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Cidades

"Achei que era celular", diz piloto à Justiça sobre carga de 500 kg de cocaína

Droga, segundo a PF, era de organização criminosa alvo da operação "Grão Branco"

Marta Ferreira | 07/05/2021 14:54
O avião que foi interceptado em Ivinhema, com meia tonelada de cocaína. (Foto: Divulgação)
O avião que foi interceptado em Ivinhema, com meia tonelada de cocaína. (Foto: Divulgação)

A Justiça Federal condenou a 8 anos e 6 meses de reclusão o piloto sul-mato-grossense Nelio Alves de Oliveira, de 71 anos, preso em 2 de agosto do ano passado, mais de meia tonelada de cocaína, depois de tentar escapar de caças da FAB (Força Aérea Brasileira).
O serviço de transporte de entorpecente, segundo o levantamento da Polícia Federal, foi contratado por organização criminosa alvo da operação “Grão Branco”, realizada nesta quinta-feira (6) em nove estados.

Nelio e o co-piloto, Julio Cesar Limas Benitez, 41 anos, também condenado, negaram saber que estavam transportando droga. Disseram ter iniciado o voo em Amambai, cidade fronteiriça ao Paraguai, além de achar que se travava de uma carga ilegal de celulares.

Admitiu ter recebido R$ 30 mil pelo trabalho, valor considerado improvável segundo os dados oficiais da investigação. Ao mesmo tempo, o trabalho policial apontou a Bolívia como um dos locais onde os dois presos estiveram.

Na sentença condenatória, o juiz Moisés Anderson Costa Rodrigues da Silva, da 1ª Vara Federal de Dourados, relata que na casa de Julio César foi encontrada anotação em papel onde havia a descrição de valor sobre serviço ligado à aviação agrícola.

Porém, estranhamente, indicava um faturamento de trezentos mil dólares, mais de R$ 1.000,000,00, na cotação atual. Isto possivelmente se refere a serviços voltados para o tráfico de drogas considerando o possível montante auferido com o “serviço”, está descrito no despacho.

Nelio, ex-vereador e ex-vice-prefeito de Ponta Porã, pilotava avião bimotor que foi interceptado em 2 de agosto do ano passado pela Força Aérea Brasileira em Ivinhema, na região sul do Estado. O juiz cita dados da acusação indicando relações com os narcotraficantes baseados na Bolívia, que é conhecida por ser exportadora de droga.

Além da cocaína, material tecnológico apreendido na aeronave Baron  Beechcraft comprova o uso no tráfico transnacional. Apenas dois dias antes de “cair” com a droga, Nelio e o co-piloto estiveram no país vizinho, conforme a peça judicial.

“No avião utilizado para o transporte da droga foram apreendidos diversos aparelhos celulares, inclusive um aparelho telefônico satelital, bem como um GPS específico para aviação”, escreve o magistrado.

Os equipamentos, continua, tinham fortes indícios de que os réus entraram em contato com pessoas do Paraguai, além de que estiveram na Bolívia no dia 30 de julho de 2020, uma quinta-feira.

No domingo, 2 de agosto, a dupla foi presa depois de fazer pouso forçado na área rural de Ivinhema.

Interceptação - Antes disso, receberam aviso de militares para interromper o voo, em Três Lagoas, mas não o fizeram. Acabaram sendo abatidos em Ivinhema, como autoriza a lei brasileira.

Ouvidos em janeiro pelo juiz federal, os dois negaram que fizeram o serviço sem a ciência de se tratar de tráfico internacional. A tese foi negada.

“Ora, sabiam que era ilícito o frete que faziam. Não desejaram perquirir o frete, mas sim, auferir os ganhos dele decorrentes. Houve, sim, dolo eventual porque a eles pouco importava o que transportava, eletrônicos, celulares, droga, cocaína, cigarro, não deixou de agir”, apontou o magistrado.

Para o magistrado, não é crível que dois pilotos, com experiência, aceitassem levar a carga sem ao menos inspecionar seu conteúdo.

Foi anotado, ainda, o fato de terem sido descobertos vestígios de cocaína na aeronave, grudado nos bancos e espalhados no piso interno da cabine. “É impossível que os réus não soubessem que transportavam drogas”, sentencia o magistrado.

Os dois foram condenados a mais de 8 anos e agora o processo está na fase de recurso, no TRF 3 (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região.

Nelio e o co-piloto no dia da prisão, depois de tentar fugir de caças da FAB (Força Aérea Brasileira)
Nelio e o co-piloto no dia da prisão, depois de tentar fugir de caças da FAB (Força Aérea Brasileira)

Reincidente – Julio Cesar, conforme a sentença judicial, era réu primário. Nelio, não. Já havia sido condenado por tráfico, na mesma ação contra Luiz Carlos da Rocha, o “Cabeça Branca”, preso em 2017, em uma das maiores operações já feitas pela PF, a Spectrum.

Foi solto em novembro 2018, por decisão do ministro Ricardo Lewandowski, sob o argumento de demora no andamento da ação na qual foi condenado junto com “Cabeça Branca”.

 De volta à prisão, Nelio cumpre a prisão preventiva na PED (Penitenciária Estadual de Dourados), onde também está Júlio César.

Nesta quinta-feira, a PF botou nas ruas a operação “Grão Branco”, realizada a partir de Cáceres, no Mato Grosso, onde o chefão do grupo, Ary Fernando Swenson Hernandez, de 53 anos, tinha negócios.

Hernandez está preso em Corumbá, em Mato Grosso do Sul, depois de ter expulso da Bolívia, onde vivia em Santa Cruz de La Sierra, em condomínio de luxo. De lá, comandava o tráfico. Depois que foi preso, pessoas de sua confiança mantiveram-se no narcotráfico, de acordo com a operação deflagrada.

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