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Capital

Acúmulo de recicláveis e lixo colocam bairro no topo do mapa da dengue

Lageado, onde muita gente tira o sustento do lixão, está entre bairros com maior número de focos do Aedes aegypti

Flávia Lima | 21/01/2016 10:48
O pequeno Felipe ajuda a mãe a organizar o material reciclável em seu quintal. (Foto:Fernando Antunes)
O pequeno Felipe ajuda a mãe a organizar o material reciclável em seu quintal. (Foto:Fernando Antunes)

Dados da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) apontam o Bairro Lageado como um dos líderes no ranking de infestação do Aedes aegypti em Campo Grande. Na região, agentes de saúde têm reforçado o trabalho de limpeza de quintais e conscientização dos moradores, já que o acúmulo de material reciclável, como recipientes de plásticos e garrafas pets, armazenados sem cuidados específicos nos quintais das residências, é a principal contribuição ao alto índice de infestação do mosquito.

Outros bairros como Vila Popular, Jardim Leblon e Nova Lima também apresentam alto índice de infestação. Porém, os dados utilizados pela prefeitura para monitoramento têm como base apenas as notificações e relatórios feitos pelos agentes, já que o último LIRA (Levantamento Rápido do Aedes aegypti) foi divulgado em novembro e o próximo estudo deve ser feito apenas em março, conforme cronograma do Ministério da Saúde.

Durante visita às residências do Lageado junto a agentes de endemias que participam do mutirão de limpeza, a equipe do Campo Grande News constatou material despejado no quintal de várias casas. Outro problema do bairro é a quantidade de terrenos com mato alto.

Em alguns, há obras paralisadas, mas os proprietários não se preocupam em manter a área limpa. Com isso, ao perceberem a falta de manutenção nesses terrenos, os próprios moradores acabam jogando lixo no local.

Segundo a agente comunitária Inês Ribeiro, muitos moradores trabalham com a coleta de recicláveis – o bairro fica próximo ao lixão da cidade – e em muitas casas esse material fica exposto à chuva, tornando criadouros em potencial.

Preocupa – A falta de conscientização desses moradores preocupa quem procura manter sua casa livre dos focos do Aedes aegypti. É o caso da dona de casa Letícia do Carmo Ribeiro. Grávida de sete meses do terceiro filho, ela diz que acompanha as notícias sobre a epidemia de dengue na Capital e se preocupa com os casos de zika vírus em mulheres grávidas.

"Sei dos problemas de saúde que podem causar no bebê, por isso estou fazendo meu pré-natal cetinho no posto,mas fico com medo", relata. Mesmo sendo orientada pelo médico que o perigo maior ocorre nso primeiros meses da gestação, ela diz que procura manter sua casa limpa diariamente. "Não deixo água parada em nenhum recipiente", afirma.

O mesmo cuidado tem a dona de casa Denise Borges, que apoia a volta do mutirão no bairro. "Infelizmente, aqui tem muitas ruas sem asfalto e terrenos com mato alto, que também tem focos", diz.

Apesar de seu marido trabalhar em uma empresa de cimentos, ele também coleta material reciclável para ajudar na renda da família, mas Denise diz que toma todos os cuidados para que não acumule água nos recipientes. "Deixo tudo dentro de sacolas plásticas, numa área coberta", ressalta.

Mãe de Filipe, de cinco anos, ela teme pela saúde do menino, por isso, além de proteger o material reciclável, também recolhe o lixo diariamente do quintal, mesmo a coleta acontecendo em dias alternados em sua rua. "Deixo tudo bem fechado e coloco na rua no dia que o caminhão passa", diz.

Já na casa do morador Ernande da Silva Paciência, as agentes precisaram conversar e pedir a retirada de vários objetos que estavam jogados no terreno.

Ernande explicou que por não ter onde morar com os filhos, invadiu a casa acreditando que ela estava vazia, já que o mato tomava conta de todo o terreno, chegando a encobrir a construção. "O problema é que o dono apareceu e depois de muita conversa ele deixou eu ficar, mas não quis ajudar a limpar o terreno", explica.

A solução foi retirar os entulhos e o mato sozinho com o filho mais velho. "Ainda tem muita coisa para fazer, mas já limpei quase tudo", conta.

Ernande também trabalha com reciclados, por isso as agentes encontraram material armazenado de forma incorreta em sua casa, que foi retirado em sacolas plásticas.

O catador diz que conhece os perigos da dengue, chikungunya e zika vírus, tanto que resolveu passar pelo bairro oferecendo para limpar os terrenos em situação crítica. Dependendo do tamanho da área, ele tem faturado entre R$ 200,00 e R$ 400,00 por tereno.

"Antes da epidemia eu limpava uns dois terrenos por semana. Agora tenho oferta até de cinco trabalhos por dia", revela.

Grávida de sete meses, Letícia diz que mantém sua casa limpa diariamente. (Foto:Fernando Antunes)
Grávida de sete meses, Letícia diz que mantém sua casa limpa diariamente. (Foto:Fernando Antunes)
Terrenos com mato alto, cobrindo casas e obras é comum no bairro. (Foto:Fernando Antunes)
Terrenos com mato alto, cobrindo casas e obras é comum no bairro. (Foto:Fernando Antunes)

Conscientização - O mutirão no bairro está sendo encerrado nesta quarta-feira (20), porém o trabalho será ampliado para outros bairros que pertencem a região, como o Jardim Colorado, Parque do Sol e Dom Antônio Barbosa.

Ao todo, 100 agentes atuam em cada bairro, mas segundo as agentes de saúde que atuaram no mutirão do Lageado, ainda falta conscientização dos moradores sobre a necessidade de manter os quintais e terrenos limpos.

"Algumas casas que nós passamos apresentavam os mesmos problemas vistos na primeira vez que viemos aqui", destaca a agente Inês Ribeiro.

Quanto aos terrenos com lixo e mato, ela explica que notifica a prefeitura para que a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) localize o proprietário e exija a limpeza da área. A multa para quem comete esse tipo de infração pode chegar a R$ 8 mil.

Agentes de saúde recolhem latas e garrafas no terreno do catador Ernande Paciência. (Foto:Fernando Antunes)
Agentes de saúde recolhem latas e garrafas no terreno do catador Ernande Paciência. (Foto:Fernando Antunes)
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