"A diferença é que sobrevivi", diz outra vítima de pintor preso por feminicídio
Fábio Braga do Amaral, 39 anos, preso por matar a namorada, também já havia torturado e estuprado a ex-mulher em 2008
Medo, agressões e tortura. Tudo isso foi vivido em apenas seis meses no ano de 2008 pela ex-mulher de Fábio Braga do Amaral, 39 anos, acusado de matar asfixiada a namorada, Érica Aguilar Pereira, 38 anos, e tentar estrangular a filha dela de 15 anos, na madrugada do dia 11 de junho deste ano, em Campo Grande. Foragido desde o dia do crime, o assassino foi preso ontem (28) em Bodoquena, cidade distante a 266 quilômetros de Campo Grande.
Ao Campo Grande News, a primeira vítima de Fábio relatou os momentos de terror que passou ao lado do ex. ''Nos conhecemos por meio de amigos em comum. Quando percebi, já estava morando comigo. Ele era muito ciumento e, quando bebia, se tornava outra pessoa, grosseiro e agressivo", contou.
Durante os seis meses que passou com Fábio, a vítima foi proibida de viajar a trabalho e também não podia nem ir a casa da mãe e ao supermercado sozinha. Nesse período, também começaram as agressões com tapas, puxões de cabelo e empurrões, até o dia em que a mulher foi torturada por sete horas seguidas e ameaçada de morte.
''Foi na semana do Dia da Mulher, em março de 2008. Cheguei de viagem de manhã e ele falou que iria beber. Pedi pra ele não beber porque ficava agressivo. Então, disse que iria na casa da minha mãe e ele deixou. Até estranhei porque nem na casa dela eu podia ir sozinha", contou.
A vítima passou o dia na casa da mãe e, ao retornar para casa, encontrou o ex ainda ingerindo bebida alcoólica. Ela foi dormir e acordou por volta das 0h00 com uma faca no pescoço. ''Ele disse: você vai fazer tudo o que eu quiser. Daí eu falei que não precisava disso, que ele era meu marido", lembrou.
Fábio amarrou a ex-mulher na cama e, com a mesma faca, riscou a barriga e as costas da vítima, além de estuprá-la. ''Ele saía do quarto, fazia o uso de drogas e voltava. Ele me batia e dizia que iria arrancar minha cabeça".
Segundo a vítima, a tortura durou até às 7h. ''Passei a noite orando, pedindo a Deus para não amanhecer morta. Eu passei por tudo o que ela (Érica) passou, a diferença é que eu sobrevivi", disse.
Após sofrer as agressões, a vítima prometeu ao ex-marido que não denunciaria o caso e ele foi dormir. Ao perceber que o homem havia pegado no sono, ela foi até o quintal da casa e ligou para uma amiga, que acionou a polícia. Os militares foram ao local e Fábio foi preso por violência doméstica e estupro.
Mesmo com o ex-marido preso, a mulher não teve sossego. De dentro do presídio, ele mantinha as ameaças de morte à vítima. ''Ele falava que estava lá dentro por minha causa. Que ele tinha meu rosto marcado nele, que iria atrás de mim quando saísse'', relatou. Com um mês de relacionamento, Fábio fez uma tatuagem do rosto da vítima em um dos braços.
Fábio foi transferido para um presídio de Dourados, cidade distante a 233 quilômetros de Campo Grande. Ele conseguiu o benefício de cumprir a pena no semiaberto e, por medo, a vítima trocou o número do telefone e precisou mudar de casa.
No dia 11 de junho deste ano, a ex-mulher reviveu os momentos de terror após saber da morte de Érica. ''Quando fiquei sabendo do feminicídio, passou um filme na minha cabeça e lembrei do dia. Poderia ter sido eu. Agradeci muito pela vida", disse.
Agora, com a prisão de Fábio, a vítima está mais tranquila e espera que ele permaneça preso por muitos anos. ''Já consigo respirar e dormir melhor. Espero que ele permaneça na cadeia por 30 anos porque já tem outras passagens pela polícia".
O caso - O crime aconteceu no Residencial Reinaldo Busaneli, no Ramez Tebet, na região do Jardim Campo Nobre, em Campo Grande. Érica foi encontrada morta na cama, com os braços amarrados para trás e com parte da roupa abaixada.
Após asfixiar Érica provavelmente utilizando um lençol, o suspeito ainda tentou esganar a filha dela de 15 anos que dormia em outro quarto com o irmão. Fábio já tinha passagem por estupro e homicídio.
Após 47 dias foragido, o assassino foi preso ontem em Bodoquena por policiais do Goi (Grupo de Operações e Investigações da Polícia Civil). A polícia chegou até ele por meio de denúncia anônima.
*A reportagem não identificou a vítima para preservá-la.