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Viver Significa Tomar Partido

Por Cristiane Lang (*) | 23/01/2025 08:16

Em uma sociedade marcada por desigualdades, conflitos e dilemas éticos, viver plenamente exige mais do que apenas observar o que acontece ao nosso redor. Significa tomar partido, posicionar-se e agir diante das injustiças e erros que cruzam o nosso caminho. Como já dizia o escritor e filósofo Albert Camus, “viver é tomar partido”. Permanecer neutro, em muitos casos, é contribuir para a perpetuação do que está errado.

 Tomar partido não é sinônimo de agressividade ou polarização, mas de responsabilidade. É um ato de coragem e compromisso com os valores que defendemos. Neste artigo, vamos explorar por que devemos nos posicionar diante de injustiças, como encontrar equilíbrio ao tomar partido e como agir de forma construtiva para provocar mudanças significativas no mundo.

Por que tomar partido é essencial?

1.A neutralidade favorece o opressor O arcebispo Desmond Tutu, conhecido por sua luta contra o apartheid na África do Sul, afirmou que “se você é neutro em situações de injustiça, escolhe o lado do opressor”. Essa frase é um lembrete poderoso de que a neutralidade, em contextos de desigualdade ou erro, muitas vezes equivale a consentimento. Permanecer em silêncio diante de uma injustiça é, de certa forma, permitir que ela continue.

2.A construção de uma sociedade mais justa A mudança não acontece sem ação. Ao tomarmos partido e nos posicionarmos contra o que está errado, contribuímos para a construção de um mundo mais justo. Seja denunciando um comportamento discriminatório, defendendo os direitos de uma pessoa ou participando de movimentos sociais, nossas ações podem provocar transformações positivas.

 3.Fidelidade aos próprios valores

Tomar partido é também uma forma de respeitar a si mesmo. Quando escolhemos nos posicionar, estamos afirmando nossos valores e princípios. A omissão, por outro lado, pode gerar um conflito interno, já que não agir muitas vezes significa ir contra aquilo em que acreditamos.

Os desafios de se posicionar

Tomar partido nem sempre é fácil. Envolve riscos, como críticas, rejeição ou até mesmo represálias. Algumas das principais dificuldades incluem:

1.O medo do conflito

Posicionar-se pode gerar desconforto, especialmente em ambientes onde opiniões divergentes são vistas como uma ameaça. É natural querer evitar confrontos, mas o silêncio raramente resolve problemas.

 2.A pressão social

Muitas vezes, somos pressionados a nos conformar ou a evitar certos assuntos para “manter a paz”. No entanto, a verdadeira paz não é a ausência de conflito, mas a presença de justiça.

3.A complexidade das questões

Nem todas as situações são claras ou fáceis de interpretar. Em um mundo repleto de informações (e desinformações), pode ser desafiador entender todas as nuances de um problema antes de tomar partido.

 Como se posicionar de forma construtiva

Tomar partido não significa adotar uma postura inflexível ou agressiva. Pelo contrário, é possível (e necessário) agir de forma ética e construtiva ao lidar com injustiças e erros.

 1.Busque a verdade

Antes de se posicionar, é essencial buscar informações confiáveis e entender os fatos. Isso ajuda a evitar julgamentos precipitados ou injustos. Ser crítico e questionador é fundamental para garantir que seu posicionamento seja embasado e legítimo.

2.Defenda o diálogo

Posicionar-se não significa impor sua opinião, mas abrir espaço para um diálogo construtivo. Ouvir outros pontos de vista e debater com respeito são maneiras eficazes de promover mudanças e expandir a compreensão sobre uma questão.

3.Aja com empatia

Tomar partido exige sensibilidade para compreender as necessidades e dores dos outros. A empatia permite que suas ações sejam guiadas por compaixão, em vez de raiva ou ressentimento.

4.Comece onde você está

 Nem sempre é necessário fazer grandes gestos para se posicionar. Muitas vezes, pequenas ações no cotidiano, como confrontar uma atitude preconceituosa ou apoiar alguém que foi injustiçado, podem ter um impacto significativo.

5.Aceite as imperfeições

Você não precisa saber tudo ou estar certo o tempo todo para tomar partido. O importante é agir com sinceridade e estar disposto a aprender com os erros ao longo do caminho.

 Exemplos de tomar partido no dia a dia

1.No trabalho

Ao presenciar uma situação de assédio ou discriminação, tomar partido pode significar denunciar o comportamento inadequado ou oferecer apoio à vítima

. 2.Nas relações pessoais

 Às vezes, tomar partido significa se posicionar em conversas difíceis com amigos ou familiares, confrontando opiniões ou comportamentos prejudiciais de maneira respeitosa.

 3.Na sociedade

Participar de protestos pacíficos, assinar petições, votar conscientemente ou até mesmo educar-se sobre questões sociais são formas de se posicionar diante de injustiças mais amplas.

 O impacto de tomar partido

Ao nos posicionarmos, podemos não apenas influenciar positivamente as situações ao nosso redor, mas também inspirar outras pessoas a fazer o mesmo. A mudança é muitas vezes impulsionada por indivíduos comuns que tiveram a coragem de agir, mesmo quando parecia mais fácil permanecer em silêncio.

Tomar partido não é apenas um ato de resistência contra a injustiça; é também uma maneira de afirmar que nos importamos com o mundo em que vivemos. É uma declaração de que acreditamos que as coisas podem – e devem – ser melhores.

Viver significa tomar partido, porque a vida exige de nós escolhas e responsabilidade. Não podemos ignorar injustiças ou erros esperando que outros resolvam os problemas por nós. Ao nos posicionarmos, não apenas reafirmamos nossos valores, mas também contribuímos para um mundo mais justo, empático e humano.

Embora tomar partido exija coragem e resiliência, é um dos atos mais dignos e significativos que podemos realizar. Afinal, como disse Martin Luther King Jr., “a injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar”. Não permita que o medo do confronto ou a pressão do silêncio o impeçam de viver de forma íntegra. Porque viver plenamente significa, acima de tudo, lutar pelo que é certo.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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