“Tio Arantes” usava documento falso e tentou destruir celular ao ser pego
José Cláudio Arantes, de 68 anos, foi considerado um dos mais influentes líderes do PCC
Na Bolívia, José Cláudio Arantes, o “Tio Arantes”, usava documento falso em nome de Raildo Texeira da Silva e, ao ser abordado pela FELCC (Fuerza Especial de Lucha contra El Crimen), da polícia boliviana, tentou destruir o celular. O homem que foi considerado um dos mais influentes líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa brasileira, foi pego em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, no fim da tarde desta quarta-feira (6).
Procurado pela Interpol (Polícia Internacional), ele era fugitivo da Justiça sul-mato-grossense desde novembro de 2021, quando “desapareceu” da Colônia Penal Agroindustrial da Gameleira, unidade para o cumprimento de penas no regime semiaberto de Campo Grande.
Mais cedo, foto de Arantes, hoje com 68 anos, segurando placa que informa a data da prisão começou a circular entre policiais de Mato Grosso do Sul. Aviso da prisão também chegou à Polícia Federal de Corumbá, mas autoridades brasileiras ainda não haviam sido formalmente avisadas da captura. No banco de mandados de prisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), do Brasil, há dois mandados de prisão contra o criminoso que ainda aparecem como “pendentes de cumprimento”.
Na tarde desta quinta-feira (7), a polícia boliviana deu coletiva de imprensa. Ao jornal El Deber, o comandante departamental da Polícia de Santa Cruz, coronel Erick Holguín, detalhou que “Tio Arantes” foi abordado na Avenida Juan Pablo II e apresentou documento falso. O homem, de origem brasileira, foi chamado então para que sua situação migratória fosse verificada, mas ficou nervoso e tentou destruir um celular, o que chamou a atenção dos policiais.
“Esse sujeito, chamado José Cláudio Arantes, se identifica como Raildo Texeira da Silva, mostra seu documento, mas constatamos que era falso, motivo para a FELCC levá-lo à delegacia, mas no momento da prisão essa pessoa se tornou violenta e tentou destruir um celular", explicou Holguín.
O governo boliviano trabalha agora nos trâmites necessários para expulsar Arantes do país vizinho, entregando-o ao Brasil.
Mais de 600 dias em liberdade – A fuga de “Tio Arantes” foi constatada no dia 23 de novembro de 2021. Ele cumpria pena no regime semiaberto, no Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, em Campo Grande. “Coincidentemente”, o sistema de câmeras da ala que abrigava o detento deixou de funcionar horas antes de ser constatado o “sumiço”. Os cadeados da cela e da porta do pavilhão ocupados por José Cláudio desapareceram com ele.
Em dia após a notícia se espalhar, o juiz Fernando Chemin Cury, da 1ª Vara de Execução Penal de Campo Grande, determinou apuração rigorosa da fuga e pediu que o Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado) e a 50ª Promotoria de Justiça do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) se unissem na investigação.
Determinou ainda que a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) abrisse, em 24 horas, procedimento administrativo disciplinar contra todos os agentes que estavam no plantão.
Para o juiz, estava claro que “Tio Arantes” teve ajuda para fugir. “Informações preliminares demonstram que há uma série de irregularidades que precisam ser esclarecidas”. Conforme relatado no despacho, José Cláudio estava em uma “cela com porta inteiriça, sem acesso à parte externa, o que significa dizer que, mesmo sem o cadeado, teve auxílio de terceiros para abrir a respectiva porta”.
Ficha extensa – José Cláudio é dono de uma extensa ficha criminal e tem condenações por roubo, tráfico de drogas e homicídios. Ele também ficou “famoso” por ter coordenado rebelião que resultou na morte do interno Fernando Aparecido do Nascimento Eloá, em 2006, no Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho, a “Máxima”.
A rebelião começou em São Paulo, chegou a Mato Grosso do Sul e se espalhou por quatro cidades do Estado, Corumbá, Dourados, Três Lagoas e na Capital. Mas, foi na Máxima que a cena mais emblemática daquele dia 14 de maio aconteceu: grupo de presos do PCC em cima do telhado da unidade e nas mãos, uma cabeça decapitada e carbonizada, amarrada por uma camiseta.
Desde então, “Tio Arantes” ganhou direito ao regime semiaberto, foi libertado e preso mais algumas vezes.
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