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Cidades

Em meio à investigação da PF, Conselho aponta 41 mortos entre os terena

“Não é um genocídio comum, somente da morte dos corpos, mas é acima de tudo um genocídio cultural”, diz professor terena

Izabela Sanchez | 19/08/2020 10:43
Em meio à investigação da PF, Conselho aponta 41 mortos entre os terena
Idoso terena enterrando outro idoso morto pela covid na aldeia bananal em Aquidauana (Foto: Divulgação)

Turbilhão de problemas com falta de recursos para a pandemia e vinda de secretário nacional a Mato Grosso do Sul competem com o turbilhão dos mortos por covid-19 entre os terena, uma das etnias indígenas mais numerosas de Mato Grosso do Sul. Enquanto a Polícia Federal bate à porta do Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) em Campo Grande nesta quarta-feira (19), “boletim alternativo” divulgado pelo Conselho Terena aponta 41 mortos até agora.

O número é diferente do último e maior do que o apresentado no último boletim divulgado pelo Distrito no dia 17. Neste boletim, o Dsei declara 33 mortos em todas as comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul, incluindo as de etnia como Guarani e Kaiowá, por exemplo.

O levantamento dos números também tem outro obstáculo: há mais de uma semana que o Dsei está sem coordenador. Eldo Elcidio Moro foi exonerado do cargo por ato do ministro interino da saúde, o general do Exército Eduardo Pazuello.

Organização política dos Terena, o Conselho tem realizado levantamento desde julho e o boletim divulgado, o terceiro, é resultado de levantamentos até em aldeamentos urbanos. O Conselho critica a dificuldade em obter dados junto à Sesai e ao Dsei.

As aldeias de Aquidauana lideram em número de mortos: 18 confirmados até agora, segundo o Conselho. O número também consta em boletim reunido pelos profissionais de saúde do polo base de Aquidauana, conforme documento enviado ao Campo Grande News.

Genocídio – Um dos integrantes do Conselho Terena, o biólogo e professor terena Eric Paiva, 22, chama a situação de genocídio e adiciona que “além da morte do corpo está ocorrendo a morte da cultura”.

“Não é um genocídio comum, somente da morte dos corpos, é, acima de tudo, um genocídio cultural”, diz o jovem.

Ele é um dos responsáveis pelo levantamento e tratamento dos dados no Conselho e cita que a dificuldade é sofrer o luto e, ao mesmo tempo, precisar contar os mortos.

“O maior grau de dificuldade se dá somente em que além de viver esse momento temos que nos preocupar em levantar dados porque a Sesai não está fazendo direito. Viver esse momento e, ao mesmo tempo, ter um órgão que deveria estar monitorando e não está é difícil. A gente ter que expressar em números o que não se expressa em números pela Sesai fazer errado”, comenta ele.

Conforme Eric, muitos idosos estão entre as vítimas.

“Quando morrem nossos anciãos e deixam pessoas mais novas é um momento que a gente perde nossa identidade. Se hoje a gente existe enquanto povo terena, sabe a nossa língua, é pela vida dos nossos avós e anciãos”, disse Eric.

Ele disse que a chegada de policiais federais à sede do Dsei nesta quarta “não é uma surpresa”. “A gente sempre soube que existem erros muito fortes, essa ação da polícia nem surpreende porque a gente acompanha e a gente sabe que existem coisas erradas”, comentou.

“Se você não conta direito esses dados, você traz uma narrativa der que está tudo bem. A gente vê que estão tentando criar um contexto de que está tudo bem, isso é o mais doloroso. Porque tem essa distorção tão grande, não conta vidas que não estão nas aldeias. Esses dados estão subnotificados. O número de infectados e de óbitos é muito maior”, diz ele, sobre os dados da Sesai.

Operação – Conforme levantou o Campo Grande News, a PF cumpre mandados de busca e apreensão na sede do DSEI em operação que investiga irregularidades relacionadas à saúde indígena. Os agentes chegaram ao DSEI por volta das 6h30. No local, vistoriaram documentos e computadores.

A reportagem entrou em contato com a Sesai, por meio da assessoria de imprensa da Secretaria no Ministério da Saúde, mas não foi possível obter resposta até a conclusão da reportagem

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