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Capital

"Perdi o controle", justifica guarda depois de se entregar à polícia

Foragido desde dia 29, Valtenir passou noites perambulando nas ruas e dormindo em estacionamentos até se entregar

Silvia Frias e Clayton Neves | 06/03/2020 13:08
Valtenir (de boné e óculos) se entregou hoje à Polícia Civil e será transferido para o Centro de Triagem (Foto: Henrique Kawaminami)
Valtenir (de boné e óculos) se entregou hoje à Polícia Civil e será transferido para o Centro de Triagem (Foto: Henrique Kawaminami)

“Perdi o controle”. Essa foi a justificativa do guarda municipal Valtenir Pereira da Silva, 35 anos, para matar a ex-mulher, um amigo dela e a esposa dessa vítima, em briga no sábado à noite, em Campo Grande. Desde o crime, caçado pela polícia, perambulou por estacionamentos de mercado e hospital até se entregar esta manhã.

Valtenir Pereira passou a noite de ontem no estacionamento do Hospital Regional, no bairro Aero Rancho, até que decidiu entrar em contato com advogado Vagner Batista de Souza, por volta das 20h. Souza o buscou e o escoltou até a base da Guarda Municipal no mesmo bairro, onde Valtenir era lotado e, de lá, seguiram para a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher)

Em depoimento prestado à delegada adjunta da Deam, Sueili Araújo, Valtenir Pereira disse que o casal estava tentando reatar o relacionamento, reaproximação que teria sido mantida em segredo por Maxelline, já que a família era contra.

No sábado (29), dia do crime, ele afirma ter almoçado com ela e os dois discutiram depois que Maxelline viu uma mensagem da ex-mulher dele no celular. Depois da briga, ela foi embora e Valtenir decidiu trabalhar como motorista de aplicativo.

O guarda disse que não conseguia se concentrar e resolveu procurar pela ex na casa de Camila Telis Bispo, 31 anos, no Jardim Noroeste, pois sabia que ela estaria lá em um churrasco.

Na casa, os dois conversaram por cerca de 40 minutos. Valtenir alega que nem Camila sabia da reaproximação deles e, a todo momento, ia até a varanda para verificar se estava tudo bem. O guarda disse que queria levar Maxelline embora, pois já teria bebido demais.

Quando a discussão começou a ficar acalorada entre os dois, Camila apareceu e puxou a amiga pelo braço, dizendo “vem dormir, está tarde”.

Nesse momento, conforme relato do guarda à delegada, “houve entrevero” entre os três. O marido de Camila, Steferson Batista de Souza, 32 anos, tentou separar os três, o que teria assustado o guarda. “Alegou que Steferon era maior, ficou com medo dele pegar a arma e atirar”.

Foi aí que ele “perdeu o controle”: sacou a arma e atirou no tórax de Steferson e, em seguida, na cabeça de Maxelline e nas costas de Camila. Logo em seguida, fugiu. Segundo a delegada, o guarda nega que tenha ido até a casa de Camila para matar a ex e que estava armado pois não poderia deixar o revólver calibre 38, da Guarda Municipal, em casa.

Depois do crime, ele confessou ter enterrado revólver em terreno baldio no Aero Rancho. Uma equipe da Deam vai até o local para procurar a arma.

Valtenir Pereira será indiciado, inicialmente, por dois homicídios qualificados (por feminicídio e por dificultar a defesa das vítimas) e tentativa de homicídio (também qualificado por feminicídio). Sueili disse que ainda analisa acrescentar motivação torpe como qualificadora. As penas somadas ultrapassam os 50 anos de prisão.

Valtenir passou a noite de ontem escondido até se entregar hoje pela manhã. (Foto: Reprodução/Vídeo)
Valtenir passou a noite de ontem escondido até se entregar hoje pela manhã. (Foto: Reprodução/Vídeo)

Buscas – a delegada titular da Deam, Fernanda Félix, acredita que ele “só se entregou porque cansou de fugir da polícia”. O guarda também alegou preocupação com a filha, que tem problemas de saúde e depende do salário dele.

Depois do crime, a Justiça decretou a prisão preventiva de Valtenir. Durante o tempo que ficou foragido, perambulava de carro (Agile) pela cidade e dormindo em estacionamentos, como em um mercado na Avenida Mato Grosso e do Hospital Regional, onde conseguia comer.

O guarda nega que tenha recebido ajuda de familiares. Sueili disse que, em pelo menos uma ocasião, ele esteve na casa do pai no Aero Rancho, onde estava morando desde o dia 17 de fevereiro, quando se separou de Maxelline.

Valtenir Pereira será levado ao CT (Centro de Triagem), no complexo penitenciário de Campo Grande.

O secretário Municipal de Segurança Pública, Valério Azambuja, disse que foi aberto procedimento administrativo, com prazo de finalização em 60 dias.

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