ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
OUTUBRO, TERÇA  15    CAMPO GRANDE 36º

Capital

Antigo centro cultural indígena, Oca virou depósito de carros e briga na Justiça

Palco de grandes celebrações de povos indígenas, agora abriga ferro-velho vizinho

Idaicy Solano | 28/07/2023 12:43
Carcaças de carros velhos e desmanchados estão armazenadas em terreno que um dia foi importante para a cultura nativa do Estado. (Foto: Idaicy Solano)
Carcaças de carros velhos e desmanchados estão armazenadas em terreno que um dia foi importante para a cultura nativa do Estado. (Foto: Idaicy Solano)

Terreno onde já existiu centro cultural indígena e guarda um pedaço da história do povo nativo na Capital de Mato Grosso do Sul hoje é preenchido por carcaças. Foi invadido por um ferro-velho. A propriedade está localizada na esquina das ruas Uruguaiana e Rogério Casal Caminha, no Bairro Coronel Antonino, e possui duas casas e um quintal extenso.

Já não existe nem vestígio da "Oca" que era palco de grandes celebrações indígenas entre 1996 a 2005. Acabou em incêndio, nunca investigado pela polícia, apesar da suspeita de o fogo ser criminoso, ato de intolerância.

A reportagem do Campo Grande News esteve no local após receber denúncias da vizinhança, que concordou em conversar com a equipe sob a condição de não serem identificados, pois temem represálias.

Da rua é possível ver no que o local se tornou, lotado de carros desmontados. (Foto: Idaicy Solano)
Da rua é possível ver no que o local se tornou, lotado de carros desmontados. (Foto: Idaicy Solano)

Conforme apurado pela reportagem no local, o proprietário é um aposentado de 75 anos, parente da antiga dona - de origem indígena - que deixou o imóvel para a família com o intuito de que se tornasse um centro cultural.

No local, foi observado que os carros, a maioria sem portas, para-choques e diversas outras peças, ficam amontoados, e com "linha" divisória entre o local invadido e a casa do idoso.

A situação preocupa os moradores, pois apesar de a grama ser aparada quinzenalmente e os responsáveis pelo ferro-velho não deixarem acumular lixo, as carcaças estão apodrecendo por conta do clima, e não há garantias de que não exista criadouro de mosquitos e outros bichos no meio das carcaças.

Uma mulher comentou com a reportagem que já tentaram fazer um abaixo-assinado para expulsar o ferro-velho do local, mas apesar de muitos concordarem que incomoda, não obteve sucesso nas assinaturas. "Só que ninguém assina".

Antiga Oca, que sobreviveu até 2005. (Foto: Arquivo Histórico)
Antiga Oca, que sobreviveu até 2005. (Foto: Arquivo Histórico)

Retomada - A reportagem apurou que já haveria ação de desapropriação, mas o dono do imóvel não foi localizado.

Durante muitos anos, o local foi sede do Centro Social de Cultura Nativa de Mato Grosso do Sul, onde aconteciam eventos culturais e profissionais em prol da população indígena. A "Oca" acabou destruída em incêndio e, posteriormente, se tornou moradia de membros da família da antiga proprietária e aos poucos foi abandonado.

O pedido de reintegração de posse foi protocolado em 2022, após os responsáveis pelo ferro-velho localizado no imóvel vizinho se apropriarem do espaço para instalar um desmanche de automóveis. O documento consta que foi feita tentativa amigável de reaver o terreno, mas as partes não entraram em acordo.

Décadas atrás, local funcionava como Centro de Cultura Nativa de Mato Grosso do Sul. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Décadas atrás, local funcionava como Centro de Cultura Nativa de Mato Grosso do Sul. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

História apagada - Pessoas ouvidas pela reportagem na região relembram que o terreno décadas atrás foi palco de grande celebrações e manifestações indígenas. Berço de uma rica cultura, hoje em dia se encontra abarrotada de ferragens, portas quebradas e veículos depredados expostos a céu aberto.

Em 2020, a reportagem do Campo Grande News entrevistou o guarani-kaiowá Sander Barbosa, que atuou como secretário no denominado Centro de Cultura Nativa de Mato Grosso do Sul.

Na ocasião, ele comentou que o local funcionava como abrigo para cursos profissionalizantes, confecção de cerâmica e demais artesanatos tradicionais dos terena, guarani-kaiowá e kadiwéu e também abrigava uma pequena biblioteca. Desta vez, ele não foi encontrado.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.

Nos siga no Google Notícias