Produção de novilho precoce: o desafio de uma corrida por qualidade
Quem conhece o termo novilho precoce, logo o liga à palavra qualidade. Na indústria brasileira de carne bovina, cuja realidade é o abate acima dos 36 meses, participação de animais inteiros em praticamente 50% dos machos abatidos e poucos incentivos para melhorar a qualidade, o novilho precoce traz diferenciais importantes, seja pela qualidade da sua idade jovem entre 18 a 30 meses, pela carcaça com quantidade de gordura adequada, ou pela bonificação recebida que pode chegar a valores acima de 100 reais por animal. Entretanto, muito além destes aspectos, o contexto do novilho precoce é definido por outros detalhes, um conjunto de demandas, oportunidades e desafios que se configuram dentro e fora da porteira, muitas vezes equiparáveis aos de uma corrida, onde os beneficiários não são apenas o público desta corrida, ou seja, os consumidores, mas também todos os outros atores envolvidos na cadeia.
Para compreender os desafios, é necessário saber que na base da produção de um novilho precoce estão três pilares decisivos que definem sua qualidade e também seu processo de produção. Adequar um lote destinado ao abate a determinado programa de bonificação de novilho precoce significa atender majoritariamente aos critérios de idade, acabamento e peso, em mais de 50% ou até 80% dos animais daquele lote, com o direito assim de receber uma bonificação financeira. Da parte do pecuarista, o desafio está não só em atender os critérios com os níveis exigidos, mas principalmente em equilibrar o diferencial de remuneração recebido frente ao custo de se adequar o lote aos critérios de qualidade. Para a indústria frigorífica e o varejo é, acima de tudo, estimular a cultura da qualidade e demonstrar de forma concreta e transparente a importância que isto terá para a cadeia.
E é na busca de equilíbrio que a produção de novilho precoce se assemelha a uma corrida. Como em uma prova de rali de regularidade, onde o piloto que vence não é aquele que percorre o percurso no menor tempo, mas sim o que trabalhou no ótimo entre estratégia e velocidade, assim é a produção de novilho precoce. Neste caso, o produtor é o piloto que chegou ao pódio, por otimizar recursos que levassem seu animal às características corretas, no tempo correto e com a melhor relação benefício/custo. Se no rali o equipamento e a estratégia de guiar são determinantes para chegar até o fim, também o são os animais e o sistema de produção animal adotados na produção de novilho precoce, uma vez que estes são as chaves para se alcançar tanto a qualidade da carcaça, quanto o equilíbrio financeiro necessários.
Não é uma corrida fácil e a equipe responsável pela busca do melhor carro e da melhor estratégia tem papel fundamental. No novilho precoce, esta equipe pode ser representada pelos grupos atuantes na pesquisa e na transferência de tecnologia nesta área, verdadeiros engenheiros e estrategistas, responsáveis por descobrir e difundir as técnicas de produção necessárias para um percurso mais eficiente. Como disse um nobre colega “para problemas sistêmicos, soluções sistêmicas” e, desta forma, deve ser entendido o desafio para as equipes de pesquisa e transferência de tecnologia, pois isto se traduz na necessidade de uma postura multidisciplinar, conectada à realidade e focada no problema. Tirar deste desafio uma oportunidade de valorização pelo setor produtivo pode representar o pódio para os inseridos neste contexto.
Com a mesma visão que se desvenda uma oportunidade para quem o estuda, se enxerga o benefício que o novilho precoce entrega dentro da porteira. Regularidade em um percurso é algo que se tem depois de agregado um conjunto de elementos que se complementam e entregam o melhor na busca de eficiência. O piloto habilidoso, o carro robusto e potente e o GPS acurado e ágil representam estes elementos. Assim acontece na produção do novilho precoce. Ninguém chega a resultados sem esforços para agregar os elementos necessários. Genética e pasto podem não ser eficientes isoladamente, mas quando em conjunto e complementados pelas técnicas de manejo e alimentação adequadas, dão caminho aos resultados. E é aí que a fazenda inteira ganha. Não só pelo novilho precoce, mas pelo conjunto de melhorias alcançadas na base com a consolidação de um sistema de produção eficiente, que pode levar a melhorias em até 30% na rentabilidade, apenas pelo fato de diminuir a idade de abate em 12 meses.
Em resumo, para a pecuária (e os demais envolvidos com ela!), o novilho precoce não deve ser entendido apenas como uma meta, mas principalmente como um caminho. E para quem está nesta corrida, seja piloto, equipe ou público, todos têm a oportunidade de sair ganhando e subir ao pódio nesta verdadeira corrida por qualidade.
(*) Rodrigo da Costa Gomes, pesquisador em Nutrição Animal na Embrapa Gado de Corte
rodrigo.gomes@embrapa.br