Calcário usado em lavouras invade pista e deixa motorista em pânico
Relato é de casal que passou por mesma situação de acidente que provocou 3 mortes
Ao ler a notícia sobre a morte de um casal e da neta, na manhã de sábado (27), a memória de Maurício Abdala, 54, e da mulher dele, Elaine, 52, recuperou os momentos de desespero enfrentados numa rodovia, também na região de Maracaju, há um ano.
Eles viajavam com as filhas, de 25 e 23 anos, quando uma nuvem de calcário invadiu a pista e acabou com a visibilidade. Nenhum dos ocupantes do carro conseguia enxergar um palmo a frente de onde estavam.
“Ficamos perdidos no meio da estrada, de repente. Tive de parar o carro e tateei o asfalto com a mão, porque eu não tinha certeza se estava no acostamento ou no meio da pista”, relatou Maurício.
O motorista conta que ele e a família foram salvos por um grupo de motociclistas que trafegava na mesma direção. Era noite e, com mais faróis ligados, conseguiram ter alguma visibilidade para sair da nuvem branca e seguir viagem. “Quando paramos no posto policial logo à frente, nosso carro estava inteiro branco”, continuou Elaine.
O casal afirma que relatou o ocorrido para policiais rodoviários federais. “Eles [produtores rurais] usam máquinas enormes para jogar o calcário nas lavouras. Com este vento, a poeira branca vai para cima da pista mesmo. Isso deveria ser proibido, deveriam poder fazer isso só até uma distância da pista, ou mais gente vai morrer”, lamentou Elaine.

Fatal – O mesmo pode ter acontecido na manhã de ontem (27), quando VW Santana e um Mercedes Benz C-180 bateram de frente na MS-162, entre Sidrolândia e Maracaju, matando Guilherme Dias Mendes, 60, a mulher dele Mônica Vegas, 56, e a neta do casal, Larissa Viviane Mendes, 7.
A família, que vivia em Ponta Porã, segundo a Polícia Civil, estava no Santana e morreu na hora. Já os quatro ocupantes do outro veículo ficaram feridos, mas não correm risco de morrer.
Só a perícia determinará as causas do acidente.
Explicação – De acordo com o engenheiro agrônomo, Abrahão Malulei, não existe legislação que proíba o uso do calcário próximo a rodovias. Contudo, ele afirma que é um desperdício espalhar o mineral em dias de muito vento. “Não é aconselhável em dias vento, perde-se muito calcário, mas o pessoal tem pressa”, comentou.
O especialista explica que a substância é usada para corrigir a acidez do solo antes o plantio e que esta é a época de fazer este trabalho. “O plantio começa no fim de setembro, começo de outubro, então o solo tem de ser trabalhado agora”.
Ele explica que tratores e outra máquinas agrícolas são usados para esparramar o calcário, mas que o que pode ter acontecido nos dois casos é o vento ter espalhado o mineral que é depositado em montes, às vezes na beira da rodovia.
Motoristas devem ficar atentos na região de Maracaju e outras áreas onde há lavouras. “Nesta época do ano, por conta do tempo seco, duas coisas são perigosas, o fogo e o calcário. Mas, eu nunca tinha ouvido fala de situações como esta”.