Chuva todo dia dificulta trabalho na Capital e obriga população a se preparar
Reportagem acompanhou rotina de campo-grandenses que têm dificuldades para trabalhar durante período chuvoso
Nesta manhã (2), uma casa é construída no Jardim das Mansões, em Campo Grande, e os pedreiros contratados pela construtora responsável relatam que o prazo de entrega poderá mudar e até gerar multa, caso as chuvas continuem nesta intensidade e de forma imprevisível.
Cristiano Rodrigues dos Santos, de 33 anos, nota que o período chuvoso se intensificou, na última semana, e quando há oportunidade, eles têm de acelerar o trabalho. Mesmo assim, a estimativa é que sejam necessários mais dois meses de obra.
Caso o prazo seja descumprido, eles serão penalizados 10% do valor do serviço. “A chuva nos últimos três dias tem sido muito forte. Todo dia de manhã damos uma olhada na previsão do tempo. Se está prevista para o período da tarde, a gente corre para adiantar o trabalho de manhã. Aí de tarde, a gente fica ali.”
A situação atrapalha também atrapalha outros serviços, como os de lavanderia. A pensionista Nelsa Tabordo Chamorro, de 77 anos, lava e passa roupa do lado de fora desde 1985, na casa onde vive, no Bairro Taveirópolis.
Ela tem uma área coberta onde coloca as roupas para secar, mas nem todas podem ser centrifugadas antes de serem estendidas. “Se você coloca ela no espaço de sombra, demora mais para secar”, explica.
Estou sempre cuidando, tem que cuidar quando vai ter as pancadas de chuvas. É um ‘tira e põe’ de roupa no varal", diz Nelsa.
Chuva todo dia - O meteorologista da Uniderp (Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal) Natálio Abrahão comenta que na primeira quinzena de fevereiro, haverá muita chuva no Centro-Norte e Leste do território sul-mato-grossense, principalmente na Capital, Três Lagoas, Água Clara, Inocência e Ribas do Rio Pardo.
De acordo com o Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima), o acumulado de chuvas, no mês passado, esteve abaixo da média. No entanto, houve uma abrupta intensificação do período chuvoso nos últimos dias de janeiro.
Segundo ele, em boa parte de janeiro, houve pouca chuva e a tendência é que a partir desta semana haja maior incidência. “Janeiro ficou abaixo da média, com reflexos no setor da agropecuária. Em fevereiro, será diferente, porque as chuvas que faltaram no mês anterior, provavelmente devem trazer volume mais próximo do esperado, para este mês, cerca de 180 milímetros.”
Dificuldade no trabalho - Nelsa depende do tempo firme para que determinadas peças, que não podem ser centrifugadas, sequem completamente. A preocupação dela é cumprir com os compromissos de alguns clientes que têm de buscar as roupas lavadas e passadas em tempo hábil. “Tenho clientes mensalistas e esporádicos. Faço o serviço para complementar renda, cobro R$ 300 de mensalistas ou R$ 50 por dúzia de roupas."
“Não jogo a culpa na chuva. A gente precisa do Sol, mas também precisa de chuva. Então, a gente tem que entender e se planejar.”
O pedreiro Edson Borghezan, de 51 anos, explica que colocou lonas sobre os materiais de construção, para que permaneçam secos. "Se não, encharca e tem que esperar secar para trabalhar”.
Ele comenta que dois diaristas são contratados com frequência, para auxiliar no trabalho, mas a chuva também atrapalha neste sentido. Um deles recebe R$ 120 por dia e o outro, ainda ajudante, ganha R$ 80 por período trabalhado. “Ontem mesmo, tivemos que parar às 15h. O diarista estando no trabalho, não tem como ser dispensado. Então, tem que pagar essa diária.”
Mudanças abruptas - No ano passado, quando tempestades de areias tomaram Mato Grosso do Sul, o Campo Grande News entrevistou o professor e pesquisador em Climatologia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Julio Cesar Gonçalves. À época, ele comentou que a localização geográfica do Estado favorece mudanças de clima com frequência.
No entanto, ele explicou que extremos climáticos têm surgido com uma maior frequência, ao longo das últimas décadas. Isso ocorre, de acordo com o cientista, em função dos efeitos do aquecimento global. Esse fenômeno acontece em todo o planeta, por conta do efeito estufa - quando os gases carbônicos, gerados pela queima de combustíveis fósseis e agropecuária, impedem com que o calor na Terra se dissipe.
Hoje, à reportagem, ele reforça que os fenômenos climáticos naturais têm se intensificado em Campo Grande e em todo Mato Grosso do Sul, o que provoca chuvas mais fortes e concentradas em menos dias, ao invés de estarem espalhadas ao longo do mês, o que reduziria estragos.
O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) colocou todos os municípios do Estado em situação de alerta, por conta das chuvas, com diferentes graus de perigo, conforme divulgado na página de alertas do órgão.
As recomendações são, em caso de rajadas de vento, não se abrigar debaixo de árvores, pois há risco de queda e descargas elétricas, além de evitar estacionar veículos próximos a torres de transmissão e placas de propaganda.
Outras informações podem ser obtidas via Defesa Civil, pelo telefone 199, ou pelo Corpo de Bombeiros Militar, no número 193.