC, hoje chamada de Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Instituto Butantan. As duas instituições são responsáveis pela produção das vacinas ofertadas pelo sistema único de saúde (SUS) nos dias atuais.
Na comemoração dos 150 anos do nascimento do Oswaldo Cruz o país ainda tem um longo caminho a percorrer na erradicação de doenças que se tornaram re-emergentes, como a febre amarela, e a sua independência na produção de vacinas, que depende de matéria prima importada. O desenvolvimento e produção de vacinas no Brasil ainda sofre com a falta de investimentos e apoio do Estado, sendo financiadores de projetos em estágios não clínicos, porém com atraso importante nos ensaios-clínicos, como observado para os projetos em desenvolvimento de vacinas brasileiras para COVID-19.
(*) Anamélia Lorenzetti Bocca é doutora em Imunologia Básica e Aplicada pela Universidade de São Paulo e professora titular da Universidade de Brasília.
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