"Não deu chance", diz promotor a jurados ao acusar delegado por assassinato
Julgamento de Fernando de Araújo da Cruz Junior, preso desde 2019, está ocorrendo nesta quarta-feira
“Não há dúvida nenhuma”, declarou o promotor Rodrigo Correa Amaro, nesta tarde, sobre a culpa do delegado Fernando de Araújo da Cruz Junior, 34 anos, pelo assassinato do boliviano Alfredo Rengel, 48 anos, ocorrido em 23 de fevereiro de 2019.
Estava escoltado esperando a ambulância passar. Intercepta, desce, não dá chance nenhuma, pá, pá, pá, pá”, afirmou o representante do Ministério Público na sessão de julgamento do réu, feita de forma híbrida.
Fernando participou do Fórum de Campo Grande, onde está preso, por vídeoconferência, e as autoridades, testemunhas e público, no Fórum de Corumbá.
A frase do promotor foi dita na tréplica às afirmações da defesa questionando as provas contra o réu. Ele é acusado de, depois de ferir a vítima a facadas em evento na Bolívia, ir atrás da ambulância onde o homem estava sendo socorrido, para concretizar o assassinato, com quatro tiros.
Durante todo o júri, o veículo em que Fernando fez isso, segundo a investigação policial e a denúncia da promotoria, acabou sendo pivô de vários debates.
O advogado Irajá Pereira Messias sustenta não haver provas de se tratar da camionete S-10 preta de Fernando na época, como está na peça de acusação. Argumenta, em vários momentos, se tratar de utilitário de cabine dupla, o que não era caso do carro do cliente.
Nunca foi possível confrontar as informações, pois a camionete não foi apresentada, pois o investigado alegou estar penhorada. Só há imagens dela.
Em sua argumentação, a promotoria insiste que todos os elementos colhidos levam ao veículo de Fernando, inclusive o fato de ele ter modificado as características do bem, mudando exatamente o que havia sido apontado pela perícia como detalhes da S-10.
Foram apresentadas no processo imagens colhidas na rodovia Ramão Gomes, que liga Corumbá à Bolívia, na hora da interceptação.
Obstrução - Ainda conforme acusação, feita pelo promotor Rodrigo Amaro e o colega Luciano Comte, o delegado teve cúmplices para tentar atrapalhar as investigações, notadamente o policial Emannuel Contis, que é também é réu por ajudar o ex-chefe.
Num “mar de conversas” rastreadas no celular de Fernando, cita a promotoria, foram identificadas confissões do acusado.
“Confessa para o IPJ Contis que no máximo conseguiriam imagens saindo e voltando com a sua camionete sem placas”, afirma, sobre diálogo encarado como espécie de comemoração da dificuldade que os investigadores teriam para culpar Fernando pela morte.
Não é discussão de boteco, não é aposta de sinuca”, se dirige o promotor ao júri de sete pessoas, cindo deles mulheres e dois homens, para defender a torpeza do fato atribuído ao delegado.
Por fim, em sua manifestação, o defensor de Fernando repete a argumentação de que não ficou provado que foi a camionete do delegado a filmada interceptando a ambulância, nem que é o cliente o homem que desceu do carro para alvejar “Ganso”, a vítima.
O advogado insistiu na versão de armação da Corregedoria de Polícia Civil para culpar o cliente, que segundo a tese defensiva, tentava apenas investigar envolvidos com o tráfico. A vítima já havia sido condenado por esse crime no Brasil.
O júri, agora, espera a decisão do Conselho de Sentença, e depois o juiz André Monteiro vai aplicar a pena, conforme a lei prevê.