Aluno de Direito procura a polícia com bilhete que diz ser de grupo nazista
Ameaças acontecem desde março e vítima decidiu procurar a polícia após ser perseguido na rua
Um aluno de 24 anos, do curso de Direito de universidade particular da Capital, relata estar sofrendo ameaças nazistas e perseguição desde março de 2022, tanto dentro da instituição de ensino quanto fora dela. Segundo apurado pela reportagem com a vítima, duas mensagens escritas em tom de ameaça, com a suástica nazista desenhada, foram encontradas pelo rapaz, sendo uma dentro da bolsa, durante aula na faculdade, e outra no portão da residência onde mora, em Campo Grande.
Conforme relato, o jovem estava em sala de aula quando encontrou um papel com a suástica nazista desenhada dentro da bolsa. No dia do ocorrido, ele diz que o único momento que esteve longe dos pertences foi para ir ao banheiro.
“Minutos depois, já na sala, ao abrir a bolsa para pegar materiais, encontrei o papel dobrado, mandei mensagem para um amigo, e então fomos na coordenação. Meu coordenador e reitoria me atenderam, disseram que investigaram pelas câmeras mas não encontraram ninguém”, relata.
A segunda ameaça foi deixada na casa do rapaz. Dessa vez, além do símbolo, também foi escrito a mensagem “cuidado alteza negra”. Na época, o estudante não registrou boletim de ocorrência, pois não conseguiu identificar quem fez a ameaça. "Não conseguimos identificar ninguém, então apenas aumentei os cuidados e avisei familiares”, explica.
Recentemente, o estudante relata ter sido perseguido por um carro de vidro escuro e há três dias homens estavam rondando a residência da vítima, segurando facas, segundo relato. Assustado, o rapaz decidiu chamar a polícia. “A polícia veio, ficou um tempo conversando comigo e minha avó, recomendou que mudássemos daqui, pois a região está complicada, mas não temos outro lugar para ir”.
A vítima decidiu procurar a polícia para denunciar o caso, após a repercussão de casos semelhantes na mídia. “Eu resolvi fazer B.O só agora, por causa dos eventos que ocorreram em outros lugares e pelas ameaças que tem sido noticiada em escolas e universidades. Eu tenho a crença de que pessoas que fazem parte de grupos extremistas existem em Campo Grande”.
Ainda na manhã desta terça-feira (18), um aluno do curso de Psicologia, que frequenta a mesma universidade que a vítima, foi retirado da sala de aula pela Polícia Militar, após supostas ameaças de atentado. A troca de mensagens com apologia à violência acontecia pelo WhatsApp. O acadêmico ficará suspenso enquanto durarem as investigações. A família do aluno também foi chamada para ser informada sobre o ocorrido.
Para a reportagem, a universidade informou que já está ciente sobre a situação que aconteceu no primeiro semestre de 2022. Ainda foi dito que na época o caso foi acompanhado pela coordenação do curso e não foi encontrado nenhum indício de irregularidade, assim dando encaminhamento interno necessário. A universidade afirma que estão atentos para que os acadêmicos se sintam seguros no ambiente universitário.
Rede de apoio - Na UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), o Núcleo Antifacista é um movimento estudantil pacífico de suporte à comunidade acadêmica que se sente desamparada. O movimento dentro da universidade surgiu de um conjunto de estudantes que partilhavam da necessidade da criação de um grupo que pudesse fazer o enfrentamento de forma pacífica.
“O grupo surgiu como uma resposta às ameaças que a gente vem sofrendo nesses últimos meses”, explica estudante da instituição. Sobre a extensão da rede de apoio a outras universidades, o movimento está se mobilizando para viabilizar o acolhimento.
O grupo atua de maneira independente e sem estrutura organizativa, ou seja, não conta com coordenação e direção. Os alunos promovem ações de apoio a toda comunidade que se sentir vulnerável diante de ameaças. As identidades foram preservadas para evitar perseguição e represálias.