Participação brasileira em setores que melhor remuneram no agronegócio
O senso comum levou o Brasil a ser visto como o principal exemplo de sucesso do agronegócio mundial. Estudo desenvolvido na Universidade de Brasília revela que a realidade é muito mais complexa, com corporações multinacionais estrangeiras controlando os segmentos agroindustriais intensivos em capital e em tecnologia do agronegócio realizado no Brasil e empresas brasileiras com maiores participações de mercado principalmente no setor agropecuário de produção primária.
Como os segmentos agroindustriais podem remunerar melhor o capital e o trabalho do que a produção primária na agropecuária, este estudo explorou de que forma os investidores brasileiros podem se beneficiar do próspero agronegócio global ao investirem nos segmentos agroindustriais do agronegócio feito no Brasil. Segmentos agroindustriais incluem sementes, fertilizantes, máquinas, equipamentos, beneficiamento e comercialização.
O estudo revelou que a participação de grupos de capital brasileiro nas cadeias produtivas do agronegócio feito no Brasil em 2020 foi de 23,9% para soja, 47,2% para cana-de-açúcar, 57,9% para leite e 76,0% para carne bovina (Figura 1). Houve grande heterogeneidade entre os segmentos do agronegócio que podem ser divididos em três grupos principais: 1) Segmentos controlados por multinacionais estrangeiras, 2) Segmentos apoiados pelo Estado controlados por empresas brasileiras e, 3) Segmentos mistos com participação de empresas brasileiras e estrangeiras.
Nos segmentos mistos, os investimentos estrangeiros e brasileiros favorecem o crescimento das cadeias produtivas e, assim, são benéficos para o país em curto e longo prazos. São segmentos em que não há barreiras que impeçam a entrada de empresas brasileiras, como é o caso das patentes. As políticas de apoio à ciência e tecnologia tendem a fomentar o desenvolvimento da cadeia de suprimentos como um todo, não apenas empresas específicas, gerando situações de ganho mútuo.
(*) Gabriel Medina é professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília e doutor em Ciências Naturais pela Universidade de Freiburg, na Alemanha.