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Cidades

Menos de 48 horas após prisão, “Tio Arantes” é expulso da Bolívia

José Cláudio Arantes, preso com documento falso na quarta-feira, já está em MS

Anahi Zurutuza | 08/09/2023 12:48
De branco, José Cláudio Arantes escoltado por policiais bolivianos na fronteira com Corumbá (Foto: Direto das Ruas)
De branco, José Cláudio Arantes escoltado por policiais bolivianos na fronteira com Corumbá (Foto: Direto das Ruas)

Menos de 48 horas após ser preso em Santa Cruz da La Sierra, na Bolívia, José Cláudio Arantes, o “Tio Arantes”, que estava foragido da Justiça brasileira há pouco mais de 600 dias, foi entregue pela FELCC (Fuerza Especial de Lucha contra El Crimen) da polícia boliviana e pela Interpol (Polícia Internacional) à PF (Polícia Federal). A expulsão do criminoso sul-mato-grossense, que chegou a ser considerado um dos líderes mais influentes do PCC (Primeiro Comando da Capital), aconteceu em Puerto Quijarro, na fronteira do Corumbá, no oeste de Mato Grosso do Sul.

Arantes, hoje com 68 anos, vestia calça preta, camisa polo e chinelos. Também carregava uma mala pequena no ombro esquerdo.

O comandante departamental da Polícia de Santa Cruz, coronel Erick Holguín, fez o comunicado formal da entrega de “Tio Arantes” aos policiais federais escalados para a missão, por volta das 12h desta sexta-feira (8). Além dele, um segundo preso de nacionalidade brasileira foi expulso.

A reportagem apurou que ainda não há previsão de quando José Cláudio Arantes será reinserido no sistema carcerário. Por enquanto, ele ficará sob a custódia da PF.

Comandante departamental da Polícia de Santa Cruz, coronel Erick Holguín cumprimenta policial federal (Foto: Ercel Puerto Quijarro/Divulgação)
Comandante departamental da Polícia de Santa Cruz, coronel Erick Holguín cumprimenta policial federal (Foto: Ercel Puerto Quijarro/Divulgação)

A prisão - Procurado pelo mundo todo, José Cláudio Arantes era fugitivo da Justiça sul-mato-grossense desde novembro de 2021, quando “desapareceu” da Colônia Penal Agroindustrial da Gameleira, unidade para o cumprimento de penas no regime semiaberto da Capital.

Ele foi preso em abordagem da FELCC, por volta das 18h30 de quarta-feira, dia 6, mas só ontem a prisão foi divulgada. No início da tarde, foto de “Tio Arantes” segurando placa que informa a data da prisão começou a circular entre policiais de Mato Grosso do Sul. Aviso da prisão também chegou à PF de Corumbá, mas autoridades brasileiras ainda não haviam sido formalmente avisadas da captura. No banco de mandados de prisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), do Brasil, ainda havia dois mandados de prisão contra o criminoso que ainda aparecem como “pendentes de cumprimento”.

Na Bolívia, José Cláudio Arantes era Raildo Texeira da Silva. Ele usava uma identidade falsa e ao ser abordado agentes da polícia boliviana, tentou destruir o celular, o que chamou atenção dos policiais.

Documento falso usado por "Tio Arantes" na Bolívia (Foto: Reprodução)
Documento falso usado por "Tio Arantes" na Bolívia (Foto: Reprodução)

Na tarde de ontem (7), em coletiva de imprensa, o coronel Holguín revelou que “Tio Arantes” foi abordado na Avenida Juan Pablo II e apresentou o documento falso. O homem, de origem brasileira, foi chamado então para que sua situação migratória fosse verificada, mas ficou muito nervoso. “Esse sujeito, chamado José Cláudio Arantes, se identifica como Raildo Texeira da Silva, mostra seu documento, mas constatamos que era falso, motivo para a FELCC levá-lo à delegacia, mas no momento da prisão, essa pessoa se tornou violenta e tentou destruir um celular", explicou.

Momento que policial federal algema José Cláudio Arantes antes de colocar em viatura (Foto: Ercel Puerto Quijarro/Divulgação)
Momento que policial federal algema José Cláudio Arantes antes de colocar em viatura (Foto: Ercel Puerto Quijarro/Divulgação)

Mais de 600 dias em liberdade – A fuga de “Tio Arantes” foi constatada no dia 23 de novembro de 2021. Ele cumpria pena no regime semiaberto, no Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, em Campo Grande. “Coincidentemente”, o sistema de câmeras da ala que abrigava o detento deixou de funcionar horas antes de ser constatado o “sumiço”. Os cadeados da cela e da porta do pavilhão ocupados por José Cláudio desapareceram com ele.

Em dia após a notícia se espalhar, o juiz Fernando Chemin Cury, da 1ª Vara de Execução Penal de Campo Grande, determinou apuração rigorosa da fuga e pediu que o Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado) e a 50ª Promotoria de Justiça do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) se unissem na investigação.

Determinou ainda que a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) abrisse, em 24 horas, procedimento administrativo disciplinar contra todos os agentes que estavam no plantão.

Para o juiz, estava claro que “Tio Arantes” teve ajuda para fugir. “Informações preliminares demonstram que há uma série de irregularidades que precisam ser esclarecidas”. Conforme relatado no despacho, José Cláudio estava em uma “cela com porta inteiriça, sem acesso à parte externa, o que significa dizer que, mesmo sem o cadeado, teve auxílio de terceiros para abrir a respectiva porta”.

Ficha extensa – José Cláudio é dono de uma extensa ficha criminal e tem condenações por roubo, tráfico de drogas e homicídios. Ele também ficou “famoso” por ter coordenado rebelião que resultou na morte do interno Fernando Aparecido do Nascimento Eloá, em 2006, no Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho, a “Máxima”.

A rebelião começou em São Paulo, chegou a Mato Grosso do Sul e se espalhou por quatro cidades do Estado, Corumbá, Dourados, Três Lagoas e na Capital. Mas, foi na Máxima que a cena mais emblemática daquele dia 14 de maio aconteceu: grupo de presos do PCC em cima do telhado da unidade e nas mãos, uma cabeça decapitada e carbonizada, amarrada por uma camiseta.

Desde então, “Tio Arantes” ganhou direito ao regime semiaberto, foi libertado e preso mais algumas vezes.

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