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Telessaúde no combate à sífilis na gestação

Renata Rosa de Carvalho e Camila Giugliani (*) | 19/09/2022 13:30

A telessaúde no campo de doenças infecciosas tem potencial de melhorar o acesso ao cuidado e está se expandindo em termos tanto clínicos quanto tecnológicos e geográficos. O uso adequado e baseado em evidências da telessaúde seria capaz de fornecer cuidados especializados, atualizados, oportunos e econômicos para a população, além de fornecer educação continuada e apoio longitudinal aos profissionais de saúde que atendam a demandas infectocontagiosas.

O combate à sífilis na gestação ainda é um desafio mundial. Por ser uma infecção prevenível e tratável, é inaceitável que ainda tenhamos a ocorrência de tantos desfechos graves que impactem na saúde materna e infantil, como abortamentos, malformações congênitas e óbitos fetais. No Brasil, mesmo com exames diagnósticos e tratamentos cada vez mais acessíveis, as taxas de detecção de sífilis durante a gravidez divulgadas pelo Ministério da Saúde são elevadas e parecem ter atingido um platô em um patamar alto nos últimos anos.

Diagnosticar sífilis é um ponto essencial no enfrentamento dessa condição, entretanto os dados refletem que precisamos ir além de diagnosticar: sem tratamento adequado não há como diminuir riscos fetais ou interromper a cadeia de transmissão dessa infecção sexualmente transmissível.

Para atingir a meta proposta pela Organização Mundial da Saúde, que seria de reduzir os novos casos de sífilis em 90% entre 2018 e 2030, é necessário olhar criticamente o cenário epidemiológico da última década, repensar estratégias de enfrentamento e propor inovações, como o uso da telessaúde como suporte à atenção primária à saúde (APS).

Desde 2007, o TelessaúdeRS-UFRGS fornece suporte assistencial a distância para profissionais de saúde da APS por meio da teleconsultoria (TC), ampliando a resolutividade clínica na APS, diminuindo a sobremedicalização e a iatrogenia. Os médicos, enfermeiros e dentistas da APS que desejem suporte assistencial realizam uma TC por meio de um número telefônico gratuito (0800) e, de forma síncrona, partilham suas dúvidas com um profissional teleconsultor vinculado ao TelessaúdeRS-UFRGS, que acolhe a demanda e realiza a busca das melhores evidências para responder à questão trazida.

A equipe de profissionais do TelessaúdeRS-UFRGS é composta por um time multiprofissional de dentistas, enfermeiros, médicos, com especialização em APS, medicina de família e comunidade, ginecologia, infectologia, dermatologia, oftalmologia, psiquiatria, entre outras. Após a revisão das evidências, o teleconsultor elabora e fornece verbalmente ao solicitante a conduta sugerida e registra as informações geradas em uma plataforma online de texto, que fica disponível para consulta do solicitante posteriormente.

Para demonstrar o potencial da telessaúde no suporte à tomada de decisão em casos de sífilis na gestação, realizou-se um estudo descritivo do perfil das TCs sobre sífilis na gravidez, realizado entre os profissionais da APS do Rio Grande do Sul e o TelessaúdeRS-UFRGS, no período de 2018 a 2021. Os dados foram extraídos do banco de dados institucional do TelessaúdeRS-UFRGS e no total foram analisadas 356 TCs.

Os médicos foram os profissionais da APS que mais solicitaram apoio por TC no manejo de gestantes com sífilis, seguidos pelos enfermeiros. Os principais motivos das TCs foram dúvidas relacionadas a retratamento, diagnóstico, tratamento inicial e acompanhamento da gestante com sífilis. Em 35% das TCs foi possível concluir que a gestante com sífilis apresentava tratamento adequado realizado na APS; em 32,9%, a impressão da TC foi de sífilis latente tardia, latente com duração ignorada ou terciária com indicação de tratamento, e em 9,6% havia critério para classificar a gestante com reinfecção ou falha ao tratamento.

Utilizando os protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas do Ministério da Saúde, o TelessaúdeRS-UFRGS possibilitou acesso a informações atualizadas sobre sífilis na gestação, de forma assertiva, para solicitantes da APS, fornecendo orientações em conformidade com o recomendado pelo MS na quase totalidade (94,9%) dos casos atendidos sobre sífilis na gestação. Além disso, apenas 1,4% das TCs tiveram como desfecho o encaminhamento para a atenção especializada, o que sugere o alto potencial da TC no suporte à tomada de decisão e a capacidade da APS em manejar esses casos. Juntos, esses indicadores, considerando as altas taxas de adequação da orientação e de evitação de encaminhamentos, indicam um bom potencial de resolutividade das TC, demonstrando a importância da telessaúde para fortalecer a APS.

(*) Renata Rosa de Carvalho é mestre em epidemiologia pelo Programa de Pós-graduação em Epidemiologia da UFRGS e trabalha como médica no TelessaúdeRS-UFRGS.


(*) Camila Giugliani é doutora em epidemiologia pelo Programa de Pós-graduação em Epidemiologia da UFRGS, docente permanente do Programa de Pós-graduação em Epidemiologia e do Programa de Pós-graduação em Ensino na Saúde da UFRGS.

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