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Cidades

"Luto pela memória do meu pai há 40 anos", diz filha de Marçal

Edna é professora de história indígena; MPF entrou com ação para reparar família pela morte

Por Luiz Cláudio Ferreira, da Agência Brasil | 25/11/2023 14:24
Filha de Marçal de Souza, Edna Silva sempre falou, em sala de aula, da luta do pai (Foto/Arquivo pessoal)
Filha de Marçal de Souza, Edna Silva sempre falou, em sala de aula, da luta do pai (Foto/Arquivo pessoal)

A professora de história Edna Silva de Souza completava 33 anos de idade no dia 22 de novembro de 1983, mas a casa, na cidade de Dourados (MS), estava sem clima de comemoração. O pai, Marçal de Souza Tupã, de 63, estava tenso. Campo Grande News - Conteúdo de VerdadeCampo Grande News - Conteúdo de Verdade

“Ele estava apreensivo e disse pra gente que estava se sentindo perseguido pelos discursos que vinha fazendo em defesa dos direitos dos indígenas à terra. Ele denunciava tudo o que via de errado. Mas a gente vivia numa ditadura. Não existia liberdade de expressão”, pondera a filha.

Liderança Guarani Kaiowá, o auxiliar de enfermagem do efetivo da Funai, Marçal de Souza  foi assassinado em sua casa, na aldeia Campestre, no município de Antônio João, com cinco tiros, no dia 25 de novembro há exatos 40 anos. Como havia sido transferido, só voltava para casa uma vez por mês.

A família só foi avisada no dia seguinte. Não bastasse isso, o crime nunca foi esclarecido. “Desde aquele dia, buscamos por justiça. Luto pela memória do meu pai há 40 anos”, diz a filha, hoje aos 73 anos de idade.

Somente agora, 40 anos depois da morte, o MPF (Ministério Público Federal) apresentou pedido de anistia política “post mortem”. Além do reconhecimento, a ação também solicita reparação econômica aos familiares da liderança.

Memória - Edna atuou por 35 anos como professora de história em escolas indígenas na região. “Por onde fui, contei a história dele. Era um revolucionário. Onde ia, as pessoas paravam para ouvir”.

Isso gerou os problemas. “Ele procurava esclarecer os direitos para as pessoas. Na época, era chamado de agitador”, considera a professora. Ela recorda que a convivência com o pai havia ficado restrita com a função dele na Funai, mas Marçal não deixava de voltar para casa desde que foi transferido de cidade, três anos antes.  “Meu pai recebia o pagamento dele como auxiliar de enfermagem e voltava para Dourados todo mês para fazer compras para casa”.

Após o assassinato, a família ficou com medo. Mas procurou honrar a terra do pai. “Ele falava que não ia desistir da missão”. Para honrar a memória de Marçal, entidades como o Centro Indigenista Missionário (Cimi), a Aty Guasu – Grande Assembleia dos Povos Kaiowá e Guarani, a  Universidade Federal da Grande Dourados e o Ministério Público Federal realizam atos de homenagem à memória do indígena assassinado há 40 anos.

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