A um mês de posse, adversária pede “impeachment” da cacique de aldeia urbana
De etnias diferentes, rival de atual mandatária denuncia fraude no processo eleitoral
Após o impasse envolvendo a entrega de casas da Agehab (Agência de Habitação Popular do Estado de Mato Grosso do Sul) no fim de setembro deste ano, indígenas da etnia guarani-kaiowá e terena voltaram a discutir na Aldeia Urbana Água Bonita, na Capital, desta vez por conta da reeleição da cacique Aliscinda Tibério, que seguirá como líder da comunidade indígena por mais quatro anos.
A discussão do momento é com Sheila Rodrigues Nelson, de 32 anos. Natural de Amambai, ela vive na aldeia junto de familiares há 23 anos e questiona o processo eleitoral vencido por Aliscinda no dia 1º de outubro deste ano. A adversária quer o “impeachment" da líder.
“Os moradores ficaram revoltados porque uma das coisas que deixou muita gente chateada foi o fato de que muitos não possuíam o nome na lista de votantes, outras famílias apenas o homem votou, isso que estamos discutindo”, disse ao Campo Grande News.
Segundo a indígena, mais de 70 assinaturas contra o processo eleitoral que elegeu Aliscinda foram encaminhadas para a sede regional da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) em Mato Grosso do Sul. De acordo com a guarani-kaiowá, as assinaturas foram encaminhadas para a Funai, Prefeitura e órgão de Direitos Humanos.
"Levamos na Funai, nos direitos humanos e na Prefeitura, falaram para nós que teríamos que resolver isso internamente, onde a comunidade teria que indicar outra pessoa, no caso eu, ou recomeçar outra eleição, o que muitos não querem por conta dessa insegurança na hora de votar". De acordo com a moradora da aldeia urbana, os moradores da comunidade querem tirar ela (Aliscinda) e colocar outra pessoa no local, pois segundo Sheila, a maioria das pessoas não sabem em quem acreditar. “Achamos que foi bem organizado, mas no final vimos que tudo acabou em ‘panelinha’", finalizou Sheila Nelson.
Com cerimônia de posse marcada para o dia 11 de novembro, a cacique Aliscinda Tibério, de 49 anos, disse que no momento da eleição, ninguém questionou o processo de voto, apesar de muito tumulto. “Na hora da eleição, ninguém falou nada, ali era hora de eles falarem e reclamarem, que falassem ali e não deixassem passar a eleição. Ninguém de fora veio votar não. Tinha Guarda Municipal, Polícia e cada candidato teve o dia todo para votar, a contagem dos votos acabou por volta das 19h”, disse a cacique.
Segundo ela, a reeleição foi conquistada com 101 votos, contra 91 e 93 das chapas concorrentes. A líder da comunidade destacou que a votação acirrada pode ter aumentado a rixa entre os moradores. “Queriam que eu fizesse passeata, não tinha como fazer nada disso, até porque havia muito tumulto na aldeia”, destacou.
De acordo com Aliscinda Tibério, nenhum indígena apto a votar e morador da aldeia estava envolvido na contagem dos votos, ao passo que segundo a líder, todos os fiscais de chapa estavam presentes no dia do voto.
“Eu sabia de tudo sobre o abaixo-assinado, é uma questão interna que querem ir para o embate, inclusive a ata da eleição foi protocolada e entregue na Funai”, frisou. À frente da comunidade por mais quatro anos, ela segue como cacique e conta com vice-cacique, secretário, presidente e vice-presidente de conselho e mais um conselheiro.
A indígena disse que a cerimônia de sequência no cargo contará com um cocar. “Na etnia terena mulher não usa cocar, só com um indígena superior ou com autorização. Preciso de autorização por causa da minha cultura, o que vamos fazer. Para mim, tudo isso é questão de machismo. No geral, o pessoal não sabe deixar as diferenças de lado e lutar pelo povo aqui. Eu só quero a prova de que houve algum erro”, finalizou.
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