Operação da PF, Ouro de Ofir vira manual para vítimas de golpe
“Já não é mais falta de informação. Tem a comprovação de que o golpe existe. Mas muitos não querem aceitar”
A Ouro de Ofir, operação realizada pela PF (Polícia Federal) que apontou esquema de golpe com 25 mil pessoas, virou base de um manual para vítimas. Com 59 páginas, o informativo foi produzido por um grupo que se autointitula “A Verdade”, formado por pessoas enganadas, e reúne resposta do delegado responsável pela operação.
“O preparo deste manual prático, organizado a partir de perguntas mais comuns do dia a dia, respondidas pelo delegado Guilherme Guimarães Farias, é para que as vítimas tenham um panorama amplo e, dessa forma, encorajem-se a denunciar e para que novos abusos à boa fé possam ser evitados”, informa o manual.
De acordo com o delegado, algumas vítimas criaram o grupo “A Verdade” no aplicativo WhatsApp logo depois da Ouro de Ofir, realizada em novembro do ano passado.
“As vítimas fazem esse trabalho para que as pessoas ludibriadas caíam na real”, afirma Guilherme Farias. Ou seja, o manual circula pelo aplicativo de bate-papo, mesmo caminho usado pelos golpistas para atrair novos interessados ou no convencimento de que o dinheiro ainda será liberado.
“Já não é mais falta de informação. Tem a comprovação de que o golpe existe. Mas muitos não querem aceitar, a maioria ainda está hipnotizada”, salienta o delegado.
Fé e ouro - Um dos aspectos destacados é a “lavagem cerebral” nas vítimas, sendo um dos mecanismos a participação de pastores. O manual traz orientações de como reconhecer o golpe e onde denunciar.
Com promessa de distribuir trilhões de reais, a Ouro de Ofir tinha parte da “clientela” oriunda de igrejas, cujo discurso do Evangelho reforça que os fiéis terão benção financeira. Conforme a investigação, a característica principal da fraude era atingir a fé das pessoas e na crença em um enriquecimento rápido e legítimo, que pode ser resumido em “presente de Deus”.
As menções à fé marcam presença nos grupos em redes sociais e aplicativo, que replicam expressões como“vocês têm que acreditar”, “vocês foram os escolhidos“, “aguardem que a benção virá”, “tenham paciência que isso é uma dádiva de Deus”.
Conforme relatório da polícia, a predileção por cooptar pastores evangélicos se destaca na operação SAP, abreviação do nome Sidinei dos Anjos Peró, que foi preso na ação da PF.
Outra frente do golpe era a operação AuMetal, liderada por Anderson Flores de Araújo e outro homem. Conforme a investigação, o símbolo químico Au (que representa o ouro na tabela periódica) foi colocado para dar legitimidade a uma suposta extração em uma mina, cujo resultado seriam “trilhões de dólares” que seriam distribuídos.
Em geral, o investimento inicial era de mil reais para um resgate financeiro futuro de R$ 1 milhão. Mas há quem tenha investido R$ 500 mil.Ouro de Ofir, nome da operação, é baseado em uma cidade mitológica da qual seria proveniente um ouro de maior qualidade e beleza. Mas nem ouro e nem cidade foram localizados.
Operações – A exemplo da polícia, que batiza as ações de operações, os golpistas usam a mesma terminologia para nomear os golpes.
“Não há possibilidade de precisar o número exato de operações que aplicam esse tipo de golpe, nem mesmo o volume de vítimas. A primeira estimativa da Polícia Federal foi de 25 mil vítimas, mas isso pode aumentar consideravelmente, já que muitos 'investiram' e mais de uma operação. Podemos citar várias delas como: Aumetal, SAP, Olodoaldo, Mariah, Zim, Londres, Zurique e outras”, informa o delegado no manual.
Sidinei, o outro homem e Anderson estão presos desde novembro. Numa segunda etapa, a PF prendeu na semana passada, em Brasília, Sandro Aurélio Fonseca Machado, que dava continuidade ao golpe.