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Orgulhosamente difícil: O preço de ser uma mulher que pensa e age

Por Cristiane Lang (*) | 16/03/2025 08:36

Em um mundo que exalta a liberdade, mas ainda cobra conformidade, mulheres que pensam, questionam e agem por conta própria frequentemente recebem um rótulo incômodo: “difíceis”. Mas difíceis para quem? E por quê? A verdade é que, quando uma mulher se recusa a ser complacente, sua simples existência desafia normas que, por mais ultrapassadas que sejam, ainda tentam ditar o comportamento feminino.

Ser “difícil” é, muitas vezes, o resultado natural de ser independente, de se expressar com clareza e de não aceitar menos do que se merece. Esse adjetivo, que deveria ser um elogio, ainda carrega uma conotação negativa, como se o ideal fosse ser submissa, previsível ou eternamente conciliadora. Mas, num mundo que precisa desesperadamente de mudança, ser difícil é uma virtude – e um ato de resistência.

O que significa ser difícil?

Quando alguém chama uma mulher de difícil, geralmente não está se referindo a uma personalidade realmente intratável. O que incomoda não é a teimosia irracional, mas a firmeza em suas escolhas. Mulheres são taxadas assim quando:

● Têm opinião e a defendem: Uma mulher que expressa suas ideias com convicção é frequentemente chamada de autoritária, mesmo quando apenas está no mesmo tom que um homem que seria visto como líder.

● Não aceitam migalhas: Seja no amor, no trabalho ou nas amizades, mulheres que sabem seu valor e recusam menos do que merecem são vistas como exigentes.

● Questionam e desafiam normas: Quem não aceita o status quo incomoda. Se uma mulher não se conforma com desigualdades ou injustiças, rapidamente se torna “problemática”.

● Tomam decisões por conta própria: Se um homem age com autonomia, ele é admirado por sua independência. Se uma mulher faz o mesmo, muitas vezes é vista como “egoísta” ou “teimosa”.

O rótulo de “difícil” é, no fundo, uma tentativa de controle. Ele implica que seria mais conveniente que essa mulher cedesse, fosse mais flexível ou se preocupasse menos com suas próprias vontades. Mas desde quando ser “conveniente” deveria ser uma meta?

O medo da mulher que não precisa de aprovação 

Uma mulher que sabe o que quer e não se deixa moldar pelas expectativas externas representa uma ameaça ao sistema que sempre buscou definir o que ela deveria ser. Historicamente, mulheres foram ensinadas a buscar aceitação – a serem agradáveis, compreensivas, discretas. Mas quando uma mulher para de pedir permissão para existir da maneira que deseja, ela desafia séculos de condicionamento social.

Isso explica por que tantas mulheres bem-sucedidas, brilhantes e autênticas enfrentam resistência. O mundo aplaude mulheres fortes, desde que elas não sejam fortes demais. Desde que suas opiniões não desagradem. Desde que sua inteligência não seja um desafio. Desde que sua liberdade não desestabilize.

A culpa que nos ensinaram a sentir 

Muitas mulheres passam uma parte significativa da vida tentando equilibrar sua autenticidade com a necessidade de serem aceitas. Elas se perguntam: “Será que estou sendo exigente demais?” ou “Será que fui rude por não concordar?” Esse questionamento constante é resultado de uma sociedade que insiste em ensinar mulheres a duvidarem de si mesmas.

Mas a verdade é simples: quem ganha com mulheres que se diminuem? Quem se beneficia quando uma mulher duvida de sua própria voz? Certamente não são elas mesmas.

Orgulhosamente difícil

Se ser difícil significa ser fiel a si mesma, então que seja um título carregado com orgulho. Que cada vez mais mulheres se recusem a ser moldadas pelo medo da rejeição e, em vez disso, escolham viver com autenticidade.

Porque, no fim, ser difícil nunca foi o problema. O problema sempre foi um mundo que não sabe lidar com mulheres que não pedem permissão.

(*) Cristiane Lang é psicologa clínica.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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