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Cidades

Ato a favor da CPI do Genocídio e do Cimi reúne 45 entidades e 300 índios

Mariana Rodrigues e Michel Faustino | 07/10/2015 16:53
Antes de entrar na Assembleia, um grupo de 50 índios Guarani Kaiowá fizeram uma dança que representa um tipo de reza. (Foto: Gerson Walber)
Antes de entrar na Assembleia, um grupo de 50 índios Guarani Kaiowá fizeram uma dança que representa um tipo de reza. (Foto: Gerson Walber)

O ato ecumênico em favor dos povos Guarani Kaiowá realizado nesta quarta-feira (7), na Assembleia Legislativa, reúne 30 movimentos sociais e 15 instituições religiosas do Brasil e América Latina, e uma da Holanda. O grupo defende o cancelamento da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Cimi (Conselho Missionário Indigenista), que investiga a atuação do Conselho em possíveis incitações dos conflitos indígenas no estado e são favoráveis a criação da CPi do Genocídio que apure as mortes e violência cometida contra comunidades indígenas em Mato Grosso do Sul.

Ao todo, cerca de 300 índios de sete comunidades indígenas de Dourados foram até a Assembleia para participar do ato ecumênico. Antes de entrar na Assembleia, 50 índios Guarani Kaiowá fizeram uma dança que representa um tipo de reza, uma forma simbólica de manifestação contra a Assembleia devido a criação da CPI que investiga o Cimi.

O evento que acontece no Plenarinho da Assembleia conta com a presença de cinco policiais militares motorizados. Os indígenas que chegaram ornamentados foram revistados e tiveram que deixar na entrada da Casa, alguns objetos que eles usam, como arcos, flechas chocalhos, lança e qualquer outro objeto pontiagudo, mesmo criando um pequeno tumulto na entrada, o ato segue tranquilo. De acordo com a segurança, o procedimento é de praxe.

Lindomar Terena, é cacique da aldeia Mãe Terra de Miranda e coordenador executivo da Apib. (Foto: Gerson Walber)
Lindomar Terena, é cacique da aldeia Mãe Terra de Miranda e coordenador executivo da Apib. (Foto: Gerson Walber)

Lindomar Terena, que é cacique da aldeia Mãe Terra de Miranda e coordenador executivo da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), comentou que a presença dos indígenas é para se manifestar contrários a forma que a Assembleia vem intervindo na vida dos povos indígenas. Para ele a Casa está sendo omissa e fugindo do seu papel que é resolver a insegurança jurídica no Estado. "Vemos que eles estão tomando um lado com a criação da CPI do Cimi, que é uma instituição que tem lutado em prol dos povos indígenas", comenta ele ao lembrar que a luta dos índios tem mais de 500 anos.

O cacique diz ainda que repudia a atitude do deputados que colocam o Cimi como sendo um manipulador dos povos indígenas. Para ele, a CPI não vai levar a lugar nenhum e sim acirrar a disputa no Estado ocasionando insegurança aos indígenas. Ele cobra uma atitude quanto ao fundo de investimentos de áreas de terras, criado para restituir indenização dos produtores. "Na verdade o que eles deveriam discutir é o por que não se está investindo nesse fundo, não está angariando recursos para resolver a demarcação de terras, pagar os produtores e garantir que os indígenas tenham suas terras e ao invés disso ficam esperando o Governo Federal", acrescenta.

Sobre a criação da CPI para investigar o Cimi, ele relata que nunca ouviu falar em índio que matou produtor. "Essa comissão vai ser a gasolina que ira contribuir para explodir a violência que tem ceifado vidas de apenas um lado", afirma ele que defende o arquivamento da CPI do Cimi.

Sonia Mota, diz que a entidade decidiu participar dessa missão em solidariedade aos povos indígenas. (Foto: Gerson Walber)
Sonia Mota, diz que a entidade decidiu participar dessa missão em solidariedade aos povos indígenas. (Foto: Gerson Walber)
O bispo Roque Paloschi, presidente do Cimi defende que a terra para os povos indígenas é de fundamental importância . (Foto: Gerson Walber)
O bispo Roque Paloschi, presidente do Cimi defende que a terra para os povos indígenas é de fundamental importância . (Foto: Gerson Walber)

De acordo com a diretora executiva do Cese (Coordenadoria Ecumênica de Serviço), Sonia Mota, diz que a entidade decidiu participar dessa missão em solidariedade aos povos indígenas e também em apoio ao Cimi e a instalação a CPI do Genocídio, pois hoje em todo o Brasil se vive um processo de criminalização das entidades que lutam em prol dos menos favorecidos. "Isso é um reflexo da sociedade que não quer entender que todos nós temos direitos, independentemente de classe, cor ou religião".

"Hoje a situação vivida pelos Guarani é uma das mais preocupantes da atualidade. Nós estamos acompanhando essa situação de conflito e entendemos que é preciso que haja um entendimento o quanto antes", afirma ela ao lembrar que de acordo com dados do Cimi, nos últimos 12 anos ao menos 390 índios foram assassinados em MS e outros 585 indígenas cometeram suicídio no Estado.

O bispo Dom Roque Paloschi, presidente do Cimi defende que a terra para os povos indígenas é de fundamental importância para sua auto sustentação e essas terras foram roubadas não só em MS mas como em outros estados do Brasil. Questionado sobre a CPI que investigada a atuação do Conselho em conflitos, ele alega que "a presença do Cimi junto aos povos indígenas é a luz da palavra de Deus que da um direcionamento a essas pessoas".

Ainda sobre a CPI, Paloschi fala que ela deveria se chamar "Comissão do Desmantelamento dos Fatos", pois quer esconder a real situação do índio e criminalizar a ação do Cimi. "O que deveria ser investigado é o por quê do aumento dos números de assassinatos e suicídios entre os indígenas e também o roubo das terras deles". Questionado se vai depor na CPI ele afirma que não tem nada a esconder e só está defendendo os índios.

Ao todo, cerca de 300 índios de sete comunidades indígenas de Dourados foram até a Assembleia para participar do ato. (Foto: Gerson Walber)
Ao todo, cerca de 300 índios de sete comunidades indígenas de Dourados foram até a Assembleia para participar do ato. (Foto: Gerson Walber)
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