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Cidades

Omertá chega a "Fuad", "dono" da fronteira, 15 anos após 1ª tentativa de prisão

Alvo de mandado de prisão da 3ª fase da Operação, ele é acusado de chefiar organização na fronteira em apoio a grupo da Capital

Marta Ferreira | 18/06/2020 16:51
Foto em preto e branco mostra o empresário na década de 80. (Foto: Reprodução rredes sociais)
Foto em preto e branco mostra o empresário na década de 80. (Foto: Reprodução rredes sociais)

Esse 18 de junho, em que força policial tenta por ar e terra prender Fahd Jamil, 79 anos, repete uma cena já vivida. Em 2005, também em junho, ou seja, há 15 anos, a mansão imitando a casa do artista falecido Elvis Presley, em Ponta Porã, foi cercada por agentes, da Polícia Federal, para cumprir ordem de prisão contra o "Patrão", o "Padrinho da Fronteira" ou apenas "Fuad", como é chamado. Naquele dia, ele fugiu, supostamente depois de informante das forças de segurança vazar a operação para prendê-lo.

Personagem citado há décadas em Mato Grosso do Sul por envolvimento com máfias criminosas, até o fechamento deste texto, não havia informação ainda sobre a prisão do homem cuja simples citação do nome costuma impor medo.

Por isso mesmo, a chegada até ele da operação Omertà, contra milícia armada especializada em execuções, desencadeada há 9 meses, configura página histórica da crônica policial no Estado.

Um dos filhos de "Fuad", Flávio Correia Jamil Georges, o “Flavinho”, também é procurado.

As investigações da Omertà indicam que uma das vítimas do grupo criminoso, o sargento Ilson Martins Figueiredo, executado em Campo Grande, na Avenida Guaicurus, em junho de 2018, estava envolvido no sumiço de Daniel Alvares Georges, o "Danielito", em 2011. Ele foi dado como morto no ano passado. "Figueiredo" foi, para a operação, vítima de vingança.

Parceiras - O que foi levantado pela operação Omertá indica que a organização criminosa sediada em Campo Grande dava apoio ao grupo criminoso do município vizinho ao Paraguai, e vice-versa.

"Fuad" Jamil, apesar de já ter tido duas condenações, uma a 22 anos e outra a 12 anos de reclusão, é réu primário. Explica-se: as duas vezes em que foi imposta pena contra ele, por crimes de tráfico de drogas, associação para o crime, remessa ilegal de valores para o exterior e lavagem de dinheiro, deram em nada, resumidamente.

Viatura na casa de Fahd Jamil na manhã de hoje, em Ponta Pora. (Foto: Divulgação)
Viatura na casa de Fahd Jamil na manhã de hoje, em Ponta Pora. (Foto: Divulgação)

Os dois processos são de 2005 e 2006, referentes a fatos que, como constou dos processos vinham desde a década de 1990. O responsável pela condenação em primeiro grau é o juiz aposentado Odilon de Oliveira, ex-candidato ao governo de Mato Grosso do Sul. A primeira condenação contra Fahd Jamil, a 22 anos de reclusão, foi anulada pelo TRF 3 (Tribunal Regional da Terceira Região) sob alegação de falta de provas.

A segunda condenação, há 12 anos e 8 meses, foi de 2006. A pena foi reduzida para 10 anos e, de recurso em recurso, acabou sendo considerada prescrita pelo Tribunal Regional Federal, por se tratar de pessoa com mais de 60 anos. Nesse caso, a prescrição conta pela metade, explicou o juiz aposentado ao Campo Grande News, quando perguntado dos motivos de Fuad ser réu primário.

Advogado de defesa nas ações, Renê Siufi reafirmou essas informações. Revelou, ainda, não representar mais Fahd. Ele advoga para Jamil Name. A atual defesa do homem procurado em Ponta Porã não foi localizada.

Quando houve a primeira pena, chegou a ser pedido sequestro da mansão de "Fuad". Se fosse concretizado, ela seria levada a leilão e o dinheiro revertido ao Poder Público para ações de segurança. O réu nunca deixou o imóvel milionário. Como as punições foram revertidas, é, até hoje, "ficha limpa".  Além da casa na cidade, é dono de uma fazenda, também cercada pela polícia nesta quinta-feira.

E agora - Dessa vez, a ação contra "Fuad" Jamil é por envolvimento em outra atividade criminosa, a de milícia armada especializada em execuções. Pelo menos três casos são citados na peça solicitando a prisão. Foram mortes ocorridas em vingança ao sumiço do filho de "Fahd".

Além do sargento da PM, é atribuída a organização a execução de Alberto Aparecido Roberto Nogueira, o "Betão", encontrado fuzilado e carbonizado em uma caminhonete, na cidade de Bela Vista.

Outro crime na conta do grupo, é o assassinato do ex-segurança de Jorge Rafat, Orlando da Silva Fernandes, o Bomba, morto com tiros de fuzil na Avenida Amazonas, em Campo Grande, em outubro de 2018. Esse caso e o de Ilson demonstram, para os responsáveis pela operação, a atuação  conjunta das duas organizações criminosas.

"Durante as investigações, apurou-se que a organização criminosa chefiada por Jamil Name e Jamil Name Filho, objeto da primeira fase da Operação “Omertà”, atuava em conjunto com a organização criminosa foco da operação deflagrada nessa quinta-feira", divulgou o Gaeco.

