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Cidades

Cidades que vacinarão a partir dos 18 anos vão cobrar comprovante de residência

Nos 13 municípios de fronteira, que vacinarão com Janssen, há pelo cerca de 19,9 mil vacinados que são de fora

Guilherme Correia | 25/06/2021 10:40
Homem recebe vacina contra a covid-19 em Mato Grosso do Sul (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
Homem recebe vacina contra a covid-19 em Mato Grosso do Sul (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Os 13 municípios sul-mato-grossenses que fazem fronteira com países vizinhos já contabilizam 19,9 mil vacinados que são de fora dessas cidades. Agora, com a região entrando em projeto de imunização geral, a preocupação aumenta com os visitantes em busca de vacina. Os 13 receberão 150 mil doses da Janssen contra a covid-19 para vacinar pessoas com 18 anos ou mais.

Levantamento feito pelo Campo Grande News, com base em dados divulgados pelo Ministério da Saúde, verificou que pelo menos 148,1 mil aplicações de vacinas em Mato Grosso do Sul foram feitas em pacientes de fora do município onde foi imunizados.

Esse número representa cerca de 10% e pode incluir uma série de pessoas, tais como as que de fato nasceram em outros lugares, mas já moram há um bom tempo nesses municípios.

Com esses índices, as prefeituras das cidades fronteiriças com Bolívia e Paraguai, tentam evitar a “migração vacinal”, mas esperam pelo bom senso dos moradores.

As cidades contempladas com esses imunizantes são Mundo Novo, Japorã, Sete Quedas, Paranhos, Coronel Sapucaia, Aral Moreira, Ponta Porã, Antônio João, Bela Vista, Caracol, Porto Murtinho, Corumbá e Ladário.

Análise feita pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), com dados de todo o País, indica que há 11 milhões de aplicações de doses em municípios fora da residência dos vacinados.

Em nota técnica publicada pela instituição, foi observado que há pessoas que moram numa cidade mas trabalham em outra e não conseguem se vacinar no local de moradia porque o posto de vacinação está fechado, mas há também "pessoas que buscam municípios do entorno por já estarem adiantados no calendário de vacinação".

Os pesquisadores que elaboraram o documento também citam que há pessoas que optam por se vacinar com determinada patente de vacina ao invés de outra que esteja sendo disponibilizada.

Comprovação - A Secretaria Municipal de Saúde de Corumbá, município a 419 quilômetros de Campo Grande e que tem maior população dentre os 13, informa que tem requisitado comprovante de residência para que a pessoa prove que mora na cidade. Caso seja familiar, terá de comprovar vínculo com o morador, tais como Certidão de Casamento, por exemplo.

Moradores de outras cidades já estão ligando para a Secretaria de Saúde de Sete Quedas, a 471 quilômetros de Campo Grande, para checar a disponibilidade das vacinas da Janssen. A resposta para todos eles, contudo, tem sido negativa, conforme o prefeito Francisco Piroli (PSDB).

A preocupação é a fronteira, já que muitos brasileiros, aproximadamente cinco mil, têm endereço no Paraguai, estamos com uma dificuldade tremenda. Até então, a estratégia era priorizar os brasileiros e depois os paraguaios que moram aqui, mas agora a recomendação é vacinar todo mundo”.

Piroli ainda destaca que a falta de estrutura hospitalar do país vizinho faz com que paraguaios tenham de ser atendidos e até internados em território brasileiro. “Mas a recomendação [da Secretaria Estadual de Saúde] é para atender as pessoas, e a gente está fazendo isso. Mas estamos sem fôlego”.

O prefeito de Antônio João, a 279 quilômetros de Campo Grande, Marcelo Pé (DEM) destaca que receberam a notícia com muita felicidade e já vislumbra expectativa “de voltar à normalidade” em breve.

Apesar disso, ele ressalta que se não fosse essa doação a imunização na cidade estaria muito devagar nas próximas semanas. “Hoje só vieram 50 doses, estávamos esperando mais”, confessa.

O outro obstáculo será evitar com que pessoas de fora queiram tomar vacina no município. “Nos preocupa, até porque como vamos dizer para pessoas que não vão tomar vacina? Mas iremos solicitar o cartão SUS [Sistema Único de Saúde], e mediante o endereço, vão vacinar”, completa.

Ilha laranja - Em Caracol, a 364 quilômetros de Capital, o chefe do executivo municipal, Neco Pagliosa (PSDB) recebeu com alegria a informação do quantitativo ao município e destaca o desempenho da cidade na vacinação. “Se tu observar no mapa, Caracol tem sido uma ‘ilha’, bandeira laranja em meio a bandeiras cinzas e depois vermelhas. Estamos entre os 10 primeiros do Estado na nossa vacinação. Temos vacinado, feito mutirão e agora vamos fazer de novo. Temos certeza que essa vacinação vai trazer a normalidade da vida do caracolense”.

Por fim, ele menciona outras medidas não farmacológicas para, em conjunto com a imunização, conter a pandemia do coronavírus. "Apesar de estarmos em bandeira laranja, mesmo assim aumentamos restrições até o dia 30 e a população tem aceitado bem. No momento que começaram alguns óbitos de pessoas conhecidas a população se conscientizou”.

A estratégia, segundo ele, será semelhante à dos municípios ao redor, tornando obrigatória apresentação do cartão SUS, que será verificado pela Secretaria de Saúde local durante a triagem no momento da vacinação. “Tivemos conhecidos nossos querendo vacinar em Caracol e não aceitamos. A vacina de Caracol é para o caracolense. Se não, infelizmente, vamos ter que tirar a oportunidade de quem é daqui”.

Cinturão sanitário - No geral, esses municípios receberam com boa expectativa notícia de que o Ministério da Saúde deverá repassar 150 mil doses de vacina da Janssen, que virão de doação feita pelos Estados Unidos.

Elas têm aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), já que passaram pelos testes clínicos do órgão, e Mato Grosso do Sul as utilizará para fazer estudo nas cidades fronteiriças para demonstrar, na prática, os resultados desse processo.

Esse aumento no quantitativo só foi possível por conta da pressão feita pela própria população, por meio da hashtag #vacinageralms, por parlamentares como a vereadora Camila Jara (PT), deputados federais como Fábio Trad (PSD) e Rose Modesto (PSDB), ou mesmo senadores como Simone Tebet (PMDB).

Vale lembrar que o pedido inicial partiu do Cosems (Conselho de Secretaria Municipais de Saúde), e contou também com apoio de outras entidades sul-mato-grossenses.

Demanda - Segundo estimativa populacional feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), esses 13 municípios somam 367.494 habitantes. Ao subtrair esse número pelo total de vacinas de 1ª dose aplicadas em todas essas cidades, sobrariam 225.291 pessoas.

Vale ressaltar que o estudo pretende aplicar doses da Janssen em pessoas com 18 anos ou mais, o que reduziria para cerca de 180 mil habitantes que estariam inclusos nessa vacinação.

Portanto, esses imunizantes cobririam cerca de 83% da população adulta que ainda não tomaram nenhuma dose, ou aproximadamente 66% da população total.

Eficácia - Foram feitos vários testes clínicos da vacina da Janssen para verificar a taxa de eficácia. O índice foi de até 72% nos Estados Unidos, de até 68% no Brasil e de até 64% na África do Sul após aplicação com a dose única.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), essa patente apresenta alta eficácia na prevenção de hospitalização e morte pela covid-19. Uma dose única da vacina tem eficácia global, que reúne dados de todos os estudos clínicos, de 66,9% contra infecções sintomáticas, de 76,7% contra doença grave e morte após 14 dias e de 85,4% após 28 dias de imunização.

Por ora, não há recomendação de ser aplicado em gestantes, por exemplo. Vale lembrar que é o único imunizante aprovado e que deve ser aplicado em dose única, e utiliza a tecnologia de vetor viral, que é um vírus enfraquecido que transporta os genes virais para dentro das células, estimulando a resposta imunológica. A mesma metodologia é utilizada pela Astrazeneca.

Na metade do mês, a Anvisa prorrogou a validade da vacina, que passa a ser de quatro meses e meio, tal qual a decisão tomada pela autoridade respectiva dos Estados Unidos, a FDA (Food and Drug Administration).

O contrato do Ministério da Saúde com a Janssen prevê a entrega de 38 milhões de vacinas ao Brasil até o final de 2021. Ainda segundo a pasta, essas vacinas têm de ser armazenadas em temperaturas de 2°C a 8°C, equivalente a geladeiras normais.

(*) matéria editada às 11h55 de 26 de junho para correção de informação no subtítulo. Municípios de fronteira com Paraguai não irão vacinar paraguaios sem documentação, somente residentes no município de acordo com documentos exigidos.

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