Moradores questionam desmatamento para construção de sobrados em área nobre

Moradores da Travessa Dona Sabina e Rua Iara, no Bairro Jardim dos Estados, encaminharam uma denúncia ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) sobre retirada de árvores na margem direita do Córrego Prosa, localizado na Avenida Ricardo Brandão, em Campo Grande. Eles dizem que o local é Área de Preservação Permanente e pedem que seja feito um estudo de viabilidade do empreendimento a ser construído na região.

O motivo da denúncia foi a retirada das 27 árvores que estavam localizadas no lote interno na Rua Dona Sabina, fundos da Rua 7 de setembro. A supressão foi autorizada pela Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente) na última quinta-feira (2) e o órgão nega a informação sobre o local ser uma Área de Preservação Permanente.

No documento que permitiu a remoção, a pasta informou que as árvores eram prejudiciais à arborização urbana, por isso se enquadravam no inciso IV do artigo 22 da Lei Complementar 184, que fala sobre a supressão de árvores em logradouros públicos e lotes particulares.

O terreno começa na Rua Iara, faz a volta por uma casa e termina próximo a um barranco na Travessa Dona Sabina, são 2.400 metros. Conforme moradores, a ação da construtora pode prejudicar animais que vivem na mata e até causar acidentes, uma vez que a Travessa Dona Sabina e a Rua Iara não têm saída e já contam com grande movimentação de veículos.

Lucka Pimenta, representante do bairro há 10 anos, explicou à reportagem o quanto a situação preocupa os moradores.

Esse final de semana já foi quase todo destruído. Esse empreendimento derrubou até ipês. Aqui é muito estreito, não tem vazão nenhuma em caso de emergência e é muito íngreme. O que pedimos, e fomos atrás do Ministério Público e da Ouvidoria Municipal para isso, foi para exigir, que no mínimo, tenha um estudo de viabilidade do projeto. Nós não vemos a possibilidade disso”, comentou.

Destruição - A representante do bairro ressaltou que o desmatamento ocorreu durante este final de semana: “Quando a gente viu tinha uma serra elétrica, depois vimos os caminhões. Derrubaram no domingo, quando os órgãos de denúncia estão fechados, que é pra ninguém falar nada! Estou aqui há 40 anos, a tentativa como grupo de moradores é preservar a mata, por isso nos intitulamos 'Grupo Vizinhos Pro Natureza".

André Ribeiro Correia, 53 anos, mora há 23 anos no local e ressalta que ele e a esposa cuidavam do terreno, deixaram o local limpo e até plantaram árvores. Além disso, o morador já tentou comprar o terreno para evitar que fosse desmatado, mas pelo preço não conseguiu efetuar a compra. "Queria manter limpo e intocável. Tem bicho aí, era tipo uma pracinha, tinha vários pés de ipês e agora virou tudo terra. Pelo que estamos sabendo o projeto não foi nem aprovado, mas já entraram e destruíram”, comentou.

Animais - Vera Lúcia Costa Soler lamentou a construção e o risco aos animais. Ela já avistou tatu, tamanduá, gambá e capivaras. A moradora ressalta que não queria ver o local se tornar um arranha-céu.

Cláudio Soler complementou a fala da esposa dizendo que o local é sinônimo de paz e que a vizinhança está triste com a situação. "Era mais fresco, a gente passeava aqui com os cachorros, agora vamos perder nosso sossego".

Outro lado - O engenheiro e responsável técnico pela obra, Rafael Russo, conversou com a reportagem e explicou que o projeto ainda está em fase de desenvolvimento e que não causará prejuízos por ser considerado de pequeno porte.

“Serão em torno de cinco sobrados, será uma obra pequena. O que pretendemos fazer é deixar aquela faixa que dá pra Ricardo Brandão totalmente preservada, justamente para contribuir com a sustentabilidade”, disse.

Para o engenheiro, a retirada das árvores foi um procedimento normal. Ele comentou que as árvores eram invasoras, ou seja, não recomendadas para o plantio. Quanto à retirada dos dois ipês e do oiti, Rafael acrescentou que a empresa pagou à prefeitura o termo de compensação das três árvores, que não eram invasoras. "Se trata de um terreno como qualquer outro na cidade. Não tem nada de diferente. É um procedimento comum e padrão".

Sobre um possível transtorno do fluxo de veículos, Rafael explicou que a hipótese não será real e não impactará a região. “O terreno tem 2.400 metros e vão ser colocadas poucas unidades, não é nem de longe um empreendimento gerador de qualquer demanda assim, não vai ter tráfego. A legislação municipal respalda a construção no local. O que estamos fazendo é limpar o terreno e aguardar os trâmites até que possa iniciar a obra”, finalizou.

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