Casas inacabadas causam "racha" entre indígenas em Aldeia Urbana da Capital
Parte da comunidade alegou que vizinhos causaram confusão com entrega das casas
A alegação de que a Agehab (Agência de Habitação Popular do Estado de Mato Grosso do Sul) entregou casas sem portas e banheiros, provocou um conflito interno entre moradores da Aldeia Urbana Água Bonita, região norte de Campo Grande. Na última quarta-feira (20), parte dos moradores relatou que a segunda fase da entrega das moradias ocorreu antes da conclusão das casas. Já nesta quinta-feira (21), outra parte da comunidade indígena, composta pelas etnias terena e guarani-kaiowá, destacou que a confusão foi provocada pelos próprios moradores.
Presidente da Associação de Moradores da Aldeia Indígena Água Bonita e presidente do CMDDI (Conselho Municipal de Defesa dos Povos Indígenas), Alder Romeiro Larrea garantiu que o equívoco ocorreu durante a transição dos barracos para as casas entregues pelo Governo do Estado.
“Estamos entregando as casas 95% prontas porque precisamos tirar as pessoas dos barracos. Para mudar, a casa tem que ter água, luz, estar coberta, pintada, acontece que os moradores não tem como pagar aluguel, não ficam nos barracos o tempo necessário e mudam sem autorização dos responsáveis pela obra”, disse ao Campo Grande News.
Outro ponto destacado por Larrea foi que os gastos realizados pelos moradores são por conta própria, justamente pelas mudanças sem a concordância da Agehab. “Como a pressa é do morador, ele acaba comprando a torneira e colocando. Assim que chega a torneira, eles pegam e usam como sobressalente, ou seja, se estragar, ele tem uma reserva”, destacou o indígena.
Segundo Larrea, um dos mediadores entre as obras, moradores e Governo do Estado, até o momento, apenas seis das 43 famílias contempladas com as casas realizaram a mudança. Com o imbróglio desta quarta-feira, as 36 famílias restantes, que aguardam mudança para as novas casas, terão de esperar o término definitivo das obras, marcado para o próximo dia 28 deste mês. O processo de construção já dura cerca de dois anos e meio, disse o líder. A primeira fase das obras contemplou cerca de 79 moradias.
Cacique da aldeia, Aliscinda Tiberio, de 47 anos, disse que a confusão foi o estopim entre os moradores da comunidade indígena e a Agehab. Segundo ela, as discussões entre alguns indígenas demorou para acontecer. A líder disse que se dependesse de parte da comunidade, os moradores já teriam levado suas mudanças para as casas novas há pelo menos quatro meses.
“Eu estou segurando, fazendo a mediação há pelo menos uns quatro meses. Se dependesse dos moradores, já teriam entrado faz muito tempo. Não tiro a razão de quem reclamou, não tiro o direito, eu entendo os moradores e estou do lado do povo”, destacou Aliscinda.
De acordo com a apuração do Campo Grande News, as casas em fase de término das obras já habitadas pelos moradores contam com uma relação de equipamentos já instalados na casa, assim como aqueles que ainda não foram instalados. A relação de torneiras, chuveiros e qualquer item tem de passar pelo engenheiro da obra, que encaminha a lista de itens para o controle do empreiteiro.
A confusão - Dentre as reclamações dos moradores, a principal é acerca da falta de um banheiro em uma das casas. Para conseguir fazer as necessidades fisiológicas, uma das famílias disse que utilizava o banheiro “emprestado” por vizinhos. No seu imóvel, faltam portas, energia e fechar a fossa que atualmente fica exposta ao sol.
Horácio Afonso, de 48 anos, diz que na casa que recebeu os trabalhos ainda estão sendo terminados, mas que foi informado que não há mais material para concluir as obras. “Fiz um barraco e estou morando ali até tudo se organizar. Vim pra cá faz 10 anos, fizemos uma espécie de assentamento. Começamos a construir a casa e sábado devem me entregar a casa. Estamos esperando um lote pra morar, agora, tirar do bolso pra pagar não tem como”, contou.
O Campo Grande News mais uma vez não conseguiu contato com a Agehab. O espaço segue aberto.
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*Atualizado