O apoio, conforme informado, incluía a prática, em um tipo de "consórcio", de crimes que vão desde comercialização de armas de fogo entre si, até o planejamento e execução de homicídios para a efetivação de suas ações. Durante as investigações ficou evidenciado que ambas as organizações criminosas se valiam do auxílio de agentes estatais de segurança pública. São 18 ao todo, levantou o Campo Grande News.

Na Capital - Em Campo Grande,  conforme as denúncias oficiais, as mortes ocorriam sob chefia de Jamil Name, 81 anos, dono de relações muito próximas com o "capo" da fronteira, incluindo o fato de ele ser padrinho de Jamilzinho, de 42 anos.

Pai e filho, também alvos da terceira fase da Omertà, estão presos desde setembro do ano passado, acusados de ordenar execuções de desafetos e, para isso, criar espécie de escritório do crime, com pelo menos 20 envolvidos, entre agentes de segurança e civis. Os crimes relatados vão de tráfico de armas a corrupção de agentes públicos de segurança, entre guardas municipais de Campo Grande, policiais civis, um policial federal e um militar.

Na ação de hoje, além de Fahd, outro nome bastante conhecido é o do ex-presidente da Assembleia Legislativa e atual conselheiro do Tribunal de Contas, Jerson Domingos, preso em fazenda do município de Rio Negro.

O político já havia sido incluído na Omertà, em março, quando chegou a ser flagrado com arma ilegal, no apartamento no Bairro Royal Park, mas acabou liberado sem fiança, no fim da tarde de 17 de março.

Policiais militares retiram armas durante fase da Operação Omerta, desencadeada hoje. (Foto: Henrique Kawaminami)
Policiais militares retiram armas durante fase da Operação Omerta, desencadeada hoje. (Foto: Henrique Kawaminami)

Atentado - O motivo da segunda etapa era um plano de ataque a responsáveis pela investigação, o delegado Fabio Peró, do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros), e o promotor Tiago Di Giulio Freira, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado). Havia sido descoberto, segundo informado, diálogo envolvendo Jerson Domingos nesse plano de atentado contra as autoridades.

A ideia criminosa, apontam as investigações, é a mesma que levou à transferência de Jamil Name e do filho para o presídio federal de Mossoró (RN), onde estão desde outubro do ano passado. A trama, divulgou o Gaeco, foi descoberta no CT (Centro de Triagem Anízio Lima), em Campo Grande, onde Name ficou preso logo depois da primeira fase da Omertà.

Nove meses depois de ir às ruas na primeira fase e três meses depois da segunda etapa da Omertà, veio a terceira. São pelo menos 19  mandados de prisão preventiva, 2 de prisão temporária, além de 20 de busca e apreensão.

Delegado envolvido - Concretizou-se, ainda, a suspeita de que delegado de Polícia Civil, à no período na titularidade da Homicídios, responsável por investigar as mortes perpetradas pela milícia armada, estivesse dando cobertura ao grupo criminoso em vez de apurar os crimes. Márcio Shiro Obara foi preso nesta manhã.

Há citações a ele, nas apurações, como a autoridade da Polícia Civil que receberia R$ 100 mil para apoiar os delitos que deveria combater. Um investigador, Célio Rodrigues Ponteiro, apelidado de "Manga Rosa", também foi parar na prisão.

Outro agente de segurança alvo da ação é o sargento da Polícia Militar Rogério Phelippe, que atuava como motorista do deputado estadual Jamilson Name, filho de Jamil.

A sobrinha dos Name, Cinthya Name Belli está na lista. Ela havia sido alvo de busca e apreensão em março, e agora foi presa. Belli é apontada como gerente da empresa de capitalização em Campo Grande, que segundo a investigação pertence à família Name, apesar da defesa garantir que não.

Benevides Cândido Pereira, o "Benê" e Lucimar Calixto Ribeiro, conhecido como "Mazinho", também foram levados para o Garras.

A relação tem ainda o policial federal Everaldo Monteiro de Assis, que já está preso, o policial civil Frederico Maldonado de Arruda, o "Fred", também encarcerado, Lucas Silva Costa, o "Lukinhas", alvo da ação de março, Marco Monteoliva e Melciades Aldana, apelidado de "Mariscal". Ambos executavam ações como traçar a rota para execução de crimes.

Também foi dada ordem para prender Rodrigo Betzkowki de Paula, o "Rodrigo Patron", cujo irmão foi preso na segunda fase da Omertá, com armas em uma propriedade rural em Campo Grande, além de Thyago Machado Abdul Ahad, o "Thiaguinho", que seria pistoleiro. Todas essas ordens são de prisão preventiva.

Mais duas prisões temporárias foram autorizadas pelo magistrado, além de 20 buscas e apreensões, nos endereços das pessoas já citadas.

A operação teve apoio da Polícia Militar, por meio de três unidades (Batalhão de Choque, Bope (Batalhão de Operações Especiais) e DOF (Departamento de Operações de Fronteira). Foram 200 agentes de segurança pública para cumprir as ações, Campo Grande, Ponta Porã, Ivinhema e, com o apoio do GAECO de São Paulo, em Peruíbe, interior daquele Estado.

(Matéria atualizada às 21h07 para atualizar informações.)

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