Pelo menos 255 pessoas receberam vacinas diferentes na 1ª e 2ª dose em MS
OMS alertou que injetar vacinas diferentes na primeira e segunda doses não é algo recomendado
Pelo menos 255 pessoas tomaram vacinas diferentes em Mato Grosso do Sul contra a covid-19. Levantamento feito pelo Campo Grande News, com base em dados federais sobre a imunização, encontrou pacientes que tinham informações divergentes entre primeira e segunda etapa do esquema de proteção ao vírus, em relação ao "fabricante da vacina" e o "nome da vacina".
Em todo o Brasil, estão disponíveis as que são fabricadas pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e pelo Instituto Butantan. O protocolo nacional estabelece que vacinados de grupos prioritários recebam imunizante disponível no posto no dia da vacinação, sem possibilidade de escolha. Na segunda dose, porém, a determinação é que o fabricante seja mantido.
No início de abril, a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmou que não existem, no momento, "dados adequados" sobre os efeitos de mudar de vacina entre a primeira e a segunda dose. O comunicado ocorreu depois da França anunciar que pretendia fazer essa alternância. Mesmo assim, alertou que injetar vacinas diferentes na primeira e segunda doses não é algo que "possam, no momento, recomendar".
Diferenças - As vacinas têm intervalos diferentes, como a Coronavac, que é de até 28 dias, ou a de Oxford/AstraZeneca, de três meses, conforme recomendação da Fiocruz. Além disso, a sino-brasileira produzida pelo Butantan usa o vírus inativado para levar à produção de anticorpos, mesma estratégia usada em vacinas contra a gripe.
A de Oxford é do tipo "vetor viral não replicante", capaz de infectar células humanas, mas que não forma novos vírus, impedindo que a infecção progrida. Ainda não há informação se a aplicação de duas "marcas" diferentes pode gerar efeitos colaterais distintos dos que já estão previstos e descritos nos testes de cada uma delas.
A reportagem analisou o registro de vacinação de 128.618 sul-mato-grossenses que receberam as duas doses contra o coronavírus - ou seja, esses casos correspondem a aproximadamente 0,002% do total de imunizados no Estado. A fonte original pode ser acessada por meio deste link, e foi consultada nesta sexta-feira (dia 23).
Os municípios que tiveram mais casos como esse são Dourados (54 vacinados com diferenças), Juti (38), Campo Grande (35), Anaurilândia (35), Fátima do Sul (10) e Bonito (10).
Procurada sobre esse assunto, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) não respondeu perguntas enviadas pela reportagem até o fechamento desta matéria. O levantamento na íntegra pode ser conferido nesta tabela.
Vacinação - Vale ressaltar que os municípios têm sido responsáveis pela aplicação das vacinas, bem como do registro de informações oficiais. Recentemente, foram relatadas algumas divergências no que diz respeito a "prestação de contas" de como as doses foram aplicadas, que podem fazer até com que cidades não recebam parte dos lotes seguintes encaminhados pelo Ministério da Saúde.
Além disso, outra questão foi abordada em matéria recente do Campo Grande News - há alguns dias, pelo menos 371 vacinados não contavam com todas as informações necessárias registradas em base de dados nacional. Nesse caso, a prioridade de imunização desses não havia sido declarada oficialmente.
Mesmo assim, monitor estadual indica que mais 644 mil pessoas receberam pelo menos uma dose de imunizante, o que faz com que Mato Grosso do Sul esteja sempre nas primeiras posições do ranking nacional de vacinação, estando na 2ª colocação atualmente.
Em coletiva feita nesta manhã, a secretária-adjunta de saúde, Crhstinne Maymone, mencionou que o Estado é o que mais aplica as doses que são encaminhadas a ele dentre todas as unidades federativas do País. "Bem diferente dos outros estados, inclusive do Rio Grande do Sul [atual 1º lugar], que recebeu mais doses e aplicou menos que nós", explicou.
De acordo com dados apresentados pela SES, a vacinação já tem feito com que hospitalizações por covid-19 estejam reduzindo entre faixas etárias já imunizadas desde janeiro. Mesmo que a variante P1 afete grupos mais jovens e quebre recordes da doença, pacientes com 80 anos ou mais - priorizados inicialmente na campanha - apresentaram redução no índice de casos mais graves.