Alerta de chuva forte preocupa favela em que morro ameaça desabar
Em favelas da Capital, moradores temem destelhamento e contam com ajuda para enfrentar mais dias chuvosos
Chuva significa preocupação com a roupa no varal, com ruas alagadas, com descargas elétricas que podem queimar eletroeletrônicos, mas nas favelas da Capital os medos são outros. Quem mora em barracos nem pode sair do lugar e teme até deslizamento de terra, que pode colocar vidas em risco. Sem condições de se preparar, os moradores só contam com ajuda para enfrentar fevereiro, mês que pode trazer chuvas de até 180 milímetros.
A previsão é do meteorologista da Uniderp (Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal), Natálio Abrão. A Defesa Civil já emitiu alerta de chuvas intensas para as próximas 24 horas, com risco de corte de energia elétrica, queda de galhos de árvores e alagamentos.
Na Favela do Mandela, os riscos são agravados por morro, que desmorona pouco a pouco a cada chuva. O problema é que os moradores não tem condições de sair dali.
Presidente da Associação dos Moradores, a diarista Greiciele Naiara Argilar Ferreira, de 27 anos, conta que os moradores vivem com medo, pois se a terra ceder de uma vez pode colocar vidas em risco.
“Durante as chuvas, temos muito receio porque a região é irregular e em alguns pontos têm morros que podem ceder. Não tem espaço para remover as famílias que ficam na encosta do morro. A cada chuva, desbarranca um pouco. As famílias não têm para onde ir. Contamos sempre com ajuda de voluntários que doam lonas e cobertor”, conta.
Cuidando de um filho de 15 anos com paralisia cerebral, a dona de casa Deuzélia dos Anjos Moia, de 36 anos, não tem condições de trabalhar, por isso mora em um barraco. Ao lado, a fossa ameaça desmoronar.
“Fico muito preocupada porque a cada chuva cai um pouco e pode atingir a cozinha. Vou ter que pedir ajuda para aterrar. O poder público não deu estimativa de quando poderemos sair daqui”, lamenta.
No Jardim Noroeste, o medo é o vento destelhar os barracos e a chuva invadir o único local que os moradores têm para se abrigar.
O aposentado Sebastião Neckel Paranhos, de 74 anos, não está ali por acaso. Ele conta que depois de se separar da esposa não teve outra alternativa. Deixou a casa de alvenaria, onde vivia há 10 anos no mesmo bairro, para morar no barraco de um cômodo com banheiro improvisado do lado de fora.
“Quando vai chover já vem a preocupação, porque os ventos levantam telhas e chove dentro. Já perdi uma televisão no temporal de outubro do ano passado, meu vizinho me deu outra. Se tiver chovendo para ir ao banheiro tem que segurar”, conta.
Perto dali, a dona de casa Sandra Antônia Mussiaro, de 67 anos, vive com o esposo de 61 anos e o filho de 38, que está desempregado, em uma casa em que metade é um barraco de madeira com cozinha e despensa e a outra metade é de alvenaria com dois quartos. Ali é uma antiga ocupação do Bairro Montevideo.
“A última tempestade que teve, destelhou tudo e a árvore caiu sobre a cerca e atingiu nosso telhado. Bombeiros vieram e cortaram a árvore por causa do risco”, lembra.
O sonho dela é simples, mas parece inatingível diante das condições da família. “Meu sonho é ter uma pecinha de alvenaria”, diz, fazendo referência a uma casa com condições básicas para se viver.