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Três cês para salvar o mundo

Marcelo Bizerril (*) | 08/06/2022 08:30

É sabido que as questões ambientais não se iniciam nem se esgotam nos aspectos ecológicos ou pragmáticos da vida moderna, como o descarte do lixo ou o tratamento do esgoto, apesar de esses serem temas de enorme relevância. Como tantos pensadores já anunciaram, estamos em meio a uma crise civilizatória, resultante de um modelo de sociedade organizado em torno da exploração tanto do trabalho alheio quanto da natureza, com vistas à acumulação indefinida de posses e poder. Essa crise tem acelerado o percurso do planeta rumo a uma catástrofe climática cada vez mais iminente, contudo, os seus efeitos diários já estão postos há tempos: miséria, fome, violência, destruição de ecossistemas, extinção de espécies, línguas e culturas. É papel fundamental da educação atuar no sentido de frear essa tragédia e redirecionar as sociedades para um modelo sustentável em termos socioambientais, ação em que tanto o ensino básico quanto o superior podem colaborar significativamente.

Os três cês aos quais me referi no título do artigo são iniciais de palavras que expressam atitudes urgentes para a humanidade, há muito defendidas pelo mundo afora, mas nunca tratadas com a devida prioridade, e que são: Cuidado, pensamento Crítico e ação Coletiva.

A falta de Cuidado é, segundo Leonardo Boff, a mais grave consequência da sociedade de consumo individualista que construímos. O ato de Cuidar está diretamente ligado a valores opostos à competição, liberdade individual, sucesso e fama, tão enaltecidos diariamente pela mídia mas que fazem com que as pessoas se desconectem da realidade e mergulhem no mundo privado das suas necessidades individuais, muitas vezes nem tão necessárias, mas fabricadas pelo marketing.  Cuidar ajuda a promover o bem-estar e o pertencimento, que estão ligados à empatia e à responsabilidade pelas outras pessoas e seres, e pelos lugares que partilhamos.

Boaventura de Sousa Santos destaca o fundamental papel de enxergar a sociedade de modo Crítico, denunciando o mundo desigual em que vivemos a partir da naturalização do capitalismo como única forma possível de organização da sociedade contemporânea. Na atualidade, o pensamento Crítico deve envolver, sobretudo, nossa relação com as mídias, entendendo quem diz o quê e porque diz desta ou daquela forma.

Paulo Freire define educação como um ato político e nos lembra que não nos libertamos sozinhos, mas em comunhão, atuando como seres Coletivos. Participar politicamente e agir Coletivamente é a maneira mais coerente de educar no sentido de uma formação humana emancipatória e transformadora.

São três aspectos de uma mesma questão que recebem tratamentos diferenciados nos diversos níveis da educação formal. Mas a verdade é que são complementares e precisam ser considerados como igualmente importantes para uma educação ambiental humanizadora, tanto por escolas quanto por universidades.

Para você que chegou até aqui devo confessar que não estou muito seguro de que esses três cês sejam suficientes para salvar o mundo. Mas é uma certeza que ao menos o deixarão muito melhor.

(*) Marcelo Bizerril é professor da Faculdade UnB Planaltina e doutor em Ecologia pela Universidade de Brasília.

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