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Cidades

Gigantes da Era do Gelo viveram em MS mais tempo que o imaginado, diz pesquisa

Estudo brasileiro com participação de MS ganhou repercussão internacional por desafiar dogmas científicos

Por Guilherme Correia | 26/01/2025 08:29
Gigantes da Era do Gelo viveram em MS mais tempo que o imaginado, diz pesquisa
América do Sul foi lar de animais hoje extintos, como o tigre-dente-de-sabre e a preguiça gigante. (Foto: Mauricio Anton/Science Photo Library)

Pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) estão mudando o que se sabe sobre os gigantes da Era do Gelo.

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Um estudo realizado por pesquisadores da UFRJ, UERJ e UFMS revelou que muitas espécies da megafauna da Era do Gelo, como tigres-dentes-de-sabre e preguiças-gigantes, sobreviveram até cerca de 3 mil anos atrás, desafiando a crença de que haviam desaparecido abruptamente há mais de 12 mil anos. A pesquisa, que utilizou datação por carbono-14, indicou que cerca de 80% da megafauna sul-americana foi extinta devido a mudanças climáticas e ambientais, sem evidências significativas de impacto humano. O Mato Grosso do Sul foi destacado como um dos últimos refúgios dessas espécies, com novas descobertas paleontológicas sendo feitas na região, evidenciando a importância do estado para o estudo da evolução da vida no planeta.

Um estudo revelou que muitas dessas espécies, que acreditávamos ter desaparecido há mais de 12 mil anos, na verdade sobreviveram por mais tempo. Regiões como Itapipoca (CE) e Miranda (MS), a 203 quilômetros de Campo Grande, foram os últimos refúgios de animais como tigres-dentes-de-sabre, preguiças-gigantes e mastodontes, com fósseis datados de até 3 mil anos atrás.

De acordo com a professora e pesquisadora de geociências da UFMS, Edna Maria Facincani, o processo de extinção desses animais gigantes foi gradual, ocorrendo do início até meados do Holoceno, e não abrupto, como sugeriam teorias anteriores.

O estudo ganhou destaque internacional e, segundo ela, contribui para entender melhor o passado e prever possíveis impactos ambientais futuros. “Essas variações paleoclimáticas são fundamentais para a gente entender o passado e, principalmente, de 12 mil anos até o presente”, disse ao Campo Grande News.

Até recentemente, acreditava-se que a megafauna, composta por grandes mamíferos do Pleistoceno (período encerrado há cerca de 12 mil anos), havia sido extinta devido a mudanças climáticas e à ação humana. Porém, a nova pesquisa, baseada na datação de fósseis brasileiros com carbono-14, mostrou que algumas espécies sobreviveram até cerca de 3 mil anos atrás.

Gigantes da Era do Gelo viveram em MS mais tempo que o imaginado, diz pesquisa
Réplicas do esqueleto de preguiças-gigantes no National Museum of Natural History, nos Estados Unidos. Animais pesavam até 5 toneladas e viveram na região de Miranda. (Foto: Wikimedia Commons/Reprodução)

Segundo Fancicani, cerca de 80% da megafauna sul-americana foi extinta por mudanças ambientais, como aumento de temperatura e umidade, que expandiram florestas tropicais e alteraram habitats.

Diferentemente de outros continentes, não há evidências significativas de que a ação humana tenha sido determinante na América do Sul. “Nos fósseis analisados, não encontramos registros expressivos de uso humano, como ornamentos feitos de ossos ou dentes."

Os fósseis estudados, provenientes do Museu de Pré-História de Itapipoca (MUPHI) e da UFMS, incluem tigres-dentes-de-sabre, preguiças-gigantes, mastodontes, toxodontes, paleolamas e Xenorhinotherium bahiensis, um animal com características de lhama e anta.

Os espécimes, datados entre 8 mil e 3,3 mil anos, reforçam a ideia de uma extinção gradual e não simultânea em diferentes biomas.

Animais da Era do Gelo em MS - Entre os exemplos estudados por Edna, a anta foi citada como uma espécie da megafauna que sobreviveu e se adaptou bem às condições ambientais da América do Sul, enquanto desapareceu na América do Norte, onde se originou. “Hoje nós só temos a anta graças a esse processo migratório dela e, ao mesmo tempo, uma boa adaptação.”

Outro destaque da pesquisa é a datação dos últimos refúgios de espécies como a preguiça-gigante (Eremotherium laurillardi).

De acordo com Facincani, o Mato Grosso do Sul foi um dos últimos habitats desse animal, com registros datados de cerca de 5.900 anos.

A pesquisa, realizada por Fábio Henrique Cortes Faria (UFRJ), Celso Ximenes (MUPHI), Hermínio Araujo Júnior (UERJ), além de Edna, foi coordenada por Ismar de Souza Carvalho (UFRJ).

Gigantes da Era do Gelo viveram em MS mais tempo que o imaginado, diz pesquisa
Dente de preguiça-gigante encontrado por pesquisadores em MS. (Foto: Divulgação)

UFMS cria laboratório - Facincani ressalta os avanços nas pesquisas paleontológicas no estado desde a criação do Laboratório de Geologia e Paleontologia na UFMS, do qual teve participação essencial. Segundo ela, antes de sua implementação, fósseis encontrados na região eram enviados para outras partes do país, principalmente para o Sudeste.

"Quando você encontra um fóssil, esse fóssil é da União, não é da pessoa. Sendo da União, quem pode receber esses fósseis são instituições públicas", reforçou a pesquisadora.

Desde a criação do laboratório, novos sítios paleontológicos têm sido identificados no estado. Ela destaca descobertas em cavernas das regiões de Bonito, Bodoquena e Jardim, além de canais fluviais como os rios Paraguai, Miranda e Apa. "O Rio Apa também é um novo sítio paleontológico [...] Conforme as pesquisas avançam, novos sítios vão sendo encontrados e caracterizados.”

"A colaboração com a comunidade local tem sido essencial nesse processo", diz.

A pesquisadora citou o exemplo de um fazendeiro que identificou fósseis na região do Rio Apa em 2001. "Essas mesmas pessoas nos acolhem [...] É uma parceria. A sociedade também tem um papel muito importante no desenvolvimento científico.”

Relevância geológica de MS - Facincani ressaltou a importância do Mato Grosso do Sul para a paleontologia devido à exposição de diferentes unidades geológicas no estado. "Se eu quero um fóssil muito antigo, do início da vida, vou buscar na região de Corumbá”, diz.

“Se eu quero fósseis do mesozoico, que fala dos répteis, eu vou nas rochas do Triássico, Jurássico e Cretáceo", exemplificou, mencionando região de Rio Verde de Mato Grosso. A região apresenta registros que vão desde o pré-cambriano até o cenozoico, permitindo estudos detalhados sobre a evolução da vida.

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