Abarrotado com a covid, HR começa a pedir socorro a outros hospitais
Hoje há 70 leitos ocupados com pacientes “críticos”: desse total, 48 são de pacientes com covid-19
A pressão da covid-19 no Hospital Regional Rosa Pedrossian, em Campo Grande, atinge patamar preocupante nesta segunda-feira (6). Com final de semana classificado como “tenso” nos bastidores de quem trabalha na rede hospitalar da Capital, o HR começa a pedir socorro a outros hospitais. A ideia diante da ocupação de 84,3% dos leitos voltados a pacientes críticos continua sendo “desospitalizar”: deixar que outros hospitais recebam pacientes que não sejam de covid.
Isso porque só neste setor, que tem 83 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) com respirador e todo o aparato pronto para entubar, há 70 pacientes internados e mais da metade deles está em Estado crítico pela infecção do novo coronavírus. São 48 pacientes em Estado crítico pela covid até o domingo à noite (5).
Quem explica o cenário de caos é a diretora Rosana Leite, que foi categórica em dizer que “está na hora do poder público pedir medidas mais rígidas de isolamento”. O Campo Grande News levantou que em Campo Grande, hoje, a cada uma hora e meia um paciente precisa de entubação para covid.
E não se trata apenas de leitos. Corre-se o risco de não ter, também, sedativos e anestésicos necessários para relaxar a musculatura que precisa ser inserida em sistema de respiração auxiliar, os ventiladores e respiradores. Hoje esses insumos “estão em estoque”, mas não por muito tempo, segundo Rosana.
Há 4 diferentes frentes de compra para tentar conseguir acesso desses insumos ao HR, conforme já havia mostrado o Campo Grande News. O problema, ainda assim, ocorre em todo o Brasil.
Números que assustam – O último boletim do HR confirma que desde que a pandemia começou, 211 pacientes foram internados com covid no HR, 100 deles já fora do hospital depois de receberem alta. Dos 111 que ainda lutam contra a doença, incluindo 28 funcionários, 67 estão internados no HR.
Para Rosana, a evolução que mais preocupa ocorreu nos primeiros 5 dias do mês de julho. Hoje, no hospital, há pacientes de covid em todas as 5 ilhas do CTI (Centro de Terapia Intensiva), além de ocuparem também parte dos 24 leitos fora do CTI, no sétimo andar, adaptado para o cenário.
“Hoje, comparando com o dia 1, tivemos um aumento alto de pacientes com covid. Até o dia 1 eram 158 pacientes confirmados, até ontem o total já chegou a 211. No dia 1, a taxa de ocupação global dos leitos voltados aos pacientes críticos era de 81,9%. Dos 68 pacientes internados em leitos críticos, 30 eram de covid. Hoje a taxa de é 84,3%, só que desse total, 48 são por covid. Nos preocupa muito, dia 1 já tínhamos 6 óbitos, hoje nós temos 16. Isso é muito para uma doença única”, explica.
Segundo a diretora, em reunião emergencial junto às secretarias estadual e municipal de saúde neste final de semana, o HR começou a colocar em prática plano de crise para desafogar as internações e liberar espaço aos pacientes de covid-19.
Conforme informou Rosana, o Hospital do Câncer Alfredo Abraão vai abrir 10 leitos de enfermaria para pacientes de outras comorbidades e a Santa Casa, 20, além de dois leitos no CTI.
Até a estratégia para o Hospital de Campanha pode mudar. Rosana afirma que depois do plano inicial de abrir o espaço para casos de covid, a direção decidiu alterar o plano e o hospital de campanha passou a receber apenas pacientes que não estão com a doença do coronavírus. Até o domingo, eram 12 internados.
Agora, diante do que parece ser o colapso eminente nas internações se o contágio acelerado não for interrompido, o HR quer voltar à estratégia inicial: internar pacientes de covid-19 também no hospital de campanha.
Paciente caro e lento – Esse é o problema do paciente de covid, que chega a ficar um mês internado. Apresenta giro lento nas internações de UTI e precisa de cuidados que são considerados “caros” na saúde, desde equipamentos até os insumos. É o que comenta a infectologista do HR, Mariana Croda.
“Ele pode ter complicações de vários ambientes, quadros que evoluem com infecção hospitalar. Por isso que o sistema colapsa, o paciente não tem um giro rápido. Quando o pulmão não está bem, a gente tenta fazer com que o aparelho respire completamente por ele, e são necessárias altas doses [de sedativos] para sedar totalmente. Na população idosa isso já tem um peso, normalmente já se utiliza doses bem altas, por isso o consumo é alto”, comenta.
Impacto – Apesar de não ser referência para a doença, o maior hospital de Mato Grosso do Sul também sente o impacto da covid. Em nota, a assessoria de imprensa disse que a linha privada da Associação Beneficente, que mantém plano de saúde, “tem recebido algumas demandas de pacientes da linha privada, mas que estão sendo transferidos quando confirmada a SARS-Cov-2”.
Hoje, a ocupação de leitos da Santa Casa está em 85%. “Aproveitamos para informar que há uma demora significativa nos resultados dos exames pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), por isso, o protocolo de biossegurança na Santa Casa está sendo aplicado em todo paciente com alguma suspeita e indicada pelo exame de imagem (tomografia)", diz a nota.
"Essa é uma estratégia adotada pelo hospital que, até o momento, não precisou adotar nenhuma medida mais rígida, mas conta com o município para gestão da rede até que se chegue ao momento de abrir a Unidade de Trauma para dar sequência no atendimento da doença”, cita.
A Santa Casa afirma que desde o dia 14 de março atendeu 6 pacientes com quadros de covid-19: 3 já receberam alta, 2 foram transferidos e 1 paciente segue internada.
A reportagem também procurou o Hospital Universitário, ligado à UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) estar também, na linha de frente da covid.
"Quando existe a necessidade de remanejamento de pacientes estes são feitos conforme a disponibilidade de leitos via central de regulação", diz a nota. Por meio da assessoria de imprensa, o HU declarou disponibilidade de EPI's.
*matéria alterada às 11h57 para acréscimo de informações.