Tensão volta a MS após 2 anos da última invasão de área pelo movimento sem-terra
Os acampamentos seguem espalhados pelo Estado, mas a ocupação entrou em declínio
RESUMO
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Após quase dois anos sem registros de invasões de terras em Mato Grosso do Sul por trabalhadores sem-terra, uma invasão na Fazenda São Marcos, em Dourados, ocorreu em 18 de fevereiro de 2025, mas foi rapidamente desocupada pela polícia no dia seguinte. Apesar deste incidente isolado, houve uma redução significativa nas invasões nos últimos anos, com alguns movimentos sociais afirmando que a prática é prejudicial à luta por reforma agrária e que preferem atuar por meio de processos legais e negociações, enquanto outros aguardam ansiosamente a liberação de terras para assentamento.
Até o começo deste 2025, a última invasão de fazenda em Mato Grosso do Sul por trabalhador sem-terra havia sido registrada em fevereiro de 2023, portanto, há quase dois anos. A redução das invasões, que leva tensão ao campo, faz parte de uma nova postura dos movimentos que lutam por reforma agrária.
No sábado (18), 60 pessoas da Frente Camponesa de Luta invadiram a Fazenda São Marcos, em Dourados, a 251 km de Campo Grande. A propriedade é de Fernando de Barros Bumlai, filho do pecuarista José Carlos Bumlai.
Na área funcionava a Usina São Fernando, vendida em 2022 por R$ 661 milhões para ser desmontada. A invasão durou pouco. No dia seguinte, domingo, aconteceu a desocupação após intervenção do Batalhão de Choque da Polícia Militar.
Durante a ação policial, foram apreendidos facões, foice, enxada, “miguelitos” (tábuas de madeira com pregos voltados com a ponta para cima), arame farpado, coquetéis molotov prontos (um deles com rojão acoplado), fogos de artifício e gasolina em galões.
Até então, a invasão mais recente tinha acontecido em 2023, 50 dias após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No fim de semana de Carnaval, propriedade rural localizada em Japorã, a 467 km de Campo Grande, foi ocupada por trabalhadores rurais da FNL (Frente Nacional de Luta). No dia seguinte, mesmo sem ordem judicial, os invasores foram expulsos por fazendeiros da região e os barracos queimados. Não houve registro de feridos.
Ao longo dos anos, os acampamentos crescem, mas os episódios de invasão entraram em declínio.
“Vale ressaltar que as ligas camponesas e urbanas do Brasil não compactuam com essa prática, pois a consideramos prejudicial à luta dos camponeses. A lei é clara: quem invade não pode ser assentado, e o imóvel esbulhado perde a condição de vistoria”, afirma Adonis Marcos de Souza, presidente emérito da Liga Camponesa Urbana do Brasil. Ele foi candidato ao governo de MS em 2022.
Atualmente, a liga tem quatro acampamentos no Estado: em Campo Grande, Terenos, Sidrolândia e Ribas do Rio Pardo. São 890 famílias cadastradas no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Adonis se mostra confiante quanto a futuro. “Todos os acampamentos estão em áreas com processos avançados. Sidrolândia, Terenos e Ribas estão em área de grandes devedores da União”, diz.
Já em Campo Grande, a expectativa é de desapropriação por interesse social. O acampamento 26 de Setembro fica na MS-010, perto de Rochedinho.
Localizado em Nova Itamarati, em Ponta Porã, na MS-164, o acampamento “Abrão Lincon” tem 204 famílias cadastradas no Incra. “Estamos aguardando ansiosos a divulgação concreta da prateleira de terras”, afirma Junior Amaral Sobrinho, secretário do movimento.
Diante de possíveis tensões relacionadas a conflitos por terras em Mato Grosso do Sul, a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS) afirmou acreditar na atuação firme do governador Eduardo Riedel (PSDB) e da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, destacando que confia plenamente na capacidade dos órgãos competentes em evitar situações como invasões de propriedades privadas.
“Não podemos aceitar com normalidade a invasão de propriedades privadas e a depredação do patrimônio privado, já que conforme prevê a lei nº 8.629/1993, a invasão de propriedade como reivindicação de reforma agrária bloqueia a mesma para o referido fim”, ressaltou a entidade.
A Federação também informou que continuará monitorando de perto o cenário e prestará todo o apoio necessário às autoridades estaduais para prevenir prejuízos ao estado. "Continuaremos acompanhando atentamente e seguiremos apoiando as autoridades competentes para que não haja esse tipo de prejuízo ao estado", finalizou.
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