Luz no fim do túnel: sem celular, alunos voltam a interagir e focar em aulas
"Uma recuperação do que existia há 15 anos, a volta da atenção, silêncio e participação", diz professor
A proibição do uso de celulares foi “luz no fim do túnel” para escola de Campo Grande, que assistiu à volta da concentração, participação em sala e convívio entre os alunos mudar drasticamente em apenas 15 dias. Apesar da reportagem ter percorrido algumas instituições de ensino da Capital, apenas uma permitiu que a equipe entrasse para retratar quais foram as atitudes tomadas para que os aparelhos não fossem usados.
RESUMO
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Após 15 dias da implementação da proibição do uso de celulares, uma escola em Campo Grande já observa mudanças significativas no comportamento dos alunos. A escola Bionatus reporta melhora na concentração, participação em sala e maior interação social entre estudantes. Os aparelhos são guardados em sala específica ao início do dia letivo e só podem ser retirados ao final das atividades. O professor Alysson Cintra, com 30 anos de experiência, destaca que as aulas melhoraram consideravelmente, embora reconheça que o celular pode ser uma ferramenta útil quando usado com maturidade. A medida provocou mudanças até na forma de pagamento da cantina, que passou a aceitar dinheiro em espécie ou sistema de crédito pré-pago. Enquanto a rede municipal aguarda diretrizes do Conselho Nacional de Educação, a rede estadual já implementou suas próprias regras, que incluem advertências e possível recolhimento do aparelho em caso de descumprimento. A medida está alinhada com a lei federal nº 15.100/2025, que proíbe celulares em escolas públicas e particulares do Brasil.
“É uma recuperação do que existia há 15 anos na sala, a volta da atenção, silêncio e participação dos alunos. Isso é unânime entre professores. As aulas melhoraram muito. Fazia anos que não via essa atenção deles”, diz Alysson Cintra, professor de geografia e atualidades na escola Bionatus.
Há 30 anos lecionando, o docente comenta que não demoniza o celular, mas não pode negar que o aparelho atrapalha, e muito, a concentração dos estudantes. Para ele, a tecnologia é uma ferramenta de auxílio, mas precisa ser usada com maturidade, algo que não vê nos alunos.
“Não coloco como um vilão. O que prejudica são as redes sociais, mas o celular em si é bom para pesquisar e estudar, mas tira a concentração porque eles, muitas vezes, não têm maturidade para usar apenas para isso”.
Agora, na ausência das telas, os estudantes se reúnem para conversar, jogar bola em grupo ou fazer alguma atividade esportiva. A falta dos aparelhos causou a mudança até da forma com que os lanches da cantina são adquiridos. Sem o famoso Pix, a volta das cédulas foi necessária para garantir a compra dos alimentos.
Outra alternativa usada pela cantina foi um limite de compra por estudante. Funciona assim: os pais depositam ou transferem um valor específico para a cantina e os filhos podem consumir os itens até que o valor acabe.
O coordenador pedagógico Thiago de Lucena Borges comenta que sentiu a melhora do convívio entre os alunos. “Pode ver na questão do intervalo. O pessoal brincando, jogando. Não existe mais jovem assim hoje em dia e acho que tá fazendo um bem danado".
Ele explica que o local sempre teve restrição ao uso de celulares durante as aulas, mas agora a proibição é válida até para os intervalos. Na escola, assim que o aluno chega, ele mesmo leva o aparelho até uma sala específica e segura. A instituição garante que se responsabiliza por qualquer incidente que aconteça com os celulares enquanto eles estão trancados.
De acordo com as regras, o estudante só pode retirá-lo ao fim das obrigações escolares. “Tem como burlar, mas estamos explicando que é a lei é passível de suspensão”.
Esperando diretrizes - Conforme o publicado, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) informa que a medida não é para proibir completamente o uso e que os celulares podem ser usados desde que para fins pedagógicos, sempre com a orientação dos professores. O objetivo é estimular o aprendizado e fortalecer a integração entre os alunos.
A pasta ainda não tem diretrizes para a aplicação da norma e aguarda a publicação da resolução do CNE (Conselho Nacional de Educação), que fornecerá as orientações gerais para a implementação. Após essa etapa, o CEE (Conselho Estadual de Educação) e o (CME Conselho Municipal de Educação) regulamentarão a aplicação ao nível local.
“É importante ressaltar que a nova legislação não busca proibir completamente o uso dos aparelhos, mas sim regulamentá-los de forma consciente. A nova regra poderá ser implementada pelas escolas já no início do ano letivo. No entanto, para garantir o sucesso da medida, as unidades escolares e as equipes pedagógicas terão um período de preparação para alinhar os protocolos necessários. A fiscalização ficará a cargo de cada escola, com o apoio da Secretaria de Educação, e envolverá ações de conscientização junto a alunos, pais e responsáveis”, explicou a secretaria.
Em ação - Já a rede estadual resolveu não esperar as diretrizes e criou as próprias regras. Entretanto, assim que for divulgada a decisão do CNE a SED (Secretaria Estadual de Educação) pode fazer as alterações adequadas.
Se os estudantes quiserem levar um dispositivo para a escola, deverão "deixá-los armazenados e desligados, em bolsa ou mochila própria, sem a possibilidade de acessá-los durante o período de aulas", impõe a resolução.
A regra vale tanto para quando os alunos estiverem em aula quanto para recreios, intervalos e atividades extras na instituição em outro turno. Caso houver perda ou dano aos aparelhos dentro escola, estudantes se responsabilizarão pelas ocorrências.
A pasta explica que há exceções para que o uso seja permitido, como, por exemplo, quando necessário como ferramenta pedagógica, para oferecer acesso aos conteúdos ou ferramentas digitais de aprendizagem aos estudantes, para comunicação com os pais em caso de emergências e por fim, para acessibilidade e inclusão de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
No Estado, o aluno que desrespeitar a regra poderá receber advertência verbal; ter a ocorrência registrada na escola e comunicado aos pais ou responsáveis; e ter o aparelho recolhido. Se o celular for recolhido, a devolução será feita apenas aos adultos responsáveis. Caso o estudante insista em usar o aparelho, ele não poderá mais entrar ou levá-lo para escola.
Hábito antigo - Na escola Harmonia, a proibição do uso de celulares é feita desde 2024 dentro da sala de aula. O recurso usado para guardá-los são as caixas de MDF, disponíveis dentro das salas ou armário exclusivo. Quem escolhe guardar o celular nas salas deve deixar o aparelho nas caixas de madeira logo no início da aula.
O diretor da escola, Tiago Martins, explicou que até o sétimo ano era proibido levar o celular para a escola e que a partir do 8º ano, até ano passado, poderia entrar, mas quase 100% proibido usar.
Ele podia utilizar apenas no início da manhã, no intervalo e após a aula. Em 2025, todas as séries é 100% proibido a utilização do celular nas dependências da escola. O aluno só pode retirar o celular, seja da mochila ou bolso do portão para fora. "Por isso oferecemos um lugar para eles guardarem".
Segundo ele, a medida tem sido efetiva. O problema acontece mais na saída. "Foi assim essa semana, mas é a minoria que faz isso. Nós não estamos deixando".
A medida já é usada por outras escolas de Campo Grande e inspirada em modelos do estado do Rio de Janeiro. Confira matéria completa aqui.
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