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Cidades

"Sozinhos contra a covid", apelam índios em relatório sobre pandemia

Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) lançou relatório que cobra ações efetivas do poder público

Lucia Morel | 11/12/2020 14:40
"Sozinhos contra a covid", apelam índios em relatório sobre pandemia
Em agosto, indígenas da Capital foram atendidos por projeto (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Relatando abandono do Governo Federal, a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) lançou relatório que cobra ações efetivas, bem como mostra que os povos indígenas, também em Mato Grosso do Sul, têm atuado praticamente sozinhos no controle do novo coronavírus entre eles.

Em relação a MS, onde as etnias que sobressaem são Guarani Kaiowá e Terena, o levantamento mostra que grande parte das ações que visam combater a covid-19 entre a população indígena decorre dos próprios índios, principalmente no que se refere às barreiras sanitárias montadas nas aldeias, que não recebem nenhuma estrutura governamental.

“As barreiras sanitárias indígenas não receberam apoio dos órgãos municipais, do Estado de Mato Grosso do Sul ou do Governo Federal. Por isso, todos os pontos possuem fragilidades estruturais e precisam ser permanentemente equipados com tendas seguras, equipamentos de proteção adequados e EPIs”, revela trecho do relatório.

Denominado “Nossa luta é pela vida”, o levantamento feito pela Apib ressalta que entre a comunidade Guarani Kaiowá, lideradas pelo núcleo indígena Aty Guassu, “há mais de 50 barreiras sanitárias Guarani e Kaiowá em operação. Cada barreira possui uma equipe voluntária indígena, composta por 15 pessoas que fazem revezamento em 3 turnos (no período matutino, vespertino e noturno)”.

Sobre a entrada do vírus entre os guarani, o relatório aponta o agronegócio como origem. “Foi o agronegócio o principal responsável pela entrada do vírus em diversas aldeias do Mato grosso do Sul. Na Reserva Indígena de Dourados, onde a primeira morte no estado foi registrada de um Guarani Kaiowá, a doença entrou por meio de uma funcionária indígena de um frigorífico”.

Apesar da falta de apoio, a Apib ressalta que em ação estruturada, a Aty Guassu conseguiu atuar na proteção de pelo menos 51 mil pessoas indígenas da etnia em 45 terras indígenas localizadas no Estado.

Até setembro, a regional conseguiu apoiar mais de 20 terras indígenas diretamente a partir da distribuição de materiais de saúde, equipamentos de proteção individual e cestas básicas. Para apoio às barreiras sanitárias, foram adquiridos jalecos de identificação dos indígenas voluntários que atuam nas barreiras, luvas, termômetros, máscaras e álcool em gel”.

Terenas - Sobre o cuidado ao povo Terena, a Apib lembra do caso em que a organização Médicos Sem Fronteiras foi acionada para atuar junto aos índios, mas foi barrada pelo Ministério da Saúde. Na ocasião, o Governo Federal entendia que apenas ele poderia liberar o acesso dos profissionais nas aldeias.

Conforme o relatório da Apib, entre os Terena, as ações foram encabeçadas pelo Conselho do Povo Terena, que “instalou e mantém cerca de 29 barreiras sanitárias, 25 destas em contexto de aldeamento e 4 em áreas urbanas. As barreiras são capazes de proteger 57 comunidades em 6 terras indígenas diferentes, nos municípios de Dois Irmãos do Buriti, Miranda, Nioque e Sidrolândia”.

No entanto, ressalta que após o primeiro óbito entre nas comunidades, em 14 de julho, os casos de covid-19 só aumentaram e “nem a SESAI ou qualquer outro órgão do governo federal apoiou ou instruiu o Conselho sobre como evitar a expansão do vírus, não forneceu estruturas para isolamento das pessoas doentes nem disponibilizou informações sobre protocolos de isolamento e cuidados”, diz parte do relatório.

"Sozinhos contra a covid", apelam índios em relatório sobre pandemia
Falta de estrutura e de apoio são frequentes nas barreiras sanitárias de comunidades indígenas do MS (Foto: Doriano Arce)

Médicos Sem Fronteiras – Segundo a organização, além de Aquidauana, os profissionais atuaram em Corumbá, entre setembro e outubro. As atividades se concentraram na prevenção, detecção e tratamento de covid entre servidores e detentos no presídio masculino e da penitenciária feminina.

A ação foi solicitada pela SES (Secretaria de Estado de Saúde), “já que nos locais praticamente não havia acesso a cuidados médicos, com índices de contaminação elevados”.

A MSF atuou ainda em Amambai, onde foram feitos treinamentos de prevenção e controle de infecções para equipes de saúde locais realizados. Isso, em novembro.

Números – destaque da Apib foi dado também na contabilização e acompanhamento de casos e óbitos entre a população indígena feitos pela Sesai que são bem discrepantes em relação aos números da entidade  indigenista.

Em MS, segundo boletim diário da Sesai, 72 índios morreram vítimas de covid. Já pela Apib, os números sobem para 94.

Conforme a Sesai, a diferença decorre do tipo de contabilização.  A secretaria leva em conta apenas dados coletados nas aldeias, e não contabiliza casos de índios que moram em áreas urbanas ou fora das aldeias.

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