Antes de ser morta pelo marido, médica recusou medida protetiva
Assassinada pelo marido com quem viveu por 32 anos, a médica Maria José de Pauli, de 60 anos, recusou, um dia antes do crime, medida protetiva. Na última sexta-feira, dia 10, ela foi à tarde na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) e relatou dificuldades para conseguir a separação.
Uma policial sugeriu que a médica pedisse medida judicial para se proteger do marido, o pecuarista José Mário Ferreira, de 58 anos. Contudo, a médica se recusou. Ao fim do atendimento, lhe foi entregue uma cartilha sobre a Lei Maria da Penha, que também foi recusada por Maria José. “Ela disse não, não é para tanto. Não acredito em algo mais grave”, relata a delegada Rosely Molina.
Entretanto, a delegada explica que até mesmo a medida poderia chegar tarde. Pois era fim de sexta-feira e há prazo de 48 horas para ser avaliada pela Justiça.
Durante o depoimento, a médica contou que há muito tempo descobriu que era traída pelo marido e queria, somente, a separação. No entanto, ele se recusava a sair de casa, o que provocava muitos atritos entre o casal. Maria José também relatou ofensas verbais diárias, como ser chamada de gorda, e diversas formas de humilhação. Porém, demorou a procurar a delegacia por medo e vergonha.
Do relato, foi registrado um BO (Boletim de Ocorrência) por crime de injúria, devido às ofensas verbais. Com o documento, a médica tinha prazo de seis meses para representar contra o autor. Segundo Rosely Molina, a policial que conversou com a médica ficou muito abalada e em pranto, ao saber que Maria José foi morta pelo marido na noite de sábado.
Na delegacia, ela foi orientada a pedir auxílio para as três filhas. E, de fato, uma das filhas passou todo o sábado na casa dos pais, no bairro Monte Líbano, em Campo Grande. Após matar a esposa, o pecuarista se suicidou. Ontem, ainda sob o impacto da tragédia, os vizinhos relataram que o dia do crime foi marcado por brigas.
“Eles sempre discutiam muito, mas ontem as brigas ocorreram o dia todo. Ontem, uma das três filhas passou o dia na casa, tentando apaziguar as discussões, porém ela foi embora no final da tarde e eles continuaram falando alto”, disse, no domingo, uma vizinha que mora há 30 anos na mesma rua e que preferiu não se identificar.
Urgência – As medidas protetivas podem determinar suspensão da posse ou restrição do porte de armas; afastamento do lar, domicílio ou local de convivência; fixação de limite mínimo de distância entre o agressor, a vítima e seus familiares; suspensão de visita a filhos menores de idade e pagamento de pensão alimentícia.