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Cidades

Mais de 83% das infecções por covid ocorrem entre familiares e dentro de casa

Segundo especialista, o fato de um ente da família não seguir os cuidados adequados pode levar a doença aos demais

Lucia Morel | 19/10/2020 16:22
Exame para detecção de covid-19 sendo feito em Campo Grande, no drive thru do Corpo de Bombeiros, em julho. (Foto: Kísie Ainoã/Arquivo)
Exame para detecção de covid-19 sendo feito em Campo Grande, no drive thru do Corpo de Bombeiros, em julho. (Foto: Kísie Ainoã/Arquivo)

A grande maioria das pessoas contaminadas por covid-19 em Mato Grosso do Sul foram infectadas dentro de casa. Pelo menos é o que revelam dados preliminares do programa Rastrear, do Governo do Estado em parceria com a Opas (Organização Pan-americana de Saúde).

Dados da ferramenta, implantada no final de setembro, quando a quantidade de casos da doença em MS começavam a estabilizar, demonstra que em 83,5% das pessoas infectadas foram contaminadas dentro de casa, por alguém que mora com elas.

Apesar disso, para a especialista Mariana Croda, pesquisadora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e membro do COE (Comitê de Operações de Emergência) da SES (Secretaria de Estado de Saúde), esse dado não põe por terra a orientação de que ficar em casa (isolamento e distanciamento sociais) seja a melhor arma contra covid-19.

“Isso acontece porque alguém da casa saiu, pegou a doença e passou para os demais”, explica, lembrando que “a pessoa que pega, leva a doença para os demais contactantes, que estão muito mais propensos a pegar a doença do que um colega de trabalho ou um contato ocasional da pessoa contaminada”.

Pelos dados do Rastrear, a segunda maior forma de contágio da covid-19 é em eventos, igreja ou no transporte público, sendo que 12,65% dos casos confirmados relataram ter participado dessas atividades e então, apresentado sintomas. Por fim, 3,85% das contaminações ocorreram no ambiente de trabalho.

Nesses casos, devido o distanciamento comum nesses espaços, a possibilidade de contágio é menor. “A pessoa pega a doença na rua e leva pra casa. Por isso, a orientação correta talvez seja “não leve para a casa”, já que não adianta uma pessoa ficar em casa, tomar todos os cuidados e os demais não”, avalia Croda.

A especialista, que é médica infectologista, afirma também que aqueles que têm algum familiar que seja do grupo de risco - idosos e/ou pessoas com comorbidades - devem ter cuidados redobrados nas medidas de controle da doença.

Próximos passos - Diante da redução de casos e mortes pelo novo coronavírus em Mato Grosso do Sul, Mariana Croda acredita que a tendência, tanto em MS quanto no restante do Brasil, seja de que os números da doença continuem caindo de maneira lenta.

Isso porque a estratégia de combate utilizada no País foi diversa à utilizada pelos países da Europa e pela própria China, por exemplo, onde a covid-19 começou. Ela explica nesses locais, houve de fato um lockdown, ou seja, fechamento efetivo das atividades para evitar a proliferação.

“Mesmo sem as liberações efetivas, nossa taxa de isolamento sempre foi baixa, ou seja, não tivemos um lockdown de fato e agora começamos a reabrir. Por isso, é provável que a gente mantenha níveis elevados na curva, sem achatamento rápido, porque o método de combate no Brasil foi diferente”, comenta.

Ela lembra que Nova Zelândia e países europeus, escolheram fechar tudo e acabaram enfrentando momentos de abre e fecha durante a pandemia. Já no Brasil, houve o que ela chamou de “transmissão sustentada”, ou seja, constante e alta, sem agressividade contra serviços e empresas.

Sobre que modelo seria mais adequado ou certo, ela avalia que “são escolhas e só o tempo vai dizer o que foi melhor. De um lado pode ser pior, devido a grande quantidade de óbitos, por outro, pode ser melhor pra economia”.

Por fim, ao comentar sobre uma segunda onda de covid-19 no Brasil e em MS, a especialista acredita que não deve ocorrer tão cedo, justamente devido ao modelo de transmissão sustentada aplicada no País.

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