Com vítimas em MS, 33 suspeitos de aplicar golpe dos nudes são presos
Grupo movimentou milhões com golpe que conta com internos de presídios do Rio Grande do Sul e Santa Catarina
Durante a Operação Cantina, deflagrada pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, nesta segunda-feira (29), 33 suspeitos de aplicar o golpe dos nudes acabaram presos. Foram identificadas, até o momento, 80 vítimas em 12 estados brasileiros, incluindo Mato Grosso do Sul.
O crime consiste em criar um perfil falso nas redes sociais, se passar por uma jovem e atrair, em maior parte, homens de meia-idade e de classe média/alta. A conversa evolui e há troca de imagens íntimas, os famosos nudes. A polícia gaúcha identificou que o grupo chegou a aliciar, ao menos, uma adolescente de verdade, que vendia a foto íntima por cerca de R$ 200.
Depois, os criminosos - maioria detentos do presídio de segurança máxima do Rio Grande do Sul - se passam por familiares da jovem ou até policiais e afirmam que o homem estava trocando imagens íntimas com uma menor de idade. A partir de então, passam a exigir dinheiro para não expor a situação e não denunciá-lo por pedofilia.
O grupo se especializou tanto que chegava a enviar fotos de documentos e boletins de ocorrência. “O esquema era perfeitamente delineado, com vasto material que auxiliava na ilusão das vítimas e que era transmitido entre os criminosos. Para a produção do material, os investigados inclusive aliciavam adolescentes, que mandavam fotografias, áudios e vídeos sob remuneração e até mesmo sob ameaças”, disse o delegado Rafael Liedtke.
O esquema chegou a movimentar milhões de reais em ações comandadas de dentro de presídios. Uma vítima desembolsou R$ 100 mil. Além de Rio Grande do Sul e Santa Catarina, foram identificadas vítimas no Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná e São Paulo.
Caso em MS - Em 16 de maio deste ano, um médico, de 52 anos, pagou R$ 28 mil após uma pessoa desconhecida entrar em contato e ameaçar publicar fotos suas como "médico pedófilo". À polícia, o profissional contou que a pessoa que fez as ameaças entrou em contato pelo Whatsapp, enviando diversas mensagens com um número de DDD 11. No texto, dizia que iria publicar na internet fotos suas como pedófilo.
Na sequência, mandou uma montagem de imagem com foto pessoal do Instagram do médico. O profissional disse que ficou com medo de ter dados expostos e por ser um médico conhecido na cidade, fez três transferências Pix para duas contas bancárias de instituições diferentes, no nome da mesma pessoa: Cintia Barcelos de Almeida.
Operação Cantina - A ação ocorreu simultaneamente no estado do Rio Grande do Sul, nas cidades de Porto Alegre, Canoas, Cachoeirinha, Gravataí, Alvorada, Viamão, Tramandaí e Imbé; e no estado de Santa Catarina, nos bairros Ingleses e Carianos, localizados na cidade de Florianópolis.
Ao todo, 33 pessoas foram presas durante a ação, que resultou ainda na apreensão de veículos, armas de fogo, munições, dinheiro em espécie, entre outros bens.
De acordo com Liedtke, as investigações iniciaram há 11 meses com a prisão em flagrante de um homem, no município de Cachoeirinha (RS). Com ele, foi apreendida uma pistola Taurus, G2c, calibre 9 mm e um veículo Mercedes-Benz, avaliado em R$ 160 mil. A partir dessa prisão, foi constatada a existência de uma organização criminosa muito bem estruturada, especializada no cometimento destes delitos, com base nas zonas leste e sul da capital gaúcha e com ramificações no estado de SC.
Segundo o que foi apurado, um dos líderes da organização, que se trata de um dos braços de uma das facções criminosas de maior atuação no RS, já esteve preso em presídios da Capital, onde exerceu a função de cantineiro e fez diversos contatos com faccionados. Uma vez em liberdade, mas em razão desses contatos, arregimentava outros criminosos, geralmente recolhidos, pra ajudarem na prática do conhecido golpe dos nudes.
A segunda etapa do esquema era a receptação do produto das extorsões por pessoas também aliciadas pela organização. Essas posteriormente pulverizavam o dinheiro entre laranjas, remunerados pelos criminosos, até que o dinheiro voltasse para os responsáveis pelas extorsões.
Os valores retornavam para os líderes, sustentando luxos deste e de familiares, e também eram distribuídos para outros criminosos, em sua maioria presos e que usavam do dinheiro para obterem regalias nas cantinas dos estabelecimentos prisionais. Além disso, parte do lucro alimentava o tráfico de drogas e de armas.
Os presos responderão por crimes de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, porte ilegal de munições e armas de fogo, extorsões e corrupção de menores.