Há quem escolheu MS ao invés da praia, mas e você, como veio parar aqui?
Quem plantou coração no solo sul-mato-grossense se nega a ir embora e diz ter fincado raízes
Nem a praia me ganhou. Como dizem os antigos, acho que plantei o coração aqui'; 'É muito engraçado porque aqui me encontrei'; 'não largo não'; 'Finquei as raízes mesmo e aqui ficarei, eu amo”.
É assim, com sentimento de pertencer ao local que habitam, que pessoas não nascidas em solo sul-mato-grossense descrevem a sensação de terem sido acolhidas pelo Estado que hoje completa 47 anos. As histórias que começam em lugares distintos do Brasil se afunilam e acabam no mesmo lugar. Mas afinal, como essas pessoas vieram parar em Mato Grosso do Sul?
Em Campo Grande, há quem se negue a abandonar o Estado por ter se apaixonado pela cultura, natureza ou ritmo de vida. E mesmo aqueles que já saíram, retornam anos depois. A justificativa? Não encontraram lá fora o mesmo que o Estado oferece.
Quem ilustra bem esse caso é Tania Barretos, de 59 anos, ex-corretora de imóveis e agora artesã. As andanças a levaram de volta a Sorocaba, interior de São Paulo, cidade onde nasceu.
Apesar de retornar às origens, ela não se adaptou ao local e resolveu voltar. Tânia chegou ao Estado ainda adolescente com os pais. Além do município materno, ela também se mudar para Bauru, outra cidade do estado paulista. O fim foi o mesmo: arrependimento e retorno. A situação é explicada por ela com a famosa frase “de volta para minha terra”.
Antes de fincar os pés em Mato Grosso do Sul, a família, que saiu da Bahia, foi para Presidente Prudente e depois para Sorocaba.
“No início foi meio complicado porque o paulista é um pouco diferenciado do sul-mato-grossense, mas depois que me apaixonei. Já fui embora duas vezes, mas voltei. Não tenho vontade de ir embora. Fui pra outro estado, Santa Catarina é maravilhoso, mas nem a praia ganhou meu coração. Minha irmã mora em Santos, quando quero praia vou pra lá e volto. Como dizem os antigos, acho que plantei o coração aqui”.
Ela conta que ter atuado tanto tempo no Estado como corretora fez com que se sentisse em casa e conhecesse cada cantinho da Capital. “Trabalhei como corretora por 25 anos, conhecia bem a cidade, conhecia cada espaço e gostei dele, não tenho dificuldade em fazer amizades e relacionamento. Isso facilitou um pouco”. Hoje ela ensina artesanato para crianças e idosos na associação beneficente Amor à Vida.
No bairro Amambaí, em Campo Grande, ainda na associação, Adélia Aparecida Soares, de 47 anos, conta entusiasmada sobre como chegou em Mato Grosso do Sul. A baiana saiu da cidade de Formança do Rio Preto há 30 anos. O motivo? O casamento com o marido sul-mato-grossense.
Com a cara e coragem, a merendeira largou a cidade que amava para se aventurar em um Estado até então desconhecido. Foram 1.455 quilômetro, quase 24 horas de viagem.
“Casei e vim pra cá. Eu conheci meu esposo na minha cidade e com 4 meses me casei. Não conhecia nada. Eu amava minha cidade, mas aqui é bom, gostoso de morar. Minha vida é boa aqui, na minha cidade não tenho o conforto que tenho, como hospital, faculdade, trabalho, meu filhos não teriam faculdade”.
Os filhos também se negam a voltar para Bahia. Nascidos em solo sul-mato-grossense, eles alegam gostar de onde moram. “Eles amam aqui e querem ficar aqui”.
Se encontrar
A mineira Daniela Katiascia, de 47 anos, garimpava roupas na associação quando foi abordada pela reportagem. Tímida, a dona de brechó conta que já viveu em outros estados devido à profissão do marido, mas que se encontrou em Mato Grosso do Sul.
“Tem 5 anos que eu moro aqui. Meu esposo é militar. No início foi difícil, mas agora estou amando. É muito engraçado porque aqui eu me encontrei”. Antes de chegar à capital, Daniela morou seis anos no Rio de Janeiro. Ela e a família já moraram também em Cáceres, no Mato Grosso.
“A adaptação foi difícil, devido ao calor e a distância da família. Tenho dois filhos, meu menino ama aqui, eles falam que a cidade é fácil, tudo perto, não tem violência, pode andar tranquilo”.
Apesar de já ter vivido na cidade maravilhosa [Rio], ela conta que prefere Mato Grosso do Sul e que está tentando prorrogar a estadia por mais dois anos.
“A profissão do meu esposo transfere de lugar para lugar, já era pra ter ido embora. Nunca tive a oportunidade de mexer com brechó. Já fazia customização de roupa, mas brechó não. Chegou aqui me deu depressão, aí com isso comecei a ver o lado bom da cidade. Comecei a mexer com isso. Agora sou garimpeira e exponho em feiras”.
Sobre a fama dos sul-mato-grossenses serem menos receptivos, a mineira não concorda. A empreendedora explica que tem mais amizades com pessoas nascidas aqui do que com as vindas de outros estados que moram no mesmo condomínio que ela. “Não acho que o pessoal esteja fechado. Sempre quando alguém fala, eu conto que dei muita sorte”.
Grande fazenda iluminada
Há sete quilômetro do bairro Amambaí, no Cidade Jardim, a ex-médica veterinária, Sandra Caseiro, de 48 anos, diz que o Estado é como uma grande fazenda iluminada e a Capital descreve bem o conceito. Paranaense de nascença e sul-mato-grossense de coração, ela explica que depois que conheceu Mato Grosso do Sul não quer ir embora, senão para Bonito.
“Minha família veio para o Mato Grosso e depois fui fazer faculdade em Mato Grosso do Sul. Fiz veterinária, exerci e parei. Como nasci no Paraná e pensava que tudo era melhor lá, achei que faria faculdade em Maringá ou Londrina, aí abriu em Campo Grande e resolvi prestar o vestibular. Vim e acabei gostando. A cidade é maravilhosa, eu falo que é uma grande fazenda iluminada, o Estado é assim. É tranquilo. Eu gosto daqui”.
Após 20 anos exercendo a profissão, a empreendedora explica que já conheceu outros municípios do Estado e garante que a terra é boa para se viver. “Cansei da profissão, mexia com animais de grande porte, viajava muito, cansei. Aí o que era hobby virou o trabalho". Tem dois anos que está no ateliê na Cidade Jardim.
Bairrismo e amor
A grama do vizinho nem sempre é mais verde. Não para a estudante Karina e a floriculturista Claudia Maria Medina. No bairro Maria Aparecida Pedrossian, a comerciante Claudia, de 51 anos, bate o pé e declara com todas as letras o amor pelo Estado.
”Finquei raízes aqui mesmo e aqui ficarei. Minha família é daqui, de antes da criação do Estado, sou de Itaquiraí [município a 405 quilômetro de Campo Grande]. Nesses meus 51 anos nunca saí, mas ano passado fiquei 30 dias no interior de São Paulo e que saudade daqui, era uma cidade linda, lembrava Campo Grande, mas tive a oportunidade de voltar e sou apaixonada por esse Estado”.
Nascida e criada em solo sul-mato-grossense, Claudia se orgulha de ter tido quatro filhos e um neto aqui. “Fiquei até os 10 anos em Itaquiraí, tive oportunidade de passar por outros municípios, eu gosto muito. Nosso Estado é novo, tem muito pra crescer e muita gente pra ouvir e conhecer. Quando você escuto as pessoas falarem que escolhem o Mato Grosso do Sul é verdade, eu não trocaria”.
Quanto à fama dos residentes, ela também acredita ser exagerada. Que sul-mato-grossenses não são fechados, mas sim desconfiados. “Pessoal fala que tem gente que não costuma cumprimentar quem não conhece, é verdade, acho um defeito nosso. Mas isso acho que é meio desconfiança, que é coisa daqui. Os outros têm esse costume de cumprimentar. Mesmo assim, não trocaria o Pedrossian, Campo Grande e o MS”.
Para Karine Moreira Borges, de 22 anos, a vida na praia não é mais legal ou bonita que viver no Estado. Bairrista raiz, a estudante de fisioterapia comenta que nasceu e cresceu na Capital. A família era de Ponta Porã.
“Eu gosto muito daqui, do Estado inteiro. Eu já fui para outros estados e acho muito diferente, trânsito, natureza. Já fui para São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. O que me faz ficar é isso, a natureza, o Pantanal. Sou mais acostumada a ficar aqui do que ir para praia”.
Estar no bioma é uma tradição de família. Todos os anos eles se reúnem no local para comemorar. “Vamos muito para o Pantanal. Temos essa conexão. Minha família vai pra lá. Minha avó é de Ponta Porã. Acho que o sentimento é esse de se encontrar aqui. Tenho uma amiga que é do Rio e fala que não volta mais pra lá”.
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