Um novo calendário não irá nos salvar: os projetos do ano que ficam inacabados
A cada virada de ano, renovamos promessas, metas e planos, como se o simples movimento de um ponteiro pudesse, por mágica, apagar as pendências do passado. “Ano novo, vida nova”, repetimos com entusiasmo, acreditando que a mudança de um número no calendário nos transformará em pessoas mais disciplinadas, focadas e capazes de finalizar aquilo que começamos. Mas a verdade é que não é um novo calendário que nos salvará. O problema não está no tempo, mas no compromisso que assumimos com nossos próprios projetos.
A ilusão da página em branco
Um novo ano traz a sensação de uma página em branco. Essa metáfora pode ser motivadora, mas também ilusória. Projetos inacabados não são apagados com o tempo — eles se acumulam em nossa mente como lembretes de frustração. O curso que começamos e não terminamos, a ideia do negócio que nunca saiu do papel, o hábito saudável que durou apenas algumas semanas… todos esses fragmentos ficam nos acompanhando.
Se não mudamos a maneira como encaramos esses planos, um novo ano não será diferente do anterior. A promessa de mudança perde força quando não há ação. O calendário pode até mudar, mas a responsabilidade pelo progresso continua sendo nossa.
Por que abandonamos nossos projetos?
Há muitos motivos pelos quais deixamos nossos planos pela metade:
1. Falta de planejamento realista: Criamos metas grandiosas, mas não quebramos em etapas pequenas e executáveis. O resultado? Desistimos diante das primeiras dificuldades.
2. Motivação passageira: O entusiasmo inicial é poderoso, mas ele não sustenta longos processos. Quando o cansaço e os obstáculos surgem, a motivação desaparece.
3. Perfeccionismo paralisante: O medo de não fazer algo perfeito nos impede de fazer qualquer coisa. Projetos não iniciados ou abandonados são, muitas vezes, vítimas do perfeccionismo.
4. Procrastinação: Adiamos tarefas desconfortáveis acreditando que teremos mais disposição amanhã. O problema é que o amanhã se transforma em meses.
A importância de finalizar o que se começa
Finalizar projetos não é apenas sobre atingir metas. É sobre construir um senso de comprometimento consigo mesmo. Quando abandonamos repetidamente aquilo que começamos, enviamos ao nosso cérebro a mensagem de que não podemos confiar em nossas próprias promessas. A autoestima enfraquece, e a confiança na capacidade de realizar diminui.
Concluir algo, mesmo que não perfeito, é libertador. Um projeto finalizado, por menor que seja, reforça a disciplina, o foco e, principalmente, a sensação de dever cumprido. É uma vitória sobre a procrastinação, o medo e as desculpas que contamos a nós mesmos.
Não espere por um novo calendário
Se você carrega projetos inacabados deste ano, não espere pelo próximo para retomá-los. A mudança não precisa de uma data simbólica — ela precisa de decisão e ação. Comece hoje, mesmo que seja aos poucos. Retome aquele curso, escreva as primeiras páginas do livro, volte àquele plano esquecido.
O tempo, afinal, é contínuo. Não existe uma linha mágica que separa dezembro de janeiro. O que existe é a sua vontade de terminar o que começou e de encerrar o ciclo com a satisfação de saber que, desta vez, você foi até o fim.
Lembre-se: não é o calendário que salva um projeto, mas a sua atitude em relação a ele.
(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.
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