Solidão assistida... E quem aqui, não está?
Que a palavra nunca te pegue desprevenido, como quando por exemplo comigo, olhava a vitrine e me deparei assistido em absoluta solidão. Encarei o reflexo embaçado do vidro transparente, olhei ao redor percebido e por telepatia pela da ponta do nariz, retribuí a acusação: — E quem aqui, não está?
Afasto a ideia de solidão do que erroneamente associei a sofrimento. Tenho solidões de felicidade imensurável e quando bem administrada, me permite experimentar o que não faria sem um expectador. Sem mencionar o que faria, mas que por pudor, silencio para que não me saibam, como se fosse possível que alguém por apenas me ver, pudesse me ver.
Vou me resvalando aos outros, afundado na timidez que me disciplina a não constranger ou ainda na inconformidade que me impunha seduzir para quem sabe esbarrar no antônimo de solidão que desconheço, pois quem não está só, está o quê?
Não poderia dizer acompanhado sem estar sendo cínico. É obvio que tenho amigos, que saio às ruas e recebo mensagens e as respondo. Mas isto? Isto não é não estar só. É ser um solitário assistido e, por Deus, como isso tantas vezes me basta e salva.
Volto a olhar por entre o vidro transparente, tal fosse apenas um globo ocular que existe e sabe. A palavra já um pouco mais acomodada, se conforma em desejar o que a vitrine separa. Embora ainda me falte antônimo que valha à solidão, sobra-me sinônimos para rir de quem me olha. Somente um solitário reconheceria outro.
Texto de Vini Willyan